segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Rosto humano de Deus - Dom Genival Saraiva
terça: 02 de outubro de 2007

O Papa João Paulo II convocou a Igreja dos cinco Continentes para reunir-se em Sínodo, a partir de sua respectiva história e prática religiosa, em vista de sua missão, na perspectiva do Jubileu do Ano 2000. Sínodo: “Trata-se de uma prática bastante comum na Igreja, em determinadas épocas. Um sínodo reunia representantes de dioceses de um mesmo país ou de uma região, conforme as necessidades. Essa prática, que caiu em desuso com o tempo, foi retomada pelo Concílio Vaticano II, com um grande sonho: fazer a passagem de um modo centralizado de exercício do poder na Igreja para outro, mais participativo. Paulo VI queria que as grandes decisões da Igreja não fossem tomadas exclusivamente pelo papa, e sim em conjunto com bispos de todo o mundo”. Dessa maneira, há dez anos, realizou-se, em Roma, no período de 16 de novembro a 12 de dezembro de 1997, o Sínodo continental da América, com este tema: “Encontro com Jesus Cristo vivo, caminho para a conversão, a comunhão e a solidariedade na América”.

Jesus Cristo, rosto humano de Deus e rosto divino do homem”. Essa bela e profunda expressão da Cristologia se encontra na Exortação Apostólica Pós-Sinodal “Ecclesia in América”, promulgada pelo Papa João Paulo II, no dia 22 de janeiro de 1999, assumindo as proposições dos “padres sinodais”. Escreve o Papa: “Jesus Cristo é a ‘boa nova’ da salvação comunicada aos homens de ontem, de hoje e de sempre; mas, ao mesmo tempo, Ele é também o primeiro e supremo evangelizador. (...) A Igreja deve colocar o centro da sua atenção pastoral e da sua ação evangelizadora em Cristo crucificado e ressuscitado. ‘Tudo o que se projeta no campo eclesial deve partir de Cristo e do seu Evangelho’. (...) Por isso, ‘a Igreja na América deve falar cada vez mais de Jesus Cristo, rosto humano de Deus e rosto divino do homem. É este anúncio que verdadeiramente mexe com os homens, que desperta e transforma os ânimos, ou seja, que converte. É preciso anunciar Cristo com alegria e fortaleza, mas sobretudo com o testemunho da própria vida’. Cada cristão poderá cumprir eficazmente a sua missão, na medida em que assumir a vida do Filho de Deus feito homem como o modelo perfeito da sua ação evangelizadora. A simplicidade do seu estilo e as suas opções devem ser regras para todos na obra da evangelização.”

Rosto humano de Deus: ao assumir a condição humana, Jesus Cristo não deixou de ser Deus. É o mistério da kénosis, como escreve São Paulo na Carta aos Filipenses: “Ele existindo em forma divina, não se apegou ao ser igual a Deus, mas despojou-se, assumindo a forma de escravo e tornando-se semelhante ao ser humano, humilhou-se, fazendo-se obediente até a morte – e morte de cruz!” (Fl 2,6-8) Kénosis significa “Esvaziamento, aniquilamento, despojamento de Cristo na Encarnação.” À luz da Cristologia paulina, é possível fazer o “exame da vida humana de Jesus Cristo.” “O Filho permanece Deus, mas despojou-se de sua glória. (…) Cristo feito homem despojou-se não da natureza divina, mas da glória que tinha, na eterna existência.”

A humanidade de Cristo se revelou nas linguagens que cada um conhece, como experiência pessoal: desenvolvimento físico e psicológico, empatia no sofrimento e na alegria, poder, fraqueza, família, convivência, trabalho e tantas outras porque, segundo a Carta aos Hebreus, “ele mesmo foi provado em tudo, à nossa semelhança, sem todavia pecar.” (Hb 4,15) Por sua humanização, Jesus se tornou histórico, passando a habitar na tenda da provisoriedade, com todas as características daquilo que é terrestre e temporal. Em razão de sua kénosis, Jesus Cristo, rosto humano de Deus, continua muito próximo de nós!

*Dom Genival Saraiva é bispo de palmares - PE