quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

RECONHECE A TUA IMPOTÊNCIA

«Existem em ti lugares onde estás completamente impotente. Desejas tanto curar-te, lutar contra as tuas tentações e controlar-te. Mas não consegues fazê-lo sozinho. Sempre que tentas, ficas com menos coragem. Assim, deves reconhecer a tua impotência. Este é o primeiro passo dado pelos Alcoólicos Anónimos e o tratamento de todas as dependências. Talvez possas encarar o teu conflito deste modo. A tua necessidade inexaurível de afecto é uma dependência. Governa a tua vida e vitimiza-te.

Começa simplesmente por admitir que não te podes curar a ti mesmo. Precisas de admitir a tua impotência para que Deus te possa curar. Mas não se trata de facto de um problema de antes e depois. O teu desejo de reconhecer a tua impotência já engloba o início da rendição à acção de Deus em ti. Quando te sentes incapaz de detectar a presença curativa de Deus, o reconhecimento da tua impotência é demasiado assustador. É um salto sem rede.

A tua predisposição para te libertares do desejo de controlar a tua vida revela uma certa confiança. Quanto mais renuncias à tua obstinada necessidade de manter o poder tanto mais entrarás em contacto com Aquele que tem o poder de te curar e guiar. E quanto mais contactares com esse poder divino tanto mais fácil será confessar a ti próprio e aos outros a tua impotência básica.

Umas das maneiras de te apegares a um poder imaginário é esperar alguma coisa de gratificações externas e de acontecimentos futuros.Enquanto continuares a fugir de onde estás e te abstraíres a tua cura total não ocorrerá. Uma semente só floresce mantendo-se no terreno onde foi plantada. Quando se escava continuamente o local onde a semente foi colocada para verificar o seu crescimento ela nunca dará fruto.
Pensa em ti mesmo como uma pequena semente semeada em solo fértil. Tudo o que precisas fazer é manter-te aí e confiar que o solo contém tudo o que precisas para crescer, crescimento esse que ocorre mesmo quando não o sentes. Fica sossegado, reconhece a tua fragilidade e confia que um dia saberás quanto recebeste.»

Henri Nouwen, em "A Voz Íntima do Amor"

terça-feira, 17 de março de 2009

TORNAR-SE «O AMADO» (2ª parte)

«Tornar-se amado significa deixar que a verdade do «ser amado» incarne em tudo o que pensamos, dizemos ou fazemos.

Ora, isso comporta um longo e penoso processo de apropriação ou, melhor ainda, de incarnação. Enquanto o «ser amado» pouco mais for que um belo pensamento ou uma ideia sublime a pairar suspensa na minha vida e que se limita a evitar que eu caia na depressão, nada muda realmente. O que é necessário é tornar-me amado nos lugares comuns da minha existência diária e, pouco a pouco, colmatar o vazio que existe entre o que sei que sou e as inumeráveis realidades específicas da minha vida quotidiana. 

Tornar-se «amado» significa aplicar esta mesma realidade, que me é revelado do alto, à ordinariedade do que sou e, por conseguinte, do que penso, digo e faço hora a hora. (...)

Estou totalmente convencido de que a origem e a finalidade da nossa existência tem tudo a ver com a maneira como pensamos, falamos e actuamos na vida de todos os dias. 
Se a nossa mais profunda convicção for a de que somos «os amados» e se a nossa maior alegria e paz consistirem em reivindicar essa verdade, a consequência lógica é que isso tem que se tornar visível e palpável na forma como comemos e bebemos, falamos e amamos, nos distraímos e trabalhamos.

Quando as mais profundas correntes da nossa vida já não têm repercussão à superfície das ondas, então a nossa vitalidade acabará eventualmente por se esgotar e nós acabaremos por fraquejar e por nos aborrecermos, mesmo quando estamos ocupados.»

(Henri Nouwen, em "Viver é ser amado")

domingo, 15 de março de 2009

TORNAR-SE «O AMADO» (1ª parte)

«Caro amigo, o «ser amado» é a origem e a plenitude da vida do Espírito. Digo isto porque, logo que conseguimos algum vislumbre desta verdade, iniciamos uma viagem na procura da sua plenitude e não descansamos senão nessa mesma verdade. A partir do momento em que assumimos a verdade de que somos «amados», somos logos confrontados com uma chamada interior a tornarmo-nos naquilo que já somos.
Tornar-se «o amado»: é essa a viagem espiritual que temos a fazer.
As palavras de Agostinho: «A minha alma não descansa enquanto não repousar em Ti, ó Deus» caracteriza bem esta viagem.

O facto de estar sempre numa constante procura de Deus, sempre numa tensão contínua para descobrir a plenitude do Amor, sempre com o desejo ardente de chegar à verdade completa, diz-me que já me foi dado saborear alguma coisa de Deus, do Amor e da Verdade. E, com efeito, de alguma forma, só posso procurar alguma coisa quando já a tiver encontrado. Como poderia procurar a beleza e a verdade a não ser que essa mesma beleza e verdade já fossem conhecidas no mais profundo do meu coração? (...)

Na profundidade dos meandros da mente e do coração está escondido o tesouro que procuramos. Conhecemos o seu valor e sabemos que contém o dom que mais desejamos: uma vida mais forte do que a morte.»

(Henri Nouwen, em "Viver é ser amado")

quinta-feira, 12 de março de 2009

A ARMADILHA DA AUTO-REJEIÇÃO (2ª parte)

"A auto-rejeição é o pior inimigo da vida espiritual, porque contradiz a voz sagrada que nos chama pelo nome de «amados».
Ser amado exprime a verdade central da nossa existência. (...)

O que conta realmente é que somos os «amados». 
Fomos intimamente amados muito antes de os nossos pais, professores, cônjugues, filhos e amigos nos terem amado ou ofendido. Esta é a verdade da nossa vida. (...)

Sempre que escutares com atenção a voz que te chama «amado», descobrirás no mais íntimo de ti o desejo de tornar a ouvir essa voz ainda por mais tempo e com maior profundidade. É como descobrir uma fonte de água no deserto: logo que se encontra terra húmida, dá vontade de cavar ainda mais fundo.

Tenho vindo a «escavar» bastante nos últimos tempos e sei que ainda só comecei a ver correr um pequeno riacho que serpenteia pela areia árida. Mas há que continuar a escavar, porque esse pequeno riacho provém dum enorme reservatório sob o deserto da minha vida. A palavra «escavar» talvez não seja a melhor, pois sugere trabalho duro e penoso, mas sei que é uma operação que me leva finalmente ao lugar onde posso matar a sede.

O que é preciso é, talvez, remover a areia árida que cobre a fonte de água. Talvez haja uma quantidade bastante grande de areia árida na nossa vida, mas Aquele que tanto deseja matar-nos a sede, ajudar-nos-á a remover essa areia. O que precisamos é de um grande desejo de encontrar água e de beber."

(Henri Nouwen, em "Viver é ser amado")

terça-feira, 10 de março de 2009

A ARMADILHA DA AUTO-REJEIÇÃO (1ª parte)

Quando todo o povo fora batizado, tendo sido Jesus também batizado, e estando ele a orar, o céu se abriu; e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea, como uma pomba; e ouviu-se do céu esta voz: Tu és o meu Filho amado; em ti me comprazo.» (Lucas 3, 21-22)

"As palavras «Tu és o meu amado» revelam a mais profunda verdade sobre todos os seres humanos, pertençam ou não a uma determinada tradição particular.

«Tu és o meu amado, em Ti pus a minha complacência». Claro que não é fácil ouvir essa voz num mundo cheio de vozes que gritam: «Tu não és bom, és feio, não vales nada, és desprezível, não és ninguém... a não ser que consigas demonstrar o contrário».
Estas vozes negativas são tão fortes e persistentes que é fácil acabarmos por acreditar nelas. É essa a grande armadilha. É a armadilha da auto-rejeição.
Com os anos, cheguei à conclusão de que a maior cilada da nossa vida não é o sucesso, a popularidade ou o poder, mas aauto-rejeição.

O sucesso, a popularidade e o poder são, como é evidente, uma grande tentação, mas a sua força de sedução deriva frequentemente da forma como tudo isso faz parte duma maior tentação, que é a auto-rejeição. Se acreditarmos nestas vozes, que nos tratam como gente que não vale nada e que é indigna de amor, então sim, o sucesso, a popularidade e o poder são facilmente percebidos como solução alternativa e atraente. Mas a verdadeira cilada é a auto-rejeição.»

(Henri Nouwen, em "Viver é ser amado")

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

ENCONTRAR A ALEGRIA (2ª PARTE)

«Pode parecer estranho dizer que a alegria é o resultado das nossas escolhas. Com frequência imaginamos que algumas pessoas têm mais sorte do que outras e que a sua alegria ou tristeza dependem das circunstâncias da sua vida - sobre a qual não têm controlo.
No entanto, temos uma hipótese de escolha, não tanto em relação às circunstâncias da nossa vida, quanto em relação à maneira como reagimos a essas circunstâncias. (...)

É importante darmo-nos conta de que em cada momento da nossa vida temos a oportunidade de escolher a alegria. A vida tem muitas facetas. Há sempre facetas tristes e alegres na realidade que vivemos. E, por isso, temos sempre a possibilidade de viver o momento presente, como causa de ressentimento ou como causa de alegria. É na escolha que reside a nossa verdadeira liberdade. E esta liberdade, em última análise, é a liberdade de amar. 

É capaz de ser uma boa ideia perguntarmos a nós mesmos como é que desenvolvemos a nossa capacidade de optar pela alegria. Talvez possamos reservar alguns momentos no final do nosso dia, para ver como é que o passámos - seja o que for que tenha acontecido - e agradecer a oportunidade de o ter vivido. Se assim o fizermos, aumentaremos a capacidade do nosso coração para optar pela alegria. E, ao construirmos um coração mais alegre, tornar-nos-emos, sem nenhum esforço extraordinário, fonte de alegria para os outros. Assim como a tristeza origina tristeza, assim a alegria origina alegria.» - Henri Nouwen, em "Aqui e Agora"

terça-feira, 7 de outubro de 2008

ENCONTRAR A ALEGRIA

«Jesus revela-nos o amor de Deus para que a sua alegria seja a nossa e para que a nossa alegria seja completa. A alegria é a experiência de saber que somos amados incondicionalmente e que nada - doenças, falhanços, quebras emocionais, opressão, guerras ou mesmo a morte - pode privar-nos desse amor.(...)

É frequente descobrirmos a alegria no meio da tristeza. Eu recordo os tempos mais tristes da minha vida como sendo oportunidades em que tomei maior consciência de alguma realidade espiritual muito maior que eu próprio, uma realidade que me permitiu viver a dor com esperança. Atrevo-me mesmo a dizer: «A minha angústia foi precisamente o lugar onde encontrei a alegria». Seja como for, nada acontece automaticamente na vida espiritual. A alegria não é algo que acontece assim sem mais nem menos. Temos de escolher a alegria e continuar a escolhê-la todos os dias. É uma escolha baseada no conhecimento de que encontramos em Deus o nosso refúgio e segurança e de que nada, nem sequer a morte, nos pode separar de Deus.» - Henri Nouwen, em "Aqui e Agora"

domingo, 21 de setembro de 2008

HENRI NOUWEN


Henri Nouwen (24 de Janeiro de 1932 - 21 de Setembro de1996)


Passam hoje 12 anos sobre a morte de Henri Nouwen. Recentemente, tive o privilégio de ler uma biografia dele: "O Profeta Ferido - Um retrato de Henri J. M. Nouwen" - Michael Ford.

Fiquei a conhecer um pouco melhor um dos meus autores espirituais predilectos. Os livros de Henri Nouwen são para mim um tesouro espiritual inestimável, que costumo partilhar convosco através de algumas passagens e alguns trechos seleccionados dos livros que vou lendo.

Hoje, escolhi algumas passagens da biografia que li recentemente; mais concretamente passagens alusivas ao aniversário da sua morte.

No seu elogio fúnebre, Jean Vanier, disse:


"Por vezes, eu senti em Henri o coração ferido de Cristo, a angústia de Cristo. De facto, Deus não é um Deus seguro, lá no céu, que diz a toda a gente o que deve fazer, mas um Deus angustiado e sedento de amor; um Deus que não é compreendido, um Deus que tem sido rotulado pelas pessoas. O nosso Deus é um amante, um amante ferido. É este o mistério de Cristo, o amante ferido. E Henri também o é - esteja ele onde estiver - um amante ferido, sedento de amor, sedento de anunciar o amor.(...)
Muitas pessoas hão-de chorar porque havia qualquer coisa de profético em Henri. Ele aceitava a dor, optava por caminhar através da dor, pois é esse o caminho de todos nós. Escolher a cruz, caminhar através da cruz, pois nunca descobriremos a ressurreição, a menos que caminhemos através da cruz, a menos que, algures, nos deixemos despojar."

Sue Mosteller prestou-lhe a seguinte homenagem:


«Basta-nos olhar à nossa volta, nesta igreja, para ver como ele estendeu pontes entre nós, estabelecendo a união: ricos e pobres (...), de ambientes, culturas e confissões religiosas diferentes. Henri congregou-nos a todos. Cada um de nós o conheceu e o escutou, e todos dissemos: «É bom. Dá-nos mais.» Lemos os seus livros e dissemos: «É bom, dá-nos mais.» Agora ele deixou-nos e chegou a hora de assumirmos a responsabilidade da espiritualidade que nos legou.(...) Henri foi enviado a transmitir-nos: não tenhais medo da vossa dor, optai por amar quando as relações são difíceis, optai por acreditar quando a esperança fraqueja, ajudai-vos uns aos outros, ultrapassai os sentimentos de amargura e ressentimento para entrar em união uns com os outros, perdoai-vos uns aos outros do fundo do coração, porque Deus está perto e chama «Amado» a cada um de nós. Esta chamada a sair da nossa adolescência espiritual é o legado de Henri.»
(Michael Ford in "O Profeta Ferido - um retrato de Henri J. M. Nouwen")

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Sê testemunha incondicional

"A boa notícia passa a má notícia quando é anunciada sem paz e alegria. Qualquer um que proclama o Perdão e o Amor curativo de Jesus com um coração amargo e ressentido dá um falso testemunho. Jesus é o salvador do mundo. Nós não somos.

Nós somos chamados a testemunhar, sempre com as nossas vidas e, por vezes, com as nossas palavras, as grandes coisas que Deus fez por nós. Mas esse testemunho deve ser proveniente de um coração que está disposto a dar sem receber nada em troca. Quanto mais confiarmos no amor incondicional de Deus por nós, tanto mais nos sentiremos capazes de proclamar o Amor de Jesus sem quaisquer condições internas ou externas." (Henri Nouwen)

Nota: este texto é uma tradução pessoal do original em Inglês a partir de pequenas meditações diárias de Henri Nouwen que me são enviadas pelo site:http://www.henrinouwen.org/

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Sinais visíveis do Amor de Deus

"Toda a vida de Jesus foi um testemunho do amor de seu Pai, e Jesus convida os seus seguidores a praticar esse testemunho em seu nome. Nós, os seguidores de Jesus, somos enviados a este mundo para sermos sinais visíveis do amor incondicional de Deus.

Assim, nós não somos em primeiro lugar julgados por aquilo que dizemos, mas por aquilo que nós vivemos. Quando as pessoas dizem de nós: "Veja como eles se amam uns aos outros", elas captam um vislumbre do Reino de Deus que Jesus anunciou e são atraídos para ele como por um íman.

Num mundo tão dilacerado pela rivalidade, raiva e ódio, temos a vocação privilegiada de podermos ser sinais visíveis dum Amor que pode colmatar todas as divisões e curar todas as feridas." (Henri Nouwen)


Nota: este texto é uma tradução pessoal do original em Inglês a partir de pequenas meditações diárias de Henri Nouwen, que me são enviadas pelo site:http://www.henrinouwen.org/

domingo, 17 de agosto de 2008

Ardentes de Amor

«Muitas vezes, nós estamos preocupados com a pergunta: "Como podemos ser testemunhas em nome de Jesus? O que é suposto dizer ou fazer para que as pessoas aceitem o amor que Deus lhes oferece?" 

Estas perguntas são mais expressões do nosso receio do que do nosso amor. Jesus mostra-nos o caminho para sermos testemunhas. Ele estava tão cheio do amor de Deus, tão ligado com a vontade de Deus, tão ardente de zelo para com o Reino de Deus, que Ele não poderia fazer outra coisa senão testemunhar esse Amor. Onde quer que Ele passou e quem quer que Ele tenha conhecido, um Poder emanou dele e curou todos que o tocaram.(Vê: Lucas 6, 19).
Se queremos ser testemunhas como Jesus, nossa única preocupação deve ser a de sermos testemunhas vivas e comprometidas com o amor de Deus como Jesus foi.» (Henri Nouwen)

Nota: este texto é uma tradução pessoal do original em Inglês a partir de pequenas meditações diárias de Henri Nouwen que me são enviadas pelo site:http://www.henrinouwen.org/

sexta-feira, 18 de julho de 2008

Comunhão


«Comunhão é o que Deus quer e também aquilo que nós queremos. É o grito mais profundo de Deus e do nosso coração, porque nós fomos criados com um coração que só se poderá satisfazer por Aquele que o criou. Deus imprimiu no nosso coração um anseio por comunhão que só Deus pode, e quer, satisfazer. Deus sabe-o; nós, raramente o sabemos.
Deus deseja a comunhão: uma unidade que é vital e que está viva, uma intimidade que provém de ambos os lados, uma ligação que seja verdadeiramente mútua.
Nada forçado ou «obrigado», mas uma comunhão livremente oferecida e recebida. Deus faz tudo o que está ao seu alcance para tornar possível essa comunhão. Deus faz-se criança dependente dos cuidados humanos, faz-se rapaz necessitado de orientação, faz-se mestre em busca de discípulos, faz-se profeta que clama por seguidores, finalmente, faz-se morto trespassado pela lança de um soldado e metido num sepulcro.

No fim desta história, está de pé e fita-nos, perguntando-nos com um olhar cheio de terna expectativa. «Tu amas-me?», e mais uma vez, «Tu amas-me?» e ainda uma terceira vez, «Tu amas-me?» (Henri Nouwen, em "Não nos ardia o coração?")

terça-feira, 15 de julho de 2008

Deus clama e anseia por ti




«Jesus é Deus-para-nós, Deus-connosco, Deus-dentro-de-nós.Jesus é Deus a dar-se completamente, a derramar-se sem reservas para nós. Jesus não se retrai nem fica agarrado àquilo que lhe pertence. Ele dá tudo o que tem para dar. "Comei, bebei, isto é o meu corpo, isto é o meu sangue...isto sou Eu para vós!"

A palavra que melhor exprime o mistério do amor de autodoação total de Deus é «comunhão». É a palavra que contém a verdade de que, em Jesus e através de Jesus, Deus quer, não só ensinar-nos, instruir-nos ou inspirar-nos, mas fazer-se um connosco. Deus deseja unir-se plenamente a nós de tal modo que todo o ser de Deus e todo o nosso ser possam unir-se num amor perdurável. Toda a longa história da relação de Deus com os seres humanos é uma história de comunhão cada vez mais profunda... é uma história em que Deus procura caminhos sempre novos para entrar em íntima comunhão com os que foram criados à imagem divina.
Dizia Agostinho: «A minha alma anda inquieta enquanto não repousar em vós, Senhor.» Ao examinar, porém, a tortuosa história da nossa salvação, apercebo-me que não somos só nós que ansiamos por pertencer a Deus: Deus também está ansioso por nos pertencer a nós. É como se Deus estivesse a clamar: «O meu coração anda inquieto enquanto eu não puder repousar em vós, minhas criaturas bem-amadas.»

Deus clama, pedindo para ser recebido por aqueles que lhe pertencem: «Eu criei-te, dei-te todo o meu amor, guiei-te, ofereci-te o meu apoio, prometi-te que se realizariam todos os anseios do teu coração: onde estás, qual é a tua resposta, onde está o teu amor? Eu não vou desistir, vou continuar a insistir. Um dia descobrirás como eu anseio pelo teu amor!» (Henri Nouwen, em "Não nos ardia o coração?"

domingo, 13 de julho de 2008

Convidar e acolher Jesus


«Quando se aproximaram da aldeia para onde iam, fez menção de seguir para diante. Eles, porém, insistiam com Ele, dizendo: Fica connosco; porque é tarde, e já declinou o dia. E entrou para ficar com eles.» (Lc 24, 28-29)

«Estamos mais inclinados a pensar que é Jesus quem nos convida a partilhar a sua casa, a sua mesa, a sua refeição. Jesus, porém, quer ser convidado. Se não o for, prosseguirá viagem, em busca de outros lugares. É muito importante percebermos que Jesus nunca nos força a aceitar a sua presença. A menos que nós o convidemos, continuará a ser um estranho, possivelmente um estranho muito atraente e inteligente, com quem podemos ter entabulado um diálogo interessante, mas que não deixa de ser um estranho...
Sem um convite, que é expressão do desejo de uma relação perdurável, a boa notícia que ouvimos não poderá dar frutos duradouros...
Só mediante um convite a «fica comigo» um encontro interessante se pode transformar numa relação transformadora.

Jesus é uma pessoa muito interessante; as suas palavras são cheias de sabedoria. A Sua presença aquece o coração. A sua bondade e doçura tocam-nos profundamente. A Sua mensagem constitui um forte desafio. Mas será que nós O convidamos para nossa casa? Porventura queremos que Ele venha conhecer-nos entre as paredes da nossa vida mais íntima? Porventura queremos apresentá-Lo a todas as pessoas com quem vivemos? Porventura queremos que Ele nos veja na nossa vida quotidiana? Queremos que Ele nos toque nos pontos em que somos mais vulneráveis? Porventura queremos que Ele entre na arrecadação de nossa casa, nessas divisões que nós próprios preferimos manter seguramente fechadas à chave? Desejamos verdadeiramente que Ele fique connosco quando vai caindo a noite e o dia já está no ocaso?» (Henri Nouwen, em "Não nos ardia o coração?")

quinta-feira, 10 de julho de 2008

O Poder da Palavra Divina



«...E disseram um para o outro: Porventura não nos ardia o coração, quando pelo caminho nos falava, e quando nos explicava as Escrituras?» (Lc 24:32). Leiam: Lucas 24:13-35

«Nós não podemos viver sem palavras provenientes de Deus, palavras capazes de nos arrancar da nossa tristeza e de nos elevar até um lugar a partir do qual possamos descobrir aquilo que estamos verdadeiramente a viver.
É importante saber que, embora essas palavras, proclamadas ou faladas, sirvam para nos informar, instruir ou inspirar, o seu primeiro significado é que elas tornam o próprio Jesus presente para nós.
Quando Jesus falou aos dois infelizes caminhantes e lhes explicou as palavras das escrituras que a Ele se referiam, os seus corações começaram a arder, ou seja, eles experimentaram a presença do Senhor. Ao falar da sua Pessoa, Jesus tornou-se presente para eles.

A palavra cria aquilo que exprime... Para Deus, falar é criar.Quando dizemos que a Palavra de Deus é sagrada, queremos dizer que a Palavra de Deus está cheia da presença de Deus. No caminho de Emaús, Jesus tornou-se presente através da Sua palavra, e foi essa presença que transformou a tristeza em alegria e o luto em dança...

A palavra proclamada ou falada pretende conduzir-nos à presença de Deus e transformar o nosso coração e a nossa mente...
O poder total da palavra reside, não na forma como a aplicamos à nossa vida depois de a termos ouvido, mas no seu poder transformador que faz o seu trabalho divino enquanto a escutamos.» - (Henri Nouwen, em "Não nos ardia o coração?")

quinta-feira, 26 de junho de 2008

«EU AMO-TE, AMO-TE, AMO-TE...»

Jesus veio para abrir os meus ouvidos à voz que diz:

«Eu sou o teu Deus, moldei-te com as minhas mãos e amo o que fiz.
Amo-te com um amor sem limites, porque te amo como sou amado.
Não fujas de mim. Volta para mim - não apenas uma, duas vezes, mas uma e outra vez.
És meu filho.
Como podes duvidar de que voltarei a abraçar-te,
de que te apertarei contra o meu peito, te beijarei e afagarei o teu cabelo?
Eu sou o teu Deus do perdão e do amor, o Deus da ternura e do carinho.
Por favor não digas que Eu desisti de ti, que já não te suporto, que não há caminho de regresso.
Não é verdade. Desejo tanto que te aproximes de mim.
Conheço todos os teus pensamentos.
Escuto todas as tuas palavras e vejo todos os teus actos.
E gosto de ti porque és belo,
feito à minha imagem, uma expressão do meu amor mais íntimo.
Não te julgues a ti próprio. Não te condenes. Não te rejeites.
Deixa o meu amor tocar os cantos mais profundos e recônditos do teu coração
e revelar-te a tua própria beleza que perdeste de vista,
mas que voltará a ficar visível à luz da minha misericórdia.
Vem, vem deixa-me limpar as tuas lágrimas
e deixa que a minha boca se aproxime do teu ouvido e te diga:
"Eu amo-te, amo-te, amo-te".»


(Henri Nouwen, em "A Caminho de Daybreak")

terça-feira, 17 de junho de 2008

Pessoas e coisas pequenas

«Estar em L´Arche ajuda a compreender o Evangelho de modo diferente. Hoje lemos a multiplicação dos pães. "Erguendo o olhar e reparando que uma grande multidão viera ter com Ele, Jesus disse então a Filipe: "Onde havemos de comprar pão para esta gente comer?"... Disse-lhe um dos seus discípulos, André, irmão de Simão Pedro: "Há aqui um rapazito que tem cinco pães de cevada e dois peixes. Mas que é isso para tanta gente?" (João 6, 5-9).
Para Jesus as ofertas singelas dum rapaz insignificante foram suficientes para alimentar todos os que lá estavam e ainda se encheram doze cestos com restos.


Esta é mais uma narrativa sobre o valor das pessoas insignificantes e das coisas pequenas. O mundo gosta de coisas grandes, impressionantes e complicadas. Deus escolhe as pequeninas coisas em que o Mundo nem repara...

Ao distribuir as ofertas simples das pessoas insignificantes revela-se a generosidade de Deus. Há suficiente, mesmo em abundância para todos - há muitos restos. Aqui torna-se visível um grande mistério. O pouco que damos multiplica-se. É assim que Deus age. É também assim que somos chamados a viver as nossas vidas. O pouco amor que temos, o pouco conhecimento que desfrutamos, o fraco conselho que podemos dar, os parcos haveres que possuímos, são-nos dados por Deus como presentes para serem distribuídos, Quanto mais damos, mais descobrimos que temos para dar. Os pequenos dons de Deus multiplicam-se todos na oferta." - (Henri Nouwen, em "A Caminho de Daybreak")

domingo, 15 de junho de 2008

FOME E SEDE DE DEUS

No seu diário espiritual, "A Caminho de Daybreak", Henri Nouwen, conta um episódio extremamente interessante e surpreendente (pelo menos para mim).

Durante um encontro com políticos eminentes em Washington (Estados Unidos), Henri Nouwen teve oportunidade de falar essencialmente sobre Jesus e o Evangelho, e não sobre política.

Sobre esse encontro ele escreveu: "O que mais me impressionou foi a ânsia demonstrada por todos os que hoje encontrei de ouvir falar da presença de Deus neste mundo. Parecia que nunca se cansavam de me ouvir. Durante as duas horas que durou o meu almoço com o Senador Hatfield e os seus colaboradores, nunca se falou de política. Toda a nossa atenção foi absorvida por questões relacionadas com o Novo Testamento, com uma vivência frutífera, com o desenvolvimento de relações significativas, como a oração, a obediência e lealdade. 
Enquanto conversávamos, fui-me apercebendo de que estávamos, na verdade, a aproximar-nos mais dos verdadeiros problemas do mundo do que teria sucedido num debate acerca da política corrente.

A certa altura perguntei ao Senador Hatfield:

- Como é que eu posso ser útil ao Senado dos Estados Unidos?

Venha falar-nos do perdão, da reconciliação e da maneira de vivermos em paz uns com os outros. Há tanta amargura e ressentimento, existe tanta inveja e rancor na vida dos políticos, tanto no trabalho como em casa, que qualquer palavra de conforto será recebida de mãos abertas.

Mais tarde, Douge Coe pediu-me que digirisse um retiro para vinte membros da Organização dos Jovens Presidentes. Perguntei-lhe:

Quem são os jovens presidentes?

- São pessoas, na sua maioria homens, que ganharam mais de um milhão de dólares antes dos trinta anos, que dirigem uma companhia com o mínimo de cinquenta trabalhadores e possuem influência significativa.

Qual é a finalidade do retiro?

- Eles desejam profundamente conhecer Jesus.Irão a qualquer ponto do mundo, no dia que quiser, só para ouvir falar de Jesus.


É preciso dizer mais alguma coisa? Porque é que eu tenho que desejar mais do que Jesus, se todas as pessoas que encontro me pedem para o proclamar?» -(Henri Nouwen, em "A Caminho de Daybreak")

quinta-feira, 12 de junho de 2008

A POBREZA DOS RICOS

«O Murray é banqueiro em Nova Iorque e conhece pessoalmente inúmeras pessoas de quem eu só ouvi falar na televisão ou nos jornais. Leu muitos dos meus livros e acha que o seu mundo precisa tanto da Palavra de Deus como o meu. Foi uma experiência de grande humildade ouvir um homem que conhece «este mundo e o outro» dizer:

Dê-nos uma palavra de Deus, fale-nos de Jesus... não se afaste dos ricos que são tão pobres.

Jesus ama os pobres - mas a pobreza reveste-se de muitas formas. Esqueço-me desse facto com imensa facilidade, deixando os poderosos, os famosos e os bem sucedidos na vida, sem o alimento espiritual de que carecem. Mas, para oferecer esse alimento, tenho que ser eu próprio muito pobre - não curioso, não ambicioso, não pretencioso, não orgulhoso. É tão difícil deixarmo-nos deslumbrar pelo brilho mundano, seduzidos pelo seu aparente esplendor. E, contudo, o único lugar onde devo estar é o da pobreza, o ponto onde há solidão, raiva, confusão, depressão e sofrimento. Preciso de lá ir em nome de Jesus, mantendo-me junto do seu nome e oferecendo o seu amor.

Ó Senhor, ajuda-me a não me deixar dispersar pelo poder e pela riqueza;
ajuda-me a não me deixar impressionar com as estrelas e heróis deste mundo.
Abre os meus olhos aos corações sofredores do teu povo,
sejam quem forem,
e põe na minha boca a Palavra curativa e consoladora.
Ámen.»

(Henri Nouwen, em "A Caminho de Daybreak")

domingo, 8 de junho de 2008

Glória humana vs Glória Divina

«A glória humana é consequência de se ser considerado melhor, mais rápido, mais bonito, mais poderoso ou mais bem sucedido do que os outros. A glória conferida pelas pessoas é uma glória que dimana das comparações favoráveis com outras pessoas. Quanto mais alta for a nossa cotação no quadro indicador dos resultados da vida, tanto maior será a glória recebida. A glória tem um curso ascendente

Mas, como é a glória de Deus? Como podemos vê-la e recebê-la?

«No seu Evangelho João mostra que Deus escolhe revelar-nos a sua glória na sua humilhação.
Esta é a boa, mas também perturbante novidade. Deus, na sua infinita sabedoria, escolheu revelar-nos a sua divindade não através da competição, mas sim da compaixão, ou seja, sofrendo connosco. Deus preferiu o caminho domovimento descendente.
Sempre que Jesus fala de ser glorificado e dar glória refere-se sempre à sua humilhação e à sua morte. É através do caminho da Cruz que Jesus dá glória a Deus, recebe glória de Deus e nos dá a conhecer a glória divina. A glória da ressurreição nunca pode ser separada da glória da cruz. O Senhor ressuscitado mostra-nos sempre as suas feridas.

As pessoas procuram a glória subindo. Deus revela a sua glória descendo. Se queremos ver a verdadeira glória de Deus temos que descer com Jesus...» - Henri Nouwen, em "A Caminho de Daybreak"

Nenhum comentário: