Vida e obra de Santos e Santas

                                         Santo Agostinho (354-430)

O cristianismo estava consolidado nessa época: embora tivesse apenas quatrocentos anos, era considerado a verdade irrefutável. Apesar disso, Santo Agostinho, que nasceu no norte da África, numa cidade chamada Tagaste, nem sempre foi cristão. Fez os primeiros estudos na cidade natal e, com a ajuda de um amigo, foi para Cartago, aos dezesseis anos, completar os estudos superiores. Não foi um bom aluno. Na juventude, detestava estudar grego. Interessou-se por filosofia ao ler uma obra de Cícero. Quando criança era cristão, mas depois passou por outras religiões, como a dos maniqueus, que formavam uma seita e dividiam o mundo entre o bem e o mal, trevas e luz, espírito e matéria. Acreditavam que com o seu espírito, o homem pode transcender a matéria. O maniqueísmo contém uma visão dualista radical, bem e mal são tomados como princípios absolutos. Posteriormente, Agostinho combateu essa doutrina, que foi criada por Manes. De início ele recusava a ler a Bíblia, por considerá-la vulgar. Teve um caso de amor, envolto em paixões mundanas, e nasceu um filho, que falecido ainda adolescente. 
          Com vinte anos, perdeu o pai e ficou sendo o responsável pelo sustento de duas famílias. Foi professor de retórica em Cartago, mas depois mudou-se para Roma. Sua mãe foi contra a mudança e Agostinho teve de enganá-la na hora da viagem. De Roma foi para Milão, lecionar retórica. Muito influenciado pelos estóicos, por Platão e o neoplatonismo, também estava entre os adeptos do ceticismo. Abandonou o maniqueísmo, que critica. Converteu-se então à fé cristã, depois de conhecer a palavra do apóstolo Paulo, e batizou-se aos trinta e dois anos de idade. Desistiu do cargo de professor e voltou a Tagaste, onde fundou uma comunidade monástica, disposto a fundamentar racionalmente a fé, como foi comum na Idade Média. Mostrou que, sem a fé, a razão não é capaz de levar à felicidade. A razão, para Agostinho serve de auxiliar a fé, esclarecendo e tornando inteligível aquilo que intuímos. Ele tinha tomado contato com o pensamento neoplatônico onde a natureza humana contém parte da essência divina. Demonstrou que há limites para a racionalidade. Receberemos um saber que está além do natural. Com o cristianismo, uma luz inundou seu coração, sua alma encontrou a paz. Virou vigário aos trinta e seis anos, praticando a vida ascética.
Santo Agostinho escreveu Contra os Acadêmicos, direcionado à filosofia cética e expôs a teoria de que os sentidos dizem algo verdadeiro. O erro provém do juízo que fazemos das sensações, e não delas próprias. A sensação não é falsa, o que é falso é querer ver nelas uma verdade externa ao próprio sujeito. Virou Bispo de Hipona. Agostinho ficou conhecido por “cristianizar” Platão, fazendo vários paralelos entre a parte espiritualista dele (que diz existir um mundo transcendente) e as Sagradas Escrituras. Faz a distinção entre o corpo, sujeito à sorte do mundo, e a alma, que é atemporal, e com a qual se pode conhecer Deus. Antes de Deus ter criado o mundo a partir do nada as Idéias eternas já existiam na sua mente. Deus é a bondade pura. 
Ele já conhece o que uma pessoa vai viver antes dela viver. Assim, apesar da humanidade ter sido amaldiçoada depois do pecado original, alguns alcançarão a verdade divina, a salvação. Isso depende do uso que fazemos do livre arbítrio, a faculdade que o indivíduo tem de determinar de acordo com a sua própria consciência a sua conduta, livre da Divina Providência, enquanto está vivo. Seria o ato livre de decisão, de opção. Durante um diálogo, Agostinho chega a conclusão que o mal não provém de Deus, mas sim do mau uso do livre arbítrio. De fato, para ele não existe mal, apenas a ausência de Deus. (com isso ele refuta de vez a doutrina dos maniqueus). Essa teoria encontra-se no livro O livre arbítrioCom uma vida errada, a alma fica presa ao corpo, porém a relação correta é a inversa. Os órgãos sensoriais sentem a ação dos elementos exteriores, a alma não. Deus é a fonte dos conhecimentos perfeitos e não o homem. A experiência mística leva à iluminação divina. Assim se chega às verdades eternas, e o intelecto então é capaz de pensar corretamente a ordem natural divina. A unidade divina é plena e viva, e guarda a multiplicidade. 
O amor de Deus é infinito. A graça e a liberdade complementam-se.Na obra a Cidade de Deus, Agostinho faz oposição entre sensível e inteligível, alma e corpo, espírito e matéria, bem e mal e ser e não ser. Acrescenta a história à filosofia, interpretando a história da humanidade como o conflito entre a Cidade de Deus, inspirada no amor à Deus e nos valores que Cristo pregou, presentes na Igreja, e a Cidade humana, baseada nos valores imediatos e mundanos. Essas cidades estariam presentes na alma humana, e no final a Cidade de Deus triunfaria.Outra obra importante são as Confissões, que é autobiográfica. Essa obra faz dele um precursor de Descartes, Rousseau e o existencialismo. Acredita na verdade contida nos números, que fazem parte da natureza.
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São Josemaria Escrivá de Balaguer

Vida de São Josemaria Escrivá de Balaguer (1902-1975), fundador do Opus Dei.
Josemaria Escrivá nasceu em Barbastro (Huesca, Espanha), em 9 de janeiro de 1902. Seus pais chamavam-se José e Dolores. Teve cinco irmãos: Carmen (1899-1957), Santiago (1919-1994) e outras três irmãs menores do que ele, que faleceram ainda pequenas. O casal Escrivá deu aos seus filhos uma profunda educação cristã.

Em 1915, a indústria de tecidos do pai abre falência, e ele tem de mudar-se para Logronho, onde encontrou outro emprego. Nessa cidade, Josemaria dá-se conta pela primeira vez da sua vocação: depois de ver umas pegadas na neve dos pés descalços de um religioso, intui que Deus deseja alguma coisa dele, embora não saiba exatamente o quê. Pensa que poderá descobri-lo mais facilmente se se fizer sacerdote, e começa a preparar-se, primeiro em Logronho e, mais tarde, no seminário de Saragoça.


Seguindo um conselho de seu pai, cursa na Universidade de Saragoça a Faculdade de Direito, como aluno livre. Seu pai morre em 1924, e ele fica como chefe de família. Recebe a ordenação sacerdotal em 28 de março de 1925 e começa a exercer o ministério numa paróquia rural e depois em Saragoça.


Em 1927, transfere-se para Madrid, com permissão do seu bispo, a fim de doutorar-se em Direito. Ali, no dia 2 de outubro de 1928, Deus faz-lhe ver a missão que lhe vinha inspirando havia anos, e funda o Opus Dei. A partir desse momento, passa a trabalhar com todas as suas forças no desenvolvimento da fundação que Deus lhe pede, ao mesmo tempo que continua a exercer o ministério pastoral que lhe fora encomendado naqueles anos, e que o punha diariamente em contato com a doença e a pobreza dos hospitais e bairros populares de Madrid.


Quando eclode a guerra civil, em 1936, encontra-se em Madrid. A perseguição religiosa obriga-o a refugiar-se em diferentes lugares. Exerce o seu ministério sacerdotal clandestinamente, até que consegue sair de Madrid. Depois de atravessar os Pireneus até o sul da França, instala-se em Burgos.


Quando termina a guerra, em 1939, volta a Madrid. Nos anos seguintes, dirige numerosos retiros espirituais para leigos, sacerdotes e religiosos. Nesse mesmo ano de 1939, conclui os estudos de doutorado em Direito.


Em 1946, fixa a sua residência em Roma. Obtém o Doutorado em Teologia pela Universidade Lateranense. É nomeado consultor de duas Congregações vaticanas, membro honorário da Pontifícia Academia de Teologia e Prelado de honra de Sua Santidade. Acompanha com atenção os preparativos e as sessões do Concílio Vaticano II (1962-1965) e mantém um relacionamento intenso com muitos padres conciliares.


De Roma, faz numerosas viagens a diversos países europeus para impulsionar o estabelecimento e a consolidação do Opus Dei nesses lugares. Com o mesmo objetivo, realiza entre 1970 e 1975 longas viagens até o México, a Península Ibérica, a América do Sul e Guatemala, e nelas também tem reuniões de catequese com grupos numerosos de homens e mulheres.


Falece em Roma no dia 26 de junho de 1975. Vários milhares de pessoas, entre elas muitos bispos de diversos países - quase um terço do episcopado mundial -, solicitam à Santa Sé a abertura da sua causa de canonização.


No dia 17 de maio de 1992, João Paulo II beatifica Josemaria Escrivá. Proclama-o santo dez anos depois, em 6 de outubro de 2002, na Praça de São Pedro, em Roma, diante de uma grande multidão. «
Seguindo as suas pegadas», disse o Papa nessa ocasião na sua homilia, «difundam na sociedade, sem distinção de raça, classe, cultura ou idade, a consciência de que todos estamos chamados à santidade». 
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                             Santo Inácio de Loyola




IÑIGO Lopes de Loyola, o futuro Santo Inácio, nasceu em 1491. Não se sabe o dia nem o mês; presume-se, porém, que tenha sido por volta de 1º de junho, festa de Santo Iñigo, Abade de Oña (Burgos) pelo fato de o terem batizado com esse nome.
Iñigo era filho de Beltrán Ibánez de Oñaz e de Marina Sánches de Licona, da linhagem Oñaz-Loyola, família nobre de Guipúzcoa ou da "Província", como se chamou este território até o século passado. Os Loyolas viviam numa casa-castelo que era residência e fortaleza ao mesmo tempo, construída em pedra, como tantas outras do país basco.
O duplo aspecto de lar e castelo se explica pelas freqüentes guerras que enfrentaram as principais famílias bascas entre si e, logo depois, com a Irmandade das Vilas, formada pelas cidades que iam nascendo no fim do feudalismo.
Os Loyolas tinham sido sempre bem belicosos e até mesmo ferozes nesses litígios. O avô de Iñigo foi desterrado pelo rei por causa de uma destas brigas e obrigado a destruir a parte superior da casa-castelo. Mais tarde, depois de perdoado pelo soberano, permitiram-lhe reconstruir o andar superior com tijolos.
Nesta casa-fortaleza nasceu Iñigo. Os tempos eram mais calmos, não, porém, sem algumas querelas, que levam séculos para desaparecer, sobretudo num vale pequeno e fechado como o que forma o rio Urola, em cujas margens se assentam as aldeias de Azpeitia e Azcoitia. A meio caminho entre ambas ergue-se o solar natal de Iñigo.
Por volta dos seis anos, o menino perdeu a mãe. Seu pai, que morreu quando ele tinha dezesseis anos, abdicou de todos os seus bens e títulos, ainda em vida, em favor do filho Martín, que passou a ser senhor de Oñaz e Loyola. Martín não era o primogênito e sim Juan que, nesta altura, já tinha morrido na guerra milanesa.
O pai de Inácio, seu irmão Martín e a esposa deste, Madalena de Araoz, foram os que cuidaram da educação de Inácio, que desde cedo deve ter entendido que, sendo o último de uma família tão prolífica, ia ter de construir o seu próprio futuro. Assim o entenderam também seus outros irmãos que foram fazer fortuna na milícia (como Beltrán e Ochoa) ou na América (como Hermando) ou na Igreja (como Pedro, que era sacerdote).
A infância de Iñigo foi a de um menino da nobreza, talvez um tanto mimado por sua condição de caçula e por ser órfão de mãe. A educação religiosa que recebeu foi mais "piedosa" que sólida. O oratório familiar da casa-castelo era dominado por um entalhe flamengo representando a Anunciação, presente feito por Isabel, a Católica, a Madalena, esposa do seu irmão Martín. Dizia-se ser um quadro milagroso.



Inácio entrega sua espada, para se tornar um soldado do Cristo.


Iñigo recebeu a tonsura sendo ainda quase adolescente, tornando-se, então, clérigo de "Ordens Menores". Destarte, poderia receber um benefício eclesiástico, de caráter econômico, vinculado a esta condição e título. Vê-se, entretanto, pelo processo aberto contra ele em Pamplona, que seu comportamento deixava muito a desejar. Das atas desse processo se deduz que seus costumes, seu modo de divertir-se e seu penteado estavam longe de ser os de um "homem de Igreja".
Não se sabe qual foi o delito que Iñigo e seu irmão Pedro cometeram, num dia de carnaval; deve ter sido suficientemente grave para fazê-lo fugir e recorrer à sua condição clerical, a fim de escapar da acusação.
A impressão que deixam estas primeiras notícias de sua vida é que Iñigo era um rapaz um tanto aloucado, com inclinação para brigas e certamente muito cônscio dos privilégios que lhe vinham do seu nascimento e da sua condição de fidalgo.
      O jovem cavaleiro
Com quinze ou dezesseis anos, Iñigo foi completar sua educação em Arévalo (hoje na Província de Ávila), na casa de Don Juan Velázquez, Contador-Mor do reino de Castela. Como era amigo do pai de Iñigo, ofereceu-se para acolher, como mais um filho seu, o caçula dos Loyolas.
O adolescente deve ter se sentido ali como em sua própria casa, rodeado dos filhos de Velázquez, alguns dos quais teriam mais ou menos a mesma idade que ele. Com eles vive em "grande estilo".
No palácio de Velázquez, veio a conhecer os reis e a corte, desfrutando de todos os privilégios de alta aristocracia da época e dedicando-se à "boa vida": caçadas, justas, torneios, saraus, bailes, jogos de azar (baralho e dados) e aventuras galantes. Anos mais tarde, já convertido em Inácio de Loyola, confessaria que era "dado a vaidades mundanas" e que, naquela fase, cometeu "aventuras de mancebo".
Gostava muito de música e de baile, tinha mão muito boa para a caligrafia e deve ter lido um bom número de romances de cavalaria, os "best-sellers" daquele tempo. Foram dez anos de alegria juvenil, sem pensar muito no futuro.
Prova disto é o fato de que a desgraça repentina que se abateu sobre os Velázquez pegou desprevenidos tanto estes últimos como o próprio Iñigo. A morte de Fernando, o Católico, foi a ruína daquela família. As primeiras medidas tomadas por Carlos I contrariaram Don Juan Velázquez que viu, nessas decisões, um prejuízo para o patrimônio real. Por isso ele chegou a usar até a oposição das armas. Derrotado e sobrecarregado por dívidas, morreu em 1517.
Iñigo viu-se, então, sem protetor. Não tinha nada. A viúva de Don Velazquez deu-lhe uma certa soma de dinheiro e cartas de recomendação para o duque de Nájera.
Don Antonio Manrique de Lara, era um nobre em ascensão. O duque apostara no futuro imperador e era vice-rei de Navarra. Iñigo tornou-se homem de sua confiança, acompanhando-o em vários de seus empreendimentos e em visitas à corte. É possível que, então, sua atenção se fixasse na princesa Catarina de Áustria; os biógrafos do Santo pensam que ele faz alusão a ela quando diz, anos mais tarde, que tinha os olhos postos numa dama que era mais que condessa ou duquesa.
A serviço do duque de Nájera, lutou contra os inimigos de Carlos I. Foi assim que esteve no assédio e conquista da própria cidade de Nájera, que se rebelara contra o rei, mas não quis participar do saque e pilhagem que se seguiram. O próprio duque o encarregou de "acalmar" as aldeias Guipuzcoanas que também se tinham sublevado. Deu mostras de ser bom diplomata, pois sua missão teve bom êxito.
Iñigo não era o que hoje chamamos de um militar, isto é, um soldado profissional. Era um nobre, um cavaleiro e, como tal, muito hábil no manejo das armas.
A guerra, naquela época, tinha uma organização bem diversa das atuais. Assim, quando o rei de França decidiu apoiar o exilado Henrique de Labrit, pretendente ao trono de Navarra, o vice-rei reuniu tropas para defender o território. Entre outros muitos convocados, encontravam-se Iñigo e seu irmão Martín, senhor de Loyola.
Na época destes acontecimentos, Iñigo estava com trinta anos. Não se casara nem tinha patrimônio, além do seu valor pessoal. Sem a inconsciência dos anos moços, continuava aspirando a um lugar de honra na sociedade do seu tempo.
A perna quebrada
Inácio tinha uma tia freira que, ao saber das correrias e encrencas em que se metia o sobrinho, profetizou-lhe: "Enquanto não quebrares uma perna não mudas de vida, pondo a cabeça no lugar". Mal sabia a boa religiosa que a profecia se havia de cumprir. Iñigo foi ferido por um obuz no cerco de Pamplona e este foi o princípio da mudança fundamental de sua vida.
As tropas francesas e navarras que desejavam devolver o trono a Henrique de Labrit já estavam às portas da cidade, antes mesmo que os partidários de Carlos I tivessem podido reunir forças suficientes para enfrentá-lo. A população entregou-se sem resistência, mas os homens do duque de Nájera, Iñigo entre eles, fecharam-se dentro das muralhas da fortaleza.
A maioria dos sitiados, incluindo o alcaide, ao ver a desproporção das forças, estavam inclinados a se renderem sem lutar. Era simples suicídio fazer frente a um exército muito superior em número e mais bem provido de artilharias. Iñigo, porém, não estava de acordo com essa postura, que lhe parecia desonrosa. Convenceu, pois, seus homens a não capitular.
Os canhões começaram a bombardear a fortaleza em 20 de maio de 1521. Foi nesse ataque de artilharia que uma bala de canhão atingiu Iñigo, quebrando-lhe uma perna e deixando a outra muito ferida. Dia 24 de maio, a fortaleza rendeu-se, depois de graves estragos e rombos nas muralhas e ao ver caído o heróico defensor que jurara lutar até a morte.
Os inimigos reconheceram cavalheirescamente o valor do caçula dos Loyolas e se ocuparam da saúde desse adversário. Mas o estrago nas pernas fora grande; por isso, depois dos primeiros cuidados médicos, aconselharam-lhe que voltasse à sua casa, onde haveria mais facilidades do que numa praça de guerra.
De Pamplona o levaram a Loyola numa padiola. Imagine-se o que terá sido uma viagem dessas! Com os ossos quebrados e deslocados, cada passo ou movimento causavam ao ferido dores insuportáveis.
Foi dolorosa também sua chegada ao castelo. Iñigo regressava muito ferido, derrotado, ainda que mantendo intacta sua honra de cavaleiro. Provavelmente seu irmão Martín não terá deixado de lembrar-lhe que tinha sido um "cabeça dura", ao ficar em Pamplona em vez de optar, como ele e o próprio duque de Nájera, por uma retirada estratégica.
O estado do enfermo piorou. Os médicos aconselharam uma operação para pôr os ossos no lugar, uma vez que estavam deslocados talvez por causa dos trancos da viagem ou porque os médicos de Pamplona não tinham feito bom serviço. Anos mais tarde, Inácio qualificou essa operação de carnificina. Entretanto, deu mostras de grande resistência, não proferiu um só grito, limitando-se a apertar os punhos.
A operação não deu resultado, e Iñigo se viu às portas da morte, chegando a receber os últimos sacramentos. Pensavam todos ser o fim. A má estrela de alguns de seus irmãos mais velhos parecia pesar também sobre ele. Morrer aos trinta anos! Como um fidalgo, sim, valente, e até ambicioso, mas sem realizar nada que salvasse seu nome do esquecimento! Alguns poderão ter pensado: "Bem feito! Ele não fez mais que divertir-se e gozar a vida. Na verdade, não se perde grande coisa!"
A grande transformação 
A morte não o levou. Já fora de perigo. Iñigo notou que a perna quebrada ficara mais curta que a outra e com um caroço que sobressaia. Coxo para o resto da vida? Nem pensar! Como poderia montar a cavalo, realizar belas façanhas? Como poderia cortejar a dama dos seus sonhos, sendo um ridículo manquitola?
Para eliminar essa deformidade, Iñigo exigiu e suportou uma segunda operação, não menos dolorosa que a outra. Depois passou meses deitado com molestos curativos e tendo de suportar pesos e outros mecanismos para esticar a perna.
Que faz um doente para passar o tempo de repouso forçado? Fazia todo tipo de planos para o futuro, como ele diz, pensando nas façanhas que realizaria a serviço da sua dama. Sonhava com os meios que usaria para aproximar-se dela, as mesuras, as belas frases e proezas guerreiras que lhe dedicaria.
Mas Iñigo se entedia. Toda a fantasia do mundo não basta. Pede romances de cavalaria para distrair-se; como não os houvesse no castelo, trazem-lhe "Vida de Cristo" de Ludolfo de Saxonia e a "Vida dos Santos").
Começou a leitura de má vontade, para matar o tempo e descobriu, com surpresa, que estava gostando. Notou também que sentia paz e alegria ao fechar tais livros, ao contrário do que acontecia quando cultivava seus sonhos cavaleirescos e guerreiros, que o deixavam triste e frustrado. Essa diferença de humor o deixava perplexo.

Visão de Inácio sobre o Cristo.

Por outro lado, Iñigo tinha visto de perto a foice da morte, o que o fez examinar sua vida passada. É o que sempre acontece com doentes graves, quando têm tempo para pensar.
O balanço não era positivo. Na perspectiva de Deus, ele era um pecador e um mau cristão.
Ao calor de tais sentimentos, suscitados por aquelas leituras piedosas, põe-se a meditar: "Que aconteceria se eu fizesse o que fez São Francisco... e São Domingos?..." Não lhe faltavam audácia nem coragem; isto era indiscutível! Destarte, fez promessa do que lhe parecia mais difícil de realizar; ir a Jerusalém descalço, comer só verduras e submeter-se às mesmas penitências feitas pelos santos, e até maiores.
Seu raciocínio estava cheio de um espírito ingenuamente competitivo: "São Domingos fez isto? Pois eu também farei!" Se um homem foi capaz daquilo, por que não o seria ele? Também neste ponto queria estar entre os primeiros.
Passam os meses de verão e outono; chega o inverno. Pouco a pouco seu coração se volta para Deus. Começa o trabalho de anotar certas passagens dos livros que lia. Põe-se, então, a copiar episódios de vida de Cristo, escrevendo as palavras de Jesus com tinta vermelha e com azul as de Maria.
Copiar, imitar: o propósito que acalenta é assemelhar-se aos santos e, com isto, desponta já uma terna devoção à pessoa de Cristo e à de sua Mãe.
Os irmãos de Iñigo, Martín e Pedro, bem como sua cunhada Madalena, estão preocupados: já não o houvem falar de proezas, amores e glória e, às vezes, surpreendem-no chorando ou totalmente absorto. Quando lhe perguntam o que tem, responde com evasivas.
Em princípios de 1522. Iñigo já está quase restabelecido e anuncia sua partida. Diz que vai a Navarrete encontrar-se com o duque de Nájera, para cobrar uma dívida. A família o vê sair com apreensão... Que estaria tramando o caçula dos Loyolas?...
O velho homem, o capitão, o amigo dos jogadores e das mulheres está morrendo e dando surgimento a um novo Homem, com uma nova resolução: servir a Deus.
O homem do saco

Cavalgando uma mula, com seu irmão Pedro e dois criados, deixou Loyola a caminho do santuário mariano de Aránzazu. Lá, depois de agradecer pela cura, despediu-se de Pedro e tomou o rumo de Navarrete (Rioja), como dissera a sua família. Com o dinheiro do soldo recebido, pagou algumas dívidas pendentes; em seguida despediu os criados e, sozinho, encaminhou-se para Monteserrat.
Iñigo estava decidido a pôr em prática o propósito concebido em Loyola. Havia três peregrinações que um cristão podia empreender: Santiago, Roma e Jerusalém: a última lhe parecia não só a mais custosa, pela distância, mas também a mais perigosa. A Terra Santa estava nas mãos dos turcos infiéis; a situação política era tensa, com perigo de guerra a qualquer momento. Em tais circunstâncias, ir a Jerusalém era um risco certo.
Mas não iria como um nobre, protegido por seu dinheiro e posição social, mas como um peregrino desconhecido. A partir desse momento, ele começa a ocultar sua identidade. Não quer privilégios no trato, deseja começar uma vida nova e, neste empenho, via um empecilho na sua linhagem.
Enquanto ia de Ribeira para Aragão, houve o incidente com o mouro que duvidava da virgindade de Maria. Sua cavalgadura, mais sábia que ele, livra-o de um lance mau. Antes de chegar a Montserrat, (o Mont-Salvat das lendas do Graal), em cuja pendente e a uma altitude de 720 m encontra-se a abadia beneditina fundada em 1030, comprou pano de saco para fazer uma roupa de peregrino, bem tosca e áspera, munindo-se também de um bordão e uma cabaça.
Chegou aos pés da Virgem (la "Moreneta") por volta de 20 de março. Aí levou três dias preparando uma confissão geral de toda a vida, sob a hábil direção de um dos monges Beneditinos da abadia. Nas vésperas da Anunciação (24 de março de 1522), passou a noite inteira na igreja: foi sua "vigília de armas", como cavaleiro de Deus. Ofereceu à Virgem a espada e o punhal, doou a mula ao mosteiro e suas vestes a um mendigo.
De madrugada, às escondidas, metido no seu saco de penitente, parte a pé, dirigindo-se a Manresa, a fim de evitar o encontro com pessoas conhecidas que estavam na comitiva do nomeado papa Adriano VI. Assim dá uma volta por Manresa.
Logo, porém, o alcançaram os guardas de Montserrat, com o mendigo que usava suas roupas; ele salva o coitado dizendo que não roubara nada, que fora ele que lhe dera as roupas. O incidente perturba Iñigo por ver que sua generosidade pusera o pobre em perigo e também por descobrir que, apesar de sua aparência, não pode ocultar sua origem e condição.
Em Manresa aloja-se num albergue de mendigos, como mais um deles. Vive de esmolas com grande austeridade, decidido a acabar com sua aparência de fidalgo disfarçado: descuida seu asseio pessoal e castiga o corpo com severos jejuns. O resultado não tardou e os garotos de Manresa o batizaram logo de "o homem do saco", por seu aspecto desastrado. Mas não consegue ficar despercebido, porque logo lhe criam outro apelido; "O Homem santo". Começam a correr rumores fantásticos sobre sua identidade, as riquezas que deixou e os pecados que o levaram a tanta penitência...
Também não consegue fazer de Manreza apenas um lugar de passagem, porque seu espírito começa a ser assaltado por sentimentos contraditórios, o que o leva a dedicar longas horas à oração e à leitura espiritual: além disso castiga seu corpo com instrumentos de penitência. Mas nem assim encontra a paz, chegando a duvidar das suas forças e da misericórdia de Deus: "Poderás agüentar esta vida por muito tempo?... Será que Deus já te perdoou?... Um dia, quando a angústia e a perplexidade atingiram o auge, chegou a pensar no suicídio, atirando-se por uma janela.
Numa das grutas, na qual costumava meditar e orar, às margens do rio Cardoner, Inácio experimentou em Setembro de 1522 a sua mística Igreja Primitiva, como ele a chamava.
Parecia-lhe que ser santo era algo que dependia só da sua vontade e das suas forças. É aí que ele descobre: ninguém serve e agrada a Deus por sua própria conta, baseando-se apenas em seus próprios planos e decisões.
Seja o que Deus quiser

Foi tempestuosa aquela primeira temporada em Manresa. Ele adquirira em Loyola o costume de anotar tudo quanto se passava em seu espírito; começou, então, a perceber, relendo suas notas, que as diversidades de estados de ânimo tinham um significado: Deus estava lhe mostrando, por meio deles, a sua vontade. Havia até certos bons desejos que camuflavam suas resistências a uma conversão sincera e profunda. Outras vezes até os jejuns e penitências atrapalhavam sua oração em vez de ajudá-la.
Iñigo estava fazendo, sem o saber, os seus "Exercícios Espirituais". Mediante a oração e a contemplação dos Evangelhos, ia-se entusiasmando com a pessoa de Jesus, assimilando suas atitudes e conformando toda sua vida com a do Cristo. A experiência daqueles dias, cuidadosamente anotada em um caderno, será o germe dos seus "Exercícios", um dos livros que mais influíram na Igreja. Retificando alguns pontos, acrescentará aqui, cortará ali, mas, naquelas suas notas, já está o método inaciano para encontrar a vontade de Deus e entregar-se à Pessoa de Jesus Cristo.
Um dia, enquanto lia "Horas de Nossa Senhora" em voz alta, nas escadarias da Abadia de Montserrat sua compreensão elevou-se e ele percebeu o mistério da Santíssima Trindade, como uma harmonia musical, na forma de música de órgão. Esta experiência foi tão tocante que o fez chorar.
Em outra ocasião, vivenciou uma onda de grande alegria espiritual, quando compreendeu a forma que Deus usou na criação do Mundo. Viu algo brilhante de onde raios brancos eram emitidos, viu que Deus estava criando Luz. Mas ele não pode explicar o fenômeno.
Um dia os olhos interiores de Inácio, enquanto participava de uma missa na Igreja do Mosteiro, viram o momento em que o corpo do Senhor (a hóstia) era levantado, o que pareciam ser raios de luz, vindos de cima. Isto foi interpretado por ele como sendo a presença de Cristo.
Em Manresa, diz Iñigo, Deus o tratou como um professor trata seu aluno: ensinava-o a servir-lhe como ele desejava. Um dia, passeando às margens do rio Cardoner, teve uma grande iluminação interior. Tudo lhe pareceu novo e diferente, como se estivesse vendo coisas pela primeira vez.
Copiar, imitar... Em Loyola acreditava que nisto consistia a vida cristã: ser como os santos, imitar Jesus. Agora descobre que cada homem tem uma vocação concreta e particular e que Deus no-la mostra de muitos modos. O cristão deve descobrir e realizar esta missão que Deus lhe confia.
E qual era a sua?... Iñigo continua a pensar na viagem a Jerusalém, já não tanto para cumprir uma grande façanha, mas por tratar-se da terra de Jesus. Se vive pobre, livre de compromissos materiais, já não é por penitência, mas porque Cristo viveu assim. E começa a ajudar os outros, a cuidar dos doentes e necessitados, inclusive em suas necessidades espirituais... porque Jesus curou, pregou e nos livrou de nossos pecados.
O peregrino entrega-se a Deus, disposto a seguir suas inspirações a cada momento. Não sabe aonde estas o levarão, mas enquanto não estiver certo de que lhe pede outra coisa, irá a Jerusalém. Até sonha em morrer lá, como Cristo, anunciando aos infiéis o Evangelho. Passou quase um ano em Manresa, hospedando-se em diversas casas e passou certo tempo no convento dos Dominicanos. Também se retirava a uma gruta para rezar e fazer penitência. Neste local ergue-se hoje uma igreja dos jesuítas. O mais importante, porém, é que começou, por meio de conversas, a ajudar espiritualmente as pessoas que desejavam ouvi-lo.
Em Barcelona embarcou para a Itália, depois de conseguir passagem gratuita num navio. O capitão, porém, exigiu que ele levasse provisão consigo. Isto causou um certo escrúpulo em Iñigo, que preferia confiar-se cegamente às mãos de Deus; mas um bom confessor lhe deu a solução: iria mendigar nas ruas o alimento para a viagem.
Em 16 de março de 1523, um ano depois de sair do seu castelo, fez-se ao mar, só e pobre. Ninguém reconheceria naquele peregrino de aspecto macilento o elegante e aprumado fidaldo dos Loyolas.
Em Julho de 1523 parte para Palestina, a bordo de um navio veneziano. Lugar gratuito conseguido através de Andrea Grittium.
A nova vida de Inácio

Depois das experiências de Manresa e Jerusalém Inácio deu inicio aos estudos avançados que culminaram com o recebimento do título de Mestre pela Universidade de Paris em 1534.



Em 1539 Inácio e seus seguidores decidem formar uma nova Ordem.

O Papa aprova o plano,
resultando no estabelecimento da "Companhia de Jesus".

No dia 15 de Agosto de 1534, Santo Inácio e seis companheiros (Pedro Fabro, Francisco Xavier, Afonso Salmerón, Diogo Lainez, Nicolau Bobadilla e Simão Rodrigues) fizeram na Igrejinha dos Mártires de Montmartre, os votos de "pobreza, castidade e obediência". Pedro Fabro o único sacerdote do grupo celebrou a Eucaristia, durante a qual foram emitidos os votos.
Em Janeiro de 1537, Inácio encontra de novo seus seis companheiros em Veneza. Enquanto esperavam a partida do navio dos peregrinos para Jerusalém trabalharam no hospital de Veneza.
Em 24 de Junho de 1537 recebe a ordenação sacerdotal em Veneza. Em fins de Setembro do mesmo ano teve de reconhecer que a desejada peregrinação à Terra Santa se tornara impossível, por causa da guerra entre Veneza e os Turcos. Por isso, determinou-se a ir a Roma, juntamente com Fabro e Lainez, para colocar-se à disposição do Papa. A fins de Outubro de 1537, os peregrinos da Companhia de Jesus entravam na cidade papal de Roma.
Um pouco antes de chegar em Roma, na capela de la Storta, Santo Inácio estando em oração, teve uma visão da Santíssima Trindade e ouviu do Pai estas palavras: "Eu vos serei propício em Roma", Santo Inácio ouviu ainda como o Pai dizia a Cristo: "Quero que tomes este ao teu serviço".
Em 1539 Inácio e seus seguidores decidem formar uma nova Ordem. O Papa aprova o plano, resultando no estabelecimento da "Companhia de Jesus" (os jesuítas).
Desde Fevereiro de 1541, a nova Ordem viveu numa casa ao lado da Igreja de Santa Maria degli Astalli. Em 1544, nesse mesmo lugar, foi construída a antiga casa professa, na qual Santo Inácio recebeu três pequenos quartos.
Manteve o posto de geral dos jesuítas até 1552. Serviu durante o tempo em que houve uma grande expansão mundial da Companhia. Foi nesse período que completou a Constituição da Ordem.

Inácio morreu em 31 de julho de 1556.


  • Em 1622 a Igreja Católica o declarou Santo.

    O CAMINHO DOS EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS

    A VIDA E O MÉTODO ESPIRITUAL DE INÁCIO DE LOYOLA

    CURSO ORGANIZACIONAL DE INÁCIO 

  • A vida de Inácio de Loyola.
  • Consolação e Desolação Espiritual.
  • O Treinamento da Vontade. Sistema e Ordem da Prática Espiritual.
  • A técnica de tomada de decisão.
  • As regras para o Discernimento dos Espíritos.
  • Os Exercícios Espirituais: formato e requerimentos.
  • Primeira Semana: Meditações sobre o pecado e o Inferno.
  • Segunda Semana: Vida de Jesus.
  • Terceira Semana: Meditação sobre a Paixão.
  • Quarta Semana: Ressurreição no Amor Divino.
  • Esquema dos fundos submarinos.
  • Meditações tradicionais de Inácio.
    Vida de Inácio de loyola

  • Inácio nasceu (provavelmente antes de 23 de outubro de 1491) no castelo da família Loyola.
  • A família pertencia à nobreza provincial do país Basco. Dentro da família Loyola havia uma tradição de soldados e guerreiros.
  • O primeiro trabalho de Inácio foi como mensageiro, aos 16 anos, na corte de Don Juan
  • Velazques, seu parente. Neste trabalho se dedicou ao jogo e à luta enquanto seguia os costumes da corte e romances.
  • Inácio se apaixona por Dona Caterina, uma dama da família real, filha de Phillipe o Justo.

    Ingressando no exército


  • Em 1517 Inácio ingressava no Exército.
  • Em maio de 1521 sofre um ferimento na perna enquanto lutava em Pamplona contra as tropas francesas. Lá mesmo foi cuidado por médicos franceses. Retorna então a Loyola para se recuperar.
  • Em 24 de junho, seu estado de saúde era tal que chegou a receber os sacramentos. Contudo a partir de 28 de junho começou a melhorar.
  • Durante este período crítico, Inácio pedia material de leitura, romances e aventuras cavalheirescas, dois gêneros populares e comuns naquela época.
    O despertar espiritual de Inácio

  • Os livros que recebeu da biblioteca do castelo ("Vida de Cristo" de Ludolfo of Saxonia e "Vida dos Santos") tiveram grande influência sobre ele.
  • Inácio compreende que a vida que levava até então, não refletia a nobreza de espírito que seu coração ansiava. Lendo a vida dos santos se sentiu tomado por uma espécie de inspiração que queria refletir em sua própria vida.
  • Quando se encontra completamente restabelecido, uma chama diferente brilhava em seus olhos: o desejo de se tornar um soldado de Cristo, de ir e batalhar por seu verdadeiro Rei.
    Aos 32 e sobre uma mula

  • O velho homem, o capitão, o amigo dos jogadores e das mulheres está morrendo dando surgimento a um novo Homem, com uma nova resolução: servir a Deus.
  • Montado numa mula Inácio viaja para as costas do mar mediterrâneo e chega a Montserrat (o Mont-Salvat das lendas do Graal).
  • Ele passa a noite de 24 de março de 1522 em Montserrat fazendo a vigília das Armas na capela de um abade Beneditino. Decide dedicar sua vida à Deus. Mas para onde ir agora que esta resolução foi tomada?
    Manresa

  • Inácio desce de Montserrat em direção à uma pequena vila, chamada Manresa. É 25 de Março de 1522.
  • Aqui ele experimenta a oração, meditação profunda e varias práticas ascetas.
  • Destas experiências resulta o sentimento Inaciano. Tais práticas serão posteriormente incorporadas aos "Exercícios Espirituais".
    Experiências em Manresa

  • Um dia, enquanto lia "Horas de Nossa Senhora" em voz alta, nas escadarias da Abadia de Montserrat sua compreensão elevou-se e ele percebeu o mistério da Santíssima Trindade, como uma harmonia musical, na forma de música de órgão. Esta experiência foi tão tocante que o fez chorar.
  • Em outra ocasião, vivenciou uma onda de grande alegria espiritual, quando compreendeu a forma que Deus usou na criação do Mundo. Viu algo brilhante de onde raios brancos eram emitidos, viu que Deus estava criando Luz. Mas ele não pode explicar o fenômeno.
  • Um dia os olhos interiores de Inácio, enquanto participava de uma missa na Igreja do Mosteiro, viram o momento em que o corpo do Senhor (a hóstia) era levantado, o que pareciam ser raios de luz, vindos de cima. Isto foi interpretado por ele como sendo a presença de Cristo.
    A nova vida de Inácio

  • Depois das experiências de Manresa Inácio deu inicio aos estudos avançados que culminaram com o recebimento do título de Mestre pela Universidade de Paris em 1534.
  • Em 1539 Inácio e seus seguidores decidem formar uma nova Ordem. O Papa aprova o plano, resultando no estabelecimento da "Companhia de Jesus" (os jesuítas).
  • Manteve o posto de geral dos jesuítas até 1552. Serviu durante o tempo em que houve uma grande expansão mundial da Companhia. Foi nesse período que completou a Constituição da Ordem.
  • Inácio morreu em 30 de julho de 1556. Em 1622 a Igreja Católica o declarou Santo.
    Consolação e Desolação Espiritual

  • A Consolação Espiritual:
  • é a experiência interna da presença de Deus, experiência da visão de si mesmo, dos outros e de toda a realidade à Luz de Deus.
  • é a experiência interna de impulsos de amor a Deus, que se dá totalmente a mim através de Cristo, na sua morte e ressurreição; Deus que manifesta seu amor através de experiências positivas ou que me faz descobrir o positivo em experiências negativas.
  • é todo aumento de fé, esperança e amor.
  • é toda alegria interna que nos atrai para as coisas de Deus, para o bem e para o amor.
  • é toda tranqüilidade e paz sentidas em Deus.
  • A Desolação Espiritual: (é o oposto da Consolação).
  • é a experiência interna da distância de Deus, é a perturbação do coração, impulso para a falta de confiança, à falta de esperança, ao desamor.
  • é toda tristeza interna que nos afasta das coisas de Deus.
  • é todo desânimo de continuar lutando pelo bem.
  • é toda inquietação devida à sensação de ausência ou silêncio de Deus.
  • Nunca tomar decisões quando estiver desolado; manter-se firme nos propósitos do bem.
  • Na desolação, não se deixar dominar, mas lutar contra:
  • intensificar a oração.
  • examinar a consciência buscando as causas da desolação.
  • intensificar a caridade, sacrificar-se mais pelos outros.....
  • Quando estiver desolado, lembre-se de que Deus permite um tempo de provação para purificar o amor. Lembre-se de que Deus jamais nos abandona, mesmo quando o sentirmos distante.
    Quando estiver desolado, seja paciente. Acredite que em breve tudo passará e novamente estará consolado.
  • Quando estiver consolado seja humilde, reconhecendo sua pequenez e a grandeza de Deus.
  • As causas da desolação são 3, sendo 1 da nossa parte e 2 da parte de Deus:
  • Tibieza, preguiça ou negligência no nosso relacionamento com Deus.
  • Deus nos permite provações para nos fazer ver até que ponto chega o nosso amor. Devemos buscar Deus pelo que Ele é e não apenas pelos efeitos consoladores da sua presença.
  • Deus que deseja fazer-nos crescer na compreensão da gratuidade do seu amor, a consolação é dom que Ele nos concede por pura bondade, não se trata de uma conquista da nossa parte.
  • Nunca se deixar sucumbir pelas oposições, mas enfrentá-las com força e coragem.
  • Conhecer-se a si mesmo, tendo bastante clareza dos pontos mais fortes e dos pontos mais fracos. Nossos pontos fracos serão sempre uma ameaça ao nosso crescimento para Deus. Portanto, ser prudente em não se expor à situações em que incidem os pontos fracos.
    Treinamento da vontade
  • O capricho esta para a vontade assim como as fantasias estão para a visualização.
  • No treinamento da Vontade, o retreinamento do corpo é necessário. Neste processo, o poder da concentração é desenvolvido, juntamente com as imagens usadas na tomada de decisão.
  • O treinamento da Vontade requer persistência aplicada por um longo período de tempo. Requer também um sistema completamente planejado de autoevolução.
    Regras / leis da vontade
  • Os desejos são Imagens e a Vontade seus Atos.
  • Nenhum indivíduo, grupo ou nação pode alcançar seus objetivos se não tiver imagens para energizar seus desejos.
  • No ser humano o natural é o habitual.
  • Exercitar os hábitos de uma vontade forte faz o exercitar desta virtude um processo natural (sem esforço).
  • A Vontade pode ser treinada a fim de que possa escolher o melhor, através do hábito, a partir do melhor conjunto de opções possíveis.
    Passos do treinamento da vontade
  • Neste treinamento iremos adquirir as "artes marciais da Vontade e da Disciplina metal".
  • Estabeleceremos objetivos de vida.
  • Iremos assumir uma Regra de Vida.
  • Teremos um horário diário e viveremos de acordo com ele.
  • Introduziremos processos para "viver conscientemente" durante o dia (monges usam o "exame de consciência"). Prometa a si mesmo melhorar a cada dia.
  • Introduziremos práticas devocionais em nossas vidas, ou uma série de exercícios para ativar a vontade.
    Objetivos da vida

    Horário diário
    5:45 Acordar - Banho.
    6:00 Exercícios Espirituais Matinais - Meditação.
    6:30 Determinar objetivos a serem atingidos durante o dia.
    6:45 Café da manhã.
    7:15 Sair para o trabalho, etc.
    12:30 Exame de Consciência - Analisar eventos do dia - Atuação x Objetivos? Prometer a mim mesmo melhorar.
    19:00 Serviço Doméstico, relações com a familia.
    21:00 Preparação para meditação (meditação principal) Meditação.
    22:15 Análise Crítica dos eventos do dia. Os objetivos do dia foram atingidos? Prometer fazer melhor amanhã.
    23:00 Dormir
    Exame clássico de consciência de Inácio
  • Agradecer a Deus por tudo que tenho recebido.
  • Pedir a Deus a Graça de conhecer meus pecados, impurezas, imperfeições humanas.
  • Necessito de uma recordação da alma, desde o despertar até agora.
    1. Analisar pensamentos
    2. Analisar palavras
    3. Analisar ações.
  • Peço a Deus perdão de minhas próprias imperfeições.
  • Tomo a resolução de melhorar minha vida com a Graça e ajuda deDeus.
    Processo diário do "viver consciente"

    Exercícios para ativar a vontade
  • Os exercícios não implicam julgamento, são apenas exercícios que provam sua vontadede fazer algo determinado contra a força do hábito.
  • Caminhe olhando somente o pé que vai à frente.
  • Concentre-se na chama de uma vela por 15 minutos esvaziando seus pensamentos.
  • Retarde sua reação a barulhos ambientais ou a pessoas que falem com você.
  • Na próxima vez que sair para jantar com alguém, prepare um tópico de conversação de antemão.
  • Não expresse opiniões. Não use as palavras "na minha opinião", não relate fatos ou dê referência a outros.
  • Se numa conversa, alguém começar a fazer fofocas, levante e saia.
  • Faça suas refeições concentrando-se unicamente na ação de comer. Fique atento a qualquer movimento de cada músculo de seu corpo. Prove cada sabor.
  • Movimente-se em absoluto silêncio durante o dia.
    Método inaciano de tomada de decisão
    Este método consiste em:
    • Regras para tomar decisão
    • Tempo para tomada de decisão
    • Testes para uma boa decisão
    Tomando decisões: regras
  • O propósito de se tomar uma decisão é primeiro o de unir o desejo da chama de seu interior (sua alma, seus desejos espirituais) como desejo da chama que esta fora de você (Deus, a Vontade cósmica, etc.).
  • O desejo da chama (Deus, Espiritualidade, o mais elevado Bem espiritual da Humanidade) e o seu desejo devem coincidir pela primeira vez. (Submissão à Vontade Cósmica ou Divina).
  • Se o desejo da chama está na origem, no meio e no fim de suas intenções, então suas decisões são o meio em direção ao propósito da chama.
  • Os desejos e decisões com relação à família, carreira, associações espirituais, obra social, serviço, etc., são apenas meios para executar os desejos da chama.
  • Nenhuma decisão é realmente uma decisão livre, a menos que estejamos imparciais quanto aos resultados!
    A melhor hora para julgar uma decisão

  • Quando os desejos das três chamas (em Deus, na Sociedade e em si mêsmo) coincidirem.
  • Quando as opções se apresentarem em meditação. Considere sua decisão em períodos de consolação e desolação. Preste atenção a sinais recebidos na meditação.
  • Considere sua decisão quando estiver calmo.
    Teste de uma boa decisão
  • Você pode abrir mão dos frutos de sua decisão?
    Regras para o discernimento espiritual
  • As impressões que chegam à sua mente vêm de duas forças opostas. Uma nos dirige à materialidade, a outra à espiritualidade (o Mau Espírito e o Bom Espírito).
  • Para as pessoas que ainda estão vivendo uma opção contra Deus: o Bom Espírito: provoca remorsos, inquieta a consciência. O Mau Espírito: faz sentir prazeres aparentes, excita a imaginação de prazeres e deleites, fazendo a pessoa atolar-se mais e mais na situação de pecado.
  • Para as pessoas que estão buscando crescer na descoberta de Deus ou fizeram uma opção fundamental por Deus e procuram expressar a fé na vivência do amor: o Bom Espírito: provoca ânimo, forças, consolações, inspirações, tranqüilidade, atenuando os impedimentos para que a pessoa continue nos caminhos de Deus. O Mau Espírito: coloca oposições, inquieta com falsas razões, provoca desânimos.
    A arte do discernimento dos espíritos
  • Inácio teve que fazer um grande esforço para penetrar este véu de obscuridade com relação a seus próprios pensamentos e sentimentos, e precisou de um método para discernir estes Espíritos.
  • Esses métodos são dados por Inácio no livro de Exercícios. Consiste em duas séries de Regras uma para iniciantes e outra para discípulos mais adiantados.
    Os exercícios espirituais
  • Tradicionalmente, estes exercícios são feitos num período de quatro semanas.
  • Um retiro é preparado a fim de que o discípulo possa se devotar à prática dos exercícios durante o período de quatro semanas. Os exercícios são realizados sob a direção de um instrutor, que auxilia e guia os discípulos no processo.
  • Estes exercícios tem um profundo poder transformador na vida daquele que os realizam.
  • Não é incomum que percebemos nossa missão individual na vida, ou o que o Cósmico deseja que sege o propósito de nossas vidas.
    Correspondência pitagórica clássica dos exercícios espirituais
    Esquema dos fundos submarinos

    Imagem dos fundos Submarinos:
    Vai nos ajudar a explicar as noções de Pressentimento, Certeza e de Evidência.
    1. A superfície da água é o nível da Consciência.
    2. O Ser não emergiu à consciência. Está mergulhado no inconsciente. Portanto, impossível de se apoiar sobre ele para viver.
    3. É preciso enfrentar a vida. Então, fabricam-se jangadas para viver:
    a. a gente se agarra ao que os outros dizem de nós ou aquilo que nos dizem para fazer.
    b. às vezes, a gente constrói um mundo imaginário no qual se refugia quando a vida é muito dura. Tudo isto é muito precário e frágil.
    4. O Pressentimento: uma vez que o Ser tornou-se mais vivo está prestes a emergir. Nos períodos calmos a gente o pressente. Mas quando a água interior se turva, perde-se o Ser de vista. Vive-se então, das irradiações do Ser, mas sem poder se apoiar nele.
    5 e 6. A Certeza: uma vez que o Ser se tornou mais vivo, emergiu (6). Uma certeza interior nasce como um pico rochoso sobre o qual se pode apoiar o pé. Em seguida, outras certezas emergem. É como um arquipélago ou uma plataforma. Mas a superfície que emergiu está ainda a mercê das tempestades e das marés.
    7. A evidência: há evidência no momento em que a gente não pode mais negar. Tem-se tal experiência desta realidade interior que não se pode mais duvidar.
    Meditações tradicionais de Inácio
    1. Meditações sobre o Pecado Humano e o inferno.
    2. Meditação sobre a vida de Jesus e sua Obra.
    3. Meditações sobre a Paixão.
    4. Meditações sobre a Ressurreição e o Amor Divino.
    Um esquema mais universal das meditações
    1. Meditação sobre a Natureza Humana e sua ligação com a matéria.
    2. Meditação sobre a vida dos avatares, mestres e profetas de todas as religiões.
    3. Meditação sobre a morte da matéria. Morte do Herói.
    4. Meditação sobre o Amor Universal.
    Usar as Faculdades da Alma:
  • Memória: permite recordar as verdades contempladas.
  • Inteligência: ela permite compreender ou pensar sobre a verdade.
  • Vontade: é a inclinação que nos leva a amar.
    Votos
  • Castidade: Qual a qualidade dos nossos pensamentos?
  • Pobreza: Onde estão as verdadeiras necessidades? Para onde tende nosso desejo?
  • Obediência: Quem é nosso senhor? Devemos executar a vontade de Deus

    Exercícios Espirituais de Sto. Inácio de Loyola

    Fundamento: para atingir o fundamento de qualquer exercício espiritual o estudante deve ativar sua vontade e concentração.Reverência - entendimento
    Usar como base os 5 sentidos: Ver, Ouvir, Cheirar, Degustar e Tocar.


    1 Semana: Contemplação dos Pecados, através desta  contemplação o estudante conheceseu "Inferno Astral". Entendimento dos Sentidos. Silêncio Corporal  e Mental.Consolação e Desolação
    Via Purgativa

    2 Semana: "Os Dois Estandartes"
    Ver e entender os opostos, o Binário dentro de cada um.





    2 Semana: "As Obras do Filho"
    Utilizar os 5 sentidos encima da
    Contemplação da Alma.
    Esta Contemplação é feita sobre passagens Bíblicas pre determinadas pelo próprio
    Inácio de Loyola

    Exercícios Espirituais de Sto. Inácio de Loyola 



    3 Semana: "Por Ele, com Ele e Nele".
    Identificação e incorporação dos sentimentos do
    Filho pelo Pai.
    Cristo doloroso

    3 Semana: "O Espírito".Paixão e Crucificação de Cristo



    4 Semana: "Mistérios da Ressurreição".
    "Calor" que a alma sente quando se une
    ao Espírito - Regeneração.


    4 Semana: "Contemplação".
    Sentir e alcançar o Amor Universal.
    O Amor do homem deve estar mais nas suas
    obras do que nas suas palavras.
    Três formas de Orar.
    Análise das Sagradas Escrituras
    pelo terceiro método de Oração.

    Contemplações estipuladas por Sto. Inácio de Loyola 

    Na Segunda Semana 
  • Apresentação de Cristo no Templo.
  • Como o menino Jesus era obediente aos seus pais em Nazaré.
  • Sobre a partida de Cristo desde Nazare até o río Jordão e como foi batizado.
  • Como Cristo foi desde o río Jordán ao deserto.
  • Como Santo André e outros seguiram à Cristo.
  • Sobre o Sermão da Montanha e as oito benaventuranzas.
  • Como Cristo aparesceu a sus discípulos sobre as ondas do mar.
  • Como Cristo pregava no templo.
  • Da resurreição de Lázaro.
  • Sobre o dia de ramos.
    Na Terceira Semana
  • Como Cristo foi desde Bethânia para Jerusalém e participou da última Ceia.
  • Oração preparatoria.
  • Trazer a estória: como Cristo, desde Bethania envia dois discípulos à Jerusalém para preparar a ceia e depois Ele mesmo comparece a ela com o resto deles e como depois de ter comido cordeiro e haver jantado Ele lavou os pés dos discípulos e lhes deu o seu corpo e seu sangue e lhes fez um sermão, depois Judas foi vendê-lo.
  • Ver o caminho desde Bethania à Jerusalém, se é largo, angusto, plano, etc. Assim como o lugar da ceia, se é grande, pequeno, claro, escuro, etc.
  • Ver, ouvir e sentir as pessoas que estão na ceia e tirar o máximo proveito desta visão.
  • Sentir o que Cristo padeceu pela humanidade ao dar o pão e o vinho aos seus discípulos, como a Divindade através deste ato expurga os pecados do homem, como isto pode acontecer em nosso interior ao receber a Eucaristia, como a devoção do filho atuava na presença do Pai.
  • Finalmente estar entre eles, comer, beber e conversar com eles.
  • Cristo no Jardim das Oliveiras.
  • Paixão e Crucificação de Cristo.
  • A Alma de Cristo desce aos infernos e resgata às almas ali aprisionadas.
  • Cristo aparece à Virgem Maria.

    Fonte: http://www.tlcsaojoao.kit.net/inacio/santo_inacio.htm                                 
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    A vida de São Francisco de Assis

    Nascimento e vida familiar de um cavaleiro


    Francisco nasceu em Assis, cidade de Úmbria, no ano 1182.
    Seu pai, Pedro Bernardone, era comerciante. O nome de sua mãe era Pia e alguns autores afirmam que pertencia a uma nobre família da Provença. Tanto o pai como a mãe de Francisco eram pessoas ricas. Pedro Bernardone comerciava especialmente na França. Como muitos falavam nisso quando nasceu seu filho, as pessoas lhe apelidara "Francesco" (em francês), por mais que no batismo recebeu o nome de João. Em sua juventude, Francisco era muito dado as românticas tradições cavalerescas que propagavam os trovadores. Dispunha de dinheiro em abundância e o gastava prodigamente, com ostentação.
    Nem os negócios de seu pai, nem os estudos lhe interessavam muito, mas sim o divertir-se em coisas vãs que comumente se chama "gozar da vida". Sem dúvida, não era de costumes licenciosos e costumava ser muito generoso com os pobres que lhe pediam por amor de Deus.
    Acha de um tesouro

    Quando Francisco tinha uns vinte anos, iniciou a discórdia entre as cidades de Perugia e Assis e na guerra, o jovem caiu prisioneiro. A prisão durou um ano, e Francisco a suportou alegremente. Sem dúvida, quando refez a liberdade, caiu gravemente enfermo. A enfermidade, na que o jovem provou uma vez mais seu paciência, fortaleceu e madurou seu espírito. Quando se sentiu com forças suficientes, determinou ir a combater no exército de Galterio e Briena no sul de Itália. Com esse fim, se comprou uma custosa armadura e um lindo manto. Mas um dia em que passeava ataviado com seu novo traje, se topou com um cavaleiro mal vestido que havia caído na pobreza; movido à compaixão ante aquele infortúnio, Francisco mudou seus ricas roupas pelos de cavaleiro pobre. Essa noite viu em sonhos um esplendido palácio com salas cheias de armas, sobre as qual é se tinha gravado o sinal da cruz e lhe pareceu ouvir uma voz que lhe dizia que essas armas lhe pertenciam e a seus soldados.

    Francisco partiu a Apulia com a alma ligeira e a seguridade de triunfar, mas nunca chegou ao frente de batalha. Em Espoleto, cidade de caminho de Assis a Roma, caiu novamente enfermo e, durante a enfermidade, ouviu uma voz celestial que lhe exortavam a "servir ao amo e no ao servo". O jovem obedeceu. Ao principio voltou a sua antiga vida, ainda que a tomando menos a ligeira. As pessoas, ao vê-lo silencioso, lhe diziam que estava enamorado. "Sim", replicava Francisco, "vou casar-me com uma jovem mais bela e mais formosa que todas as que conheceis". Pouco a pouco, com a muita oração, foi concebido o desejo de vender todos seus bem é e comprar a pérola preciosa de que fala o Evangelho. Ainda ignorava o que tinha que fazer para elo, uma serie de claras inspirações sobrenaturais lhe fez compreender que a batalha espiritual começa pela mortificação e a vitória sobre os instintos. Passando em certa ocasião a cavalo pela vila de Assis, encontrou a um leproso. As chagas de mendigo aterrorizaram a Francisco; mas, em vez de fugir, se acercou ao leproso, que lhe estendia a mão para receber uma esmola. Francisco compreendeu que havia chegado o momento de dar o passo ao amor radical de Deus. A pesar de seu repulsa natural ao leproso, venceu seu vontade, se lhe acercou e lhe deu um beijo. Aquilo mudou sua vida. Foi um gesto movido pelo espírito Santo, pedindo a Francisco uma qualidade de entrega, um "sim" que distingue aos santos dos medíocres. "Francisco, repara minha Igreja, pois e a vês que está em ruínas" ·

    A partir de então, começou a visitar e servir aos enfermos nos hospitais. Algumas vezes presenteava aos pobres seus vestidos, outras, o dinheiro que levava.  Em certa ocasião, enquanto orava na Igreja de São Damião nas aforas de Assis, lhe pareceu que o crucifixo (hoje chamado crucifixo de São Damião) lhe repetia três vezes: "Francisco, repara minha casa, pois olhas que está em ruínas". O santo, vendo que a Igreja se achava em muito mal estado, crendo que o Senhor queria que a reparasse; assim, pois, partiu imediatamente, tomou uma boa quantidade de vestidos da tenda de seu pai e os vendeu junto com seu cavalo. Em seguida levou o dinheiro ao pobre sacerdote que se encarregava da Igreja de São Damião, e lhe pediu permissão de estar e viver com ele. O bom sacerdote consentiu em que Francisco ficasse com ele, mas se negou a aceitar o dinheiro.
    O jovem o depositou na janela. Pedro Bernardone, ao inteirar-se do que havia feito seu filho, se dirige indignado a São Damião.
    Mas Francisco havia tido cuidado de ocultar-se.

    Renuncia a herança de seu pai

    Ao cabo de alguns dias passados em oração e jejum, Francisco voltou a entrar na povoado, mas estava tão desfigurado e mal vestido, que as pessoas riam dele como se fosse um louco. Pedro Bernardone, muito desconcertado pela conduta de seu filho, lhe conduziu a sua casa, lhe golpeou furiosamente (Francisco tinha então vinte e cinco anos), lhe pôs correntes nos pés e lhe encerrou em uma casa. A mãe de Francisco se encarregou de pô-lo em liberdade quando seu marido se achava ausente e o jovem retornou a São Damião. Seu pai foi de novo a busca-lo ali, lhe golpeou na cabeça e lhe mandou voltar imediatamente a sua casa ou a renunciar a sua herança e pagar o preço das roupas que lhe havia tomado. Francisco no teve dificuldade alguma em renunciar a herança, mas disse a seu pai que o dinheiro das roupas pertencia a Deus e aos pobres. Seu pai lhe obrigou a comparecer ante o Bispo Guido de Assis, quem exortou ao jovem a devolver o dinheiro e a ter confiança em Deus: "Deus não deseja que sua Igreja aproveite de bens que são injustamente adquiridos".

    Francisco obedeceu à ordem do Bispo e acrescentou: "As roupas que levo pertencem também a meu pai, tenho que devolve-los". Em seguida se desnudou e entregou suas roupas a seu pai, dizendo-lhe alegremente: "até agora tu tem sido meu pai na terra, mas em adiante poderei dizer: Pai nosso, que estás nos céus."' Pedro Bernardone abandonou o palácio episcopal "tremendo de indignação e profundamente aborrecido". O Bispo regalou a Francisco um velho vestido de lavrador, que pertencia a um de seus servos. Francisco recebeu a primeira esmola de sua vida com grande agradecimento, traçou a sinal da cruz sobre a roupa e se o foi.

    Chamado a renuncia e a negação


    Em seguida, partiu em busca de um lugar conveniente para ficar. Ia cantando alegremente as glórias divinas pelo caminho, quando topou com uns bandoleiros que lhe perguntaram quem era. O respondeu: "Sou o arauto de um grande Rei". Os bandoleiros lhe golpearam e lhe atiraram em um fosso coberto de neve. Francisco prosseguiu seu caminho cantando as divinas glórias. Em um monastério obteve esmola e trabalho como se fosse um mendigo. Quando chegou a Gubbio, uma pessoa que lhe conhecia lhe levou a sua casa e lhe deu uma túnica, um cinturão e umas sandálias de peregrino. Para reparar a Igreja, foi a pedir esmola em Assis, donde todos lhe haviam conhecido rico e, naturalmente, houve de suportar as brincadeiras e o desprezo de mais de um mal intencionado. O mesmo se encarregou de transportar as pedras que faziam falta para reparar a Igreja e ajudou no trabalho. Uma vez terminadas as reparações na Igreja de São Damião, Francisco empreendeu um trabalho semelhante na antiga Igreja de São Pedro.

    Depois, se trasladou a uma capela chamada Porciúncula, que pertencia à abadia beneditina de Monte Subasio. Provavelmente o nome da capela aludia ao feito de que estava construída em uma reduzida parcela de terra. A Porciúncula se achava a uns quatros kilômetros de Assis e, naquela época, estava abandonada e quase em ruínas. A tranqüilidade do lugar agradou a Francisco tanto como o titulo de Nossa Senhora dos Anjos, em cuja honra havia sido erigida à capela. Francisco a reparou e fixou nela sua residência. Ali lhe mostrou finalmente o céu o que esperava por ele, no dia da festa de São Matias de ano 1209. Naquela época, o evangelho da Missa da festa dizia: "Ide a pregar, dizendo: o Reino de Deus tinha chegado. Dai gratuitamente o que haveis recebido gratuitamente. Não possuas ouro, nem duas túnicas, nem sandálias. Aqui que vos envio como Cordeiros em meio dos lobos". Estas palavras penetraram até o mais profundo no coração de Francisco e este, aplicando-as literalmente, tirou seus sandálias, e seu cinturão e ficou somente com a pobre túnica cingida com um cordão. Tal foi o hábito que deu a seus irmãos um ano mais tarde: a túnica de lã dos pastores e camponeses da região. Vestido dessa forma começou a exortar a penitência com tal energia, que suas palavras enchiam os corações de seus ouvintes. Quando se topava com alguém no caminho, lhe saudava com estas palavras: "A paz de Senhor seja contigo".
    Dons Extraordinários

    Deus lhe havia concedido e a o dom de profecia e o dom de milagres. Quando pedia esmola para reparar a Igreja de São Damião, costumava dizer: "ajudai-me a terminar esta Igreja.  um dia haverá ali um convento de religiosas em cujo bom nome se glorificarão o Senhor e a universal Igreja".
    A profecia se verificou cinco anos mais tarde em Santa Clara e seus religiosas. Um habitante de Espoleto sofria de um câncer que lhe havia desfigurado horrivelmente o rosto. Em certa ocasião, ao cruzar com São Francisco, o homem tentou jogar-se a seus pés, mas o santo teve piedade e lhe beijou no rosto. O enfermo ficou instantaneamente curado. São Boas Ventura comentava a este propósito: "Não se há, que admirar mais o beijo ou o milagre ".
    Nova ordem religiosa e visita ao Papa

    Francisco teve numerosos seguidores e alguns queriam fazer se discípulos seus. O primeiro discípulo foi Bernardo de Quintavale, um rico comerciante de Assis. Ao principio Bernardo via com curiosidade a evolução de Francisco e com freqüência lhe visitava a sua casa, donde lhe tinha sempre preparado um leito. Bernardo se fingia dormido para observar como o servo de Deus se levantava silenciosamente e passava largo tempo em oração, repetindo estas palavras: "Meu Deus e meu tudo". Ao fim, compreendeu que Francisco era "verdadeiramente um homem de Deus e em seguida lhe suplicou que lhe admitisse como discípulo. Desde então, juntos assistiam a Missa e estudavam a Sagrada Escritura para conhecer a vontade de Deus. Como as indicações da Bíblia concordavam com seus propósitos, Bernardo vendeu quanto tinha e repartiu o produto entre os pobres. Pedro de Cataneo, cônego da catedral de Assis, pediu também a Francisco que lhe admitisse como discípulo e o santo lhes "concedeu o hábito" aos dois juntos, o 16 de abril de 1209.
    O terceiro companheiro de São Francisco foi o irmão Gil, famoso por seu grande sensatez e sabedoria espiritual. Em 1210, quando o grupo contava e a com doze membros, Francisco relatou uma regra breve e informal que consistia principalmente nos conselhos evangélicos para alcançar a perfeição.
    Com ela se foram a Roma apresenta-la para aprovação de Sumo Pontífice. Viajaram a pé, cantando e rezando, cheios de felicidade, e vivendo das esmolas que as gentes lhes davam. Em Roma não queriam aprovar esta comunidade porque lhes parecia demasiado rígida quanto a pobreza, mas ao fim um cardeal disse: "Não lhes podemos proibir que vivam como mandou Cristo no evangelho". Receberam a aprovação, e voltaram a Assis a viver em pobreza, em oração, em santa alegria e grande fraternidade, junto a Igreja da Porciúncula.

    Inocêncio III se mostrou adverso ao principio. Por outra parte, muitos cardeais opinavam que as ordens religiosas e a existentes necessitavam de reforma, não de multiplicação e que a nova maneira de conceber a pobreza era impraticável. O cardeal João Colonna achegou em favor de Francisco que sua regra expressava os mesmos conselhos com que o Evangelho exortavam a perfeição. Mais tarde, o Papa relatou a seu sobrinho, quem a sua vez o comunicou a São boa ventura, que havia visto em sonhos uma palmeira que crescia rapidamente e depois, havia visto a Francisco sustentando com seu corpo a basílica que estava a ponto de cair. Cinco anos depois, o mesmo Pontífice teria um sonho semelhante a propósito de Santo Domingo. Inocêncio III mandou, pois, chamar a Francisco e aprovou verbalmente sua regra; em seguida lhe impôs o corte dos cabelos, assim como aos seus companheiros e lhes deu por missão pregar a penitência.

    A Porciúncula

    São Francisco e seus companheiros se mudaram provisoriamente a uma cabana, fora de Assis, de donde saiam a pregar por toda a região. Pouco depois, tiveram dificuldades com um camponês que reclamava a cabana para usa-la como estábulo de seu asno. Francisco respondeu: " Deus não nos tinha chamado a preparar estábulos para os asnos", e em seguida abandonou o lugar e partiu para ver o abade de Monte Subasio. Em 1212, o abade deu a Francisco a capela da Porciúncula, na condição de que a conservasse sempre como a Igreja principal da nova ordem. O santo se negou a aceitar a propriedade da capela e apenas a admitiu emprestada. Em prova de que a Porciúncula continuava como propriedade dos beneditinos, Francisco lhes enviava cada ano, a maneira de recompensa pelo préstimo, uma cesta de pescados colhidos no riacho vizinho. Por seu parte, os beneditinos correspondiam enviando-lhe um tonel de azeite. Tal costume ainda existe entre os franciscanos de Santa Maria dos Anjos e os beneditinos de São Pedro de Assis.

    Ao redor da Porciúncula, os frades construíram várias cabanas primitivas, porque São Francisco não permitia que a ordem em geral e os conventos em particular, possuíssem bens temporais. Havia feito da pobreza o fundamento de sua ordem e seu amor a pobreza se manifestava em sua maneira de vestir-se, nos utensílios que usava em cada um de seus atos. Costumava chamar a seu corpo "o irmão asno", porque o considerava como feito para transportar carga, para receber golpes e para comer pouco e mal.

    Quando via ocioso a algum frade, lhe chamava "irmão mosca" porque em vez de cooperar com os demais atrapalhava o trabalho dos outros.
    Pouco antes de morrer, considerando que o homem está obrigado a tratar com caridade a seu corpo, Francisco pediu perdão ao seu corpo por ter o tratado talvez com demasiado rigor. O santo se havia oposto sempre as austeridades indiscretas e exageradas. Em certa ocasião, vendo que um frade havia perdido o sono por causa de excessivo jejum, Francisco lhe levou alimento e comeu com ele para que se sentisse menos mortificado.
    Deus lhe outorga sabedoria.

    A principio de sua conversão, vendo se atacado de violentas tentações de impureza, saia a deitar-se desnudo sobre a neve. Certa vez em que a tentação foi todavia mais violenta que de costume, o santo se disciplinou furiosamente; como isso não bastasse para acabar com ela, acabou por rolar sobre as sarças e os abrolhos. Sua humildade não consistia simplesmente em um desprezo sentimental de si mesmo, mas sim na convicção de que "ante os olhos de Deus o homem vale pelo que é e não mais". Considerando se indigno do sacerdócio, Francisco apenas chegou a receber o diaconato.
    Detestava de todo coração as singularidades. Assim quando lhe contaram que um dos frades era tão amante do silêncio que apenas se confessava por sinais, respondeu com desgosto: "Isso não procede do Espírito de Deus mas sim do demônio; é uma tentação e não um ato de virtude ". Deus iluminava a inteligência de seu servo com uma luz de sabedoria que não se encontra nos livros. Quando certo frade lhe pediu permissão de estudar, Francisco lhe contestou que, se repetisse devoção o "glória Patri", chegaria a ser sábio aos olhos de Deus e ele mesmo era o melhor exemplo da sabedoria adquirida dessa forma.

    A Natureza

    Seus contemporâneos falam com freqüência do carinho de Francisco pelos animais e do poder que tinha sobre eles.

    Aventura de amor com Deus

    Os primeiros anos da ordem em Santa Maria dos anjos foram um período de treinamento na pobreza e a caridade fraternas. Os frades trabalhavam em seus ofícios e nos campos vizinhos para ganhar o pão de cada dia. Quando não havia trabalhou suficiente, saiam a pedir esmola de porta em porta; mas o fundador lhes havia proibido que aceitassem dinheiro. Estavam sempre prontos a servir a todo o mundo, particularmente aos leprosos. São Francisco insistia em que chamassem aos leprosos "meus irmãos cristãos" e aos enfermos não deixavam de prestar esta profunda delicadeza.

    Santa Clara

    Clara havia partido de Assis para seguir a Francisco, na primavera de 1212, depois de ouvi-lo pregar. O santo conseguiu estabelecer a Clara e suas companheiras em São Damião, e a comunidade de religiosas chegou a ser, para os franciscanos, o que as monjas de Prouile haviam de ser para os dominicanos.

    Evangeliza aos maometanos

    No outono desse ano, Francisco, não contente com tudo o que havia sofrido e trabalhado pelas almas na Itália, resolveu ir evangelizar aos maometanos.
    Assim pois, se embarcou em Ancona com um companheiro rumo a Síria; mas uma tempestade fez naufragar a nave na costa de Dalmacia. Como os frades não tinham dinheiro para prosseguir a viajem se viram obrigados a esconder se furtivamente em um navio para voltar a Ancona. Depois de pregar um ano no centro de Itália, São Francisco decidiu partir novamente a pregar aos maometanos em Marrocos. Mas Deus tinha disposto que não chegasse nunca a seu destino: o santo caiu enfermo na Espanha e, depois, teve que retornar a Itália.

    A humildade e Obediência

    São Francisco deu a sua ordem o nome de "frades Menores" por humildade, pois queria que seus irmãos fossem os servos de todos e buscassem sempre os lugares mais humildes. Com freqüência exortava a seus companheiros ao trabalho manual e, se bem lhes permitia pedir esmola, lhes tinha proibido que aceitassem dinheiro. Pedir esmola não constituía para ele uma vergonha, era uma maneira de imitar a pobreza de Cristo. O santo não permitia que seus irmãos pregassem em uma diocese sem permissão expressa do Bispo. Entre outras coisas, dispôs que "se algum dos frades se apartava da fé católica em obras ou palavras e não se corrigia, deveria ser expulsado da irmandade". Todas as cidades queriam ter o privilégio de albergar aos novos frades, e as comunidades se multiplicaram na Umbria, Toscana, Lombardia e Ancona.

    Cresce a ordem

    Se conta que em 1216, Francisco solicitou do Papa Honório III a indulgência da Porciúncula o "perdão de Assis ". No ano seguinte, conheceu em Roma a Santo Domingo, quem havia pregado a fé e a penitência no sul da França na época em que Francisco era "um gentil homem de Assis ". São Francisco tinha também a intenção de ir pregar na França. Mas, como o cardeal Ugolino (quem foi mais tarde Papa com o nome de Gregório IX) lhe dissuadiu disso, enviou em seu lugar aos irmãos Pacifico e Agnelo. Este último havia de introduzir mais tarde a ordem dos frades menores na Inglaterra.
    O sábio e bondoso cardeal Ugolino exerceu uma grande influência no desenvolvimento da ordem. Os companheiros de São Francisco eram tão numerosos, que se imponha forçosamente certa forma de organização sistemática e de disciplina comum. Assim pois, se procedeu a dividir a ordem em províncias, a frente de cada uma das quais se pôs um ministro, encarregado do bem espiritual dos irmãos;se algum deles chegasse a perder se pelo mal exemplo de ministro, este teria que responder por ele ante Jesus Cristo".

    Os frades haviam cruzado os Alpes e tinham missões na Espanha, Alemanha e Hungria. O primeiro capitulo geral se reuniu na Porciúncula, em Pentecostes do ano de 1217. Em 1219, teve lugar o capitulo "das esteiras", assim chamado pelas cabanas que construíram precipitadamente com esteiras para albergar aos que chegavam. Se conta que se reuniram então cinco mil frades. Francisco lhes insistia em que amassem muitíssimo a Jesus Cristo e a Santa Igreja Católica, e que vivessem com o maior desprendimento possível, e não se cansava de recomendar-lhes que cumprissem o mais exatamente possível tudo o que manda o Santo Evangelho. Recorria campos e povos convidando as pessoas a amar mais a Jesus Cristo, e repetia sempre: 'O Amor não é amado".

    As pessoas lhe escutavam com especial carinho e se admiravam muito que seus palavras influíam nos corações para entusiasma-los por Cristo e sua Verdade. Propuseram que pedisse ao Papa permissão para que os frades pudessem pregar em as todas partes sem autorização do Bispo, Francisco respondeu: "quando os Bispos verem que vives santamente e que não tens intenções de atentar contra sua autoridade, serão os primeiros em pedir que trabalheis pelo bem das almas que lhes tem sido confiadas. Considerai como o maior dos privilégios o de não gozar de privilégio algum..." ao terminar o capitulo, São Francisco enviou alguns frades a primeira missão entre os infiéis de Túnis e Marrocos e se reservou para si a missão entre os sarracenos do Egito e Síria. Em 1215, durante o Concílio de Letram, o Papa Inocêncio III havia pregado uma nova cruzada, mas tal cruzada se havia reduzido simplesmente a reforça o Reino Latino do Oriente. Francisco queria empunhar a espada de Deus. São Francisco, foi a terra Santa a visitar em devota peregrinação os Santos Lugares donde Jesus nasceu, viveu e morreu: Belém, Nazaré, Jerusalém, etc. Em lembrança desta piedosa visita sua, os franciscanos estão encarregados desde séculos de custodiar os Santos Lugares da Terra Santa.

    Missionário ante o Sultão

    Em junho de 1219, embarcou em Ancona com doze frades. O navio os conduziu a desembocadura do Nilo. Os cruzados haviam posto sítio a cidade, e Francisco sofreu muito ao ver o egoísmo e os costumes dissolutos dos soldados da cruz. Consumido pelo zelo da salvação dos sarracenos, decidiu passar ao campo do inimigo, por mais que os cruzados lhe dissessem que a cabeça dos cristãos estavam postas a prêmio. Havendo conseguido a autorização, Francisco e o irmão Iluminado se aproximaram ao campo inimigo, gritando: " Sultão, sultão!" quando os conduziram a presença de Malek-al-Kamil, Francisco declarou ousadamente. "Não são os homens quem me tem enviado, mas sim Deus todo poderoso. Venho a mostrar, a ti e a teu povo, o caminho da salvação; venho a anunciar as verdades do Evangelho."

    O sultão ficou impressionado e rogou a Francisco que permanecesse com ele. O santo replicou: "Se vós e teu povo estais dispostos a ouvir a palavra de Deus, com gosto estarei com vocês. E se todavia vacilais entre Cristo e Maomé, manda acender uma fogueira. Eu entrarei nela com vossos sacerdotes e assim vereis qual é a verdadeira fé. O sultão contestou que provavelmente ninguém dos sacerdotes queria entrar na fogueira e que não podia submete-los a essa prova para não sublevar o povo. Contam que o Sultão chegou a dizer: ¨se todos os cristãos fosse como ele, então valeria a pena ser cristão¨.
    Mas o sultão, Malek-al-Kamil, mandou que Francisco voltasse ao campo dos cristãos. Desalentado ao ver o reduzido êxito de sua pregação entre os sarracenos e entre os cristãos, o santo passou a visitar os Santos Lugares. Ali recebeu uma carta na qual seus irmãos lhe pediam urgentemente que retornasse a Itália.

    A crises de acomodamento leva a clarificar a regra

    Durante a ausência de Francisco, seus dois vigários, Mateo de Narnem e gregório de Nápoles, haviam introduzido certas inovações que pretendia uniformizar os frades menores com as outras ordens religiosas e a enquadrar o espírito franciscano no rígido esquema da observância monástica e das regras ascéticas.

    As religiosas de São Damião tinham uma constituição própria, relatada pelo cardeal Ugolino sobre a base da regra de São Bento. Ao chegar a Bolonha, Francisco teve a desagradável surpresa de encontrar a seus irmãos hospedados em um esplêndido convento. O santo se negou a por os pés nele e viveu com os frades pregadores. Em seguida mandou chamar ao guardião do convento franciscano, lhe repreendeu severamente e lhe ordenou que os frades abandonassem a casa. Tais acontecimentos tinham aos olhos do santo as proporções de uma verdadeira traição: se tratava de uma crise da qual teria que sair a ordem sublimada ou destruída. São Francisco se trasladou a Roma onde conseguiu que Honório III nomeasse o cardeal Ugolino protetor e conselheiro dos franciscanos, pois ele havia depositado uma fé cega no fundador e possuía uma grande experiência nos assuntos da Igreja. Ao mesmo tempo, Francisco se entregou ardentemente a tarefa de revisar a regra, para o que convocou a um novo capitulo geral que se reuniu na Porciúncula em 1221.

    O santo apresentou aos de longe a regra revisada. O que se referia a pobreza, a humildade e a liberdade evangélica, característica da ordem, ficava intacto. Ele constituía uma espécie de direito de fundador aos dissidentes e legalistas que, escondidos tramavam uma verdadeira revolução do espírito franciscano. O chefe da oposição era o irmão Elias de Cortona. O fundador havia renunciado a direção da ordem, de sorte que seu vigário, frei Elias, era praticamente o ministro geral. Sem dúvida, não se atreveu a opor-se ao fundador, a quem respeitava sinceramente.

    Na realidade, a ordem era demasiado grande, como o disse o próprio São Francisco: "Se tivesse menos frades menores, o mundo os veria menos e desejaria que fossem mais". Ao fim de dois anos, durante os quais houve de lutar contra a corrente cada vez mais forte que pretendia modificar a ordem em uma direção que ele não havia previsto e que lhe parecia comprometer o espírito franciscano, o santo empreendeu uma nova revisão da regra.
    Depois a comunicou ao irmão Elias para que este a passasse aos ministros, mas o documento se extraviou e o santo houve de ditar novamente a revisão ao irmão Leão, em meio ao clamor dos frades que afirmavam que a proibição de possuir bens em comum era impraticável.

    A regra, tal como foi aprovada por Honório III em 1223, representava substancialmente o espírito e o modo de vida pelo qual havia lutado São Francisco desde o momento em que se despojou de suas ricas vestes ante o Bispo de Assis.

    A Terceira Ordem

    Uns dois anos antes São Francisco e o cardeal Ugolino haviam relatado uma regra para a confraria de leigos que se haviam associado aos frades menores e que correspondia ao que atualmente chamamos terceira ordem, fincada no espírito da "Carta a todos os cristãos ", que Francisco havia escrito nos primeiros anos de sua conversão.

    A confraria, formada por leigos entregados a penitência, que levavam uma vida muito diferente da que se acostumava então, chegou a ser uma grande força religiosa na idade Media.

    No direito canônico atual, os terciários das diversas ordens gozam, todavia de um estatuto especificamente diferente da dos membros das confrarias e congregações marianas.

     

    A representação de Nascimento de Jesus

    São Francisco passou o Natal de 1223 em Grecehio, no vale de Rieti. Em tal ocasião, havia dito a seu amigo, João da Velita- "Quisera fazer uma espécie de representação vivente do nascimento de Jesus em Belém, para presenciar, por dizer assim, com os olhos do corpo a humildade da Encarnação e vê-lo recostado no casebre entre o boi e o burrinho". Em efeito, o santo construiu então na ermita uma espécie de cova e os camponeses dos arredores assistiram a Missa da meia noite, na qual Francisco atuou como diácono e pregou sobre o mistério do Natal. Lhe atribui ter começado naquela ocasião a tradição de "Belém" o "nascimento ".

    Nos disse Tomas Celano em sua biografia do santo: "A Encarnação era um componente chave na espiritualidade de Francisco. Queria celebrar a Encarnação de forma especial. Queria fazer algo que ajudasse a gente a recordar ao Cristo menino e como nasceu em Belém". São Francisco permaneceu vários meses no retiro de Grecehio, consagrado a oração, mas ocultou zelosamente aos olhos dos homens as graças especialíssimas que Deus lhe comunicou na contemplação.

    O irmão Leon, que era seu secretário e confessor, afirmou que lhe havia visto várias vezes durante a oração elevar-se tão alto sobre o solo, que apenas podia alcançar-lhe os pés e, em certas ocasiões, nem sequer isso.

    Os Estigmas

    Perto da festa da Assunção de 1224, o santo se retirou ao Monte Alvernia e construiu ali uma pequena cela. Levou consigo ao irmão Leon, mas proibiu que fossem visitar-lhe até depois da festa de São Miguel. Ali foi onde teve lugar, próximo de dia da Santa Cruz de 1224, o milagre dos estigmas, de que falamos no 17 de setembro. Francisco tratou de ocultar aos olhos dos homens os sinais da paixão de Senhor que tinha impressas no corpo; Por ele, a partir de então levava sempre as mãos dentro das mangas do hábito e usava meias e sapatos. Sem dúvida, desejando o conselho de seus irmãos, comunicou o sucedido ao irmão Iluminado e alguns outros, mas escondeu que lhe haviam sido reveladas certas coisas que jamais descobriria homem algum sobre a terra.

    Em certa ocasião em que se achava enfermo, alguém propôs que se lhe lesse um livro para distrair. O santo respondeu: "Nada me ajudai tanto como a contemplação da vida e paixão do Senhor. Ainda que tivesse que viver até o fim de mundo, com somente esse livro me bastaria. Francisco havia se enamorado da santa pobreza enquanto contemplava a Cristo crucificado e meditava na nova crucificação que sofria na pessoa dos pobres. O santo não desapreciava a ciência, mas não a desejava para seus discípulos. Os estudos apenas tinham razão de ser para Deus como um fim e apenas podiam aproveitar aos frades menores, se não lhes impe dizem de consagrar a oração um tempo.

    Francisco se aborrecia dos estudos que alimentavam mais a vaidade que a piedade, porque impediam a caridade e secavam o coração. Sobre todo, temia que a senhora ciência se convertesse em rival da dama Pobreza. Vendo com quanta ansiedade que acudiam as escolas e buscavam os livros seus irmãos, Francisco exclamou em certa ocasião: "Impulsionados pelo mal espírito, meus pobres irmãos acabaram por abandonar o caminho da sensatez e da pobreza". Antes de sair de Monte Alvernia, o santo compôs o "Hino de adoração ao Altíssimo ". Pouco depois da festa de São Miguel desceu finalmente ao vale, marcado pelos estigmas da paixão e curou aos enfermos que saíram atrás dele.

    A irmã morte

    As quentes areias do deserto do Egito afetaram a vista de Francisco até o ponto de estar quase completamente cego. Os dois últimos anos da vida de Francisco foram de grandes sofrimentos. Fortes dores devido ao deterioração de muitos de seus órgãos (estômago, fígado e o baço), conseqüências da malária contraída no Egito. Nas mais terríveis dores, Francisco oferecia a Deus tudo como penitência, pois se considerava grande pecador e para a salvação das almas. Era durante sua enfermidade e dor onde sentia a maior necessidade de cantar. Sua saúde ia piorando, os estigmas lhe faziam sofrer e lhe debilitavam e quase havia perdido a visão. No verão de 1225 esteve tão enfermo, que o cardeal Ugolino e o irmão Elias lhe obrigaram a por-se em mãos do médico do Papa em Rieti. O santo obedeceu com sensatez. No caminho a Rieti foi a visitar a Santa Clara no convento de São Damião.

    Ali, em meio dos mais agudos sofrimentos físicos, escreveu o "Cântico do irmão sol" e o adaptou a uma toada popular para que seus irmãos pudessem canta-lo. Depois se trasladou a Monte Rainerio, onde se submeteu ao tratamento brutal que o médico lhe havia prescrito, mas a melhora que ele lhe produziu foi apenas momentânea. Seus irmãos lhe levaram então a Siena a consultar a outros médicos, mas o santo estava moribundo.

    No testamento que ditou para seus frades, lhes recomendava a caridade fraterna, os exortava a amar e observar a santa pobreza e a amar e honrar a Igreja. Pouco antes de sua morte, ditou um novo testamento para recomendar a seus irmãos que observassem fielmente a regra e trabalhassem manualmente, não pelo desejo de lucro, mas sim para evitar a ociosidade e dar bom exemplo. "Se não nos pagam nosso trabalho, acudamos a mesa do Senhor, pedindo esmola de porta em porta".

    Quando Francisco voltou a Assis, o Bispo lhe hospedou em sua própria casa. Francisco rogou aos médicos que lhe dissessem a verdade, e estes confessaram que apenas lhe restava umas semanas de vida. " Bem vinda, irmã Morte!", exclamou o santo em seguido, pediu que lhe transportassem a Porciúncula. Pelo caminho, quando a comitiva se achava no cume de uma colina, da qual se via o panorama de Assis, pediu aos que portavam a cama que se detivessem um momento e então voltou seus olhos cegos em direção a cidade e implorou as benções de Deus para ela e seus habitantes.
    Depois mandou aos irmãos que se apressassem a leva-lo a Porciúncula. Quando sentiu que a morte se aproximava, Francisco enviou um mensageiro a Roma para chamar a nobre dama Giacoma di Setesoli, que havia sido sua protetora, para rogar lhe que trouxesse consigo alguns círios e um pano para a amortalha, assim comeu uma porção de um pastel que ele gostava muito. Felizmente, a dama chegou a Porciúncula antes que o mensageiro partisse.
    Francisco exclamou: " Bendito seja Deus que nos tinha enviado a nossa irmã Giacoma! a regra que proíbe a entrada das mulheres não afeta a nossa irmã Giacoma. Diga-lhe que entre". O santo enviou uma última mensagem a Santa Clara e a suas religiosas e pediu a seus irmãos que entoassem os versos do "cântico de Sol" enquanto esperava a morte. Em seguida rogou que lhe trouxessem um pão e o repartiu entre os presentes em sinal de paz e de amor fraternal dizendo: "Eu tenho feito quanto pude de minha parte, que Cristo os ensine a fazer o que está da vossa".

    Seus irmãos lhe estenderam por terra e lhe cobriam com um velho hábito. Francisco exortou a seus irmãos ao amor de Deus, da pobreza e do Evangelho, "por encima de todas as regras", e bendisse a todos seus discípulos, tanto aos presentes como aos ausentes. Morreu no dia três de outubro de 1226, depois de escutar a leitura da Paixão do Senhor segundo São João. Francisco havia pedido que lhe sepultassem no cemitério dos criminosos de Cole d'lnferno. Em vez de fazer assim, seus irmãos levaram no dia seguinte o cadáver em solene procissão a Igreja de São Jorge, em Assis. Ali esteve depositado até dois anos depois da canonização. Em 1230, foi secretamente trasladado a grande basílica construída pelo irmão Elias. O cadáver desapareceu da vista dos homens durante seis séculos, até que em 1818, após cinqüenta e dois dias de busca, foi descoberto sob o altar mor, a vários metros de profundidade. O santo não tinha mais que quarenta e quatro ou quarenta e cinco anos ao morrer.
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                      Santa Teresa de Lisieux

    Teresa Martin nasceu em Aleçon (Orne), pequeno lugarejo da Normandia francesa, no dia 2 de janeiro de 1873 da uma familia rica de profunda fé cristã, última de oito filhos, 3 destes morrerão pequenos, porque naquele tempo a mortalidade infatil não tinha sido vencida. Todavia apesar das tragédias na familia Martin reina uma sólida fé que os consente de passar qualquer problema à presença de Deus.

    O pai Louis Martin nascido no dia 22 de Agosto em Bordeaux, era relojoeiro, tinha aprendido o seu trabalho na Suiça, desde menino tinha seguido seu pai em Avignone, Strasburgo e assim conheceu a vida dos campos militares até que este se aposentou e se transferiram a Aleçon no ano de 1830. Louis aos 22 anos sonha uma vida religiosa e se apresenta ao mosteiro do Grande São Bernardo mas não vem aceitado porque não conhecia o latim, todavia por oito anos conduz uma vida quase monástica, toda dedicada ao trabalho, a oração e a leitura.

    A mãe Zélie Guérin, nascida o dia 23 de Dezembro de 1831 em uma familia de origem humilde, foi educada por um pai autoritário e por uma mãe muito severa, também ela pensa à vida religiosa, mas o seu pedido de ser acolhida nas freiras do Hotel Dieu d’Aleçon foi negada e então se lança na fabricação do "Ponto de Aleçon" abre uma loja e se transforma em uma hábil trabalhadora e terá sucesso.

    Já desde o seu nascimento, Teresa conhece o sofrimento: a somente quinze dias de vida risca de morrer devido a uma enterite aguda. Com dois meses Teresa supera uma crise porém a mãe foi obrigada, sob conselho médico, de separar-se da filha e dá-la por um período a uma ajudante.

    Com quatro anos Teresa perde a mãe, devido a um cancer no seio, todavia as irmãs fazem do melhor para crescer a pequena Teresa, no mesmo período se transferem a Lisieux (Calvados). Com nove anos quando sua irmã Paulina, a sua "pequena mãe", entra ao Carmelo da cidade, Teresa cai gravemente doente. Ninguém sabe diagnosticar a doença. Teresa, familiares e amigos oram muito. No dia 13 de Maio de 1883, quando já parecia inevitável a morte, Teresa vê a Virgem sorridente e imediatamente se restabelece. A cura repentna e aquele sorriso materno de Maria a fazem ainda mais determinada a realizar o sonho de sempre ou seja, consagrar-se totalmente ao Amor. Na primeira comunhão (8 de Maio de 1884) Teresa experimentou de sentir-se amada "foi um beijo de amor, me sentia amada e dizia também: Te amo, me dou a ti para sempre".

    Sucessivamente também a primogenita Maria entra no Carmelo. Aos 14 anos, Teresa anuncia ao pai a intenção de entrar no Carmelo. Aos 15 anos (o 9 abril 1888) passa pelo portão da clausura, depois de ter obtido – considerada a sua jovem idade – uma autorização particular do papa Leão XIII, que encontrou no dia 20 de novembro de 1887 em Roma. No Carmelo era calmíssima e reencontrou a paz, que não a abandonou mais, nem durante a prova. A madre Gonzaga, apesar da jovem idade de Teresa a tratava com severidade, todavia ela nunca se lamentou.

    No entanto as condições do pai pioravam. A arterioesclerose devastou o pai de Teresa que foi interdito e internado por três anos em um hospital. Este fato lhe deu uma terrível dor.

    Mas as provas maiores para ela não foram aquela da saúde, mas a "noite" do espirito que a coenvolveu por 18 meses. Experimentou isto não através das frequentações dos ateus, mas no silencio de Deus entendeu a condição do ateu: "Deus permitiu que a alma minha fosse invadida pelas trevas e que o pensamento do Céu, dulcíssimo para mim, não existisse, mas era somente luta e tormento".

    A sua saúde ruim todavia não resistia muito tempo ao rigor da regula carmelitana e no dia 30 de setembro de1897, à idade de 24 anos, morrerá de tubercolose, vivendo dia a dia os seus sofrimentos em perfeita união a Jesus Cristo morto em cruz, para a salvação dos homens.

    Este período de nove anos transcorridos em uma vida de religiosa, aparentemente sem importância, terão um maravilhoso significado espiritual, tanto mais forte se se considera que naquela época muitas pessoas simples, graças ao seu exemplo, se sentem de poder imitar e alcançar o mesmo nível desta alma sem pretender nada ou sem complicações, mas todavia muito exigente com si mesma. Aquela de Teresa é a "estrada da infância", ou "pequena estrada" que faz reconhecer a própria miséria e se abandona com confiança à bondade de Deus como uma criança nos braços de sua mãe.

    Na vida de Teresa tudo é um contraste. A sua linguagem é pobre e frequentemente infantil, mas o seu pensamento é genial. A sua vida aparentemente sem dramas é invés uma tragédia de fé. A sua existência se é passada entre quatro paredes do Carmelo, no entanto a sua mensagem é universal.

    Teresa escreveu muito. Compôs tres manuscritos, um no ano de 1895, "Historia de uma alma" (chamado manuscrito A), autobiografia escrita porque pedida pela irmã Paulina (madre Agnese) um outro no ano 1897 (chamado manuscrito B), ano em que escreve para obedecer à sua priora. As suas irmãs depois recolheram as suas "últimas conversações" no maio de 1897 no dia da sua morte (este chamado manuscrito C). Ficam admirados também pelo grande número de cartas enviadas à familia e das numerosas poesias que compôs. Teresa sofreu muito. As provas espirituais que passou no curso desta vida escondida (noite da fé, vazio espiritual, tentação de não crer) a fazem muito perto àqueles que duvidam e não creem.

    Teresa é conhecida quando morre em 1897, mas quando vem canonizada venti oito anos mais tarde, em 1925, a fama da sua santidade se é espalhada rapidamente no mundo inteiro: Lisieux será uma das destinações mais procuradas da grande massa de fiéis de todas as partes do mundo. Teresa vem proclamada, no mesmo ano, sempre pelo papa Pio XI padroeiro universal das Missões, - que ela rezou sempre sem trégua –padroeira da França, como Joana d’Arco.

    Em 1997, centenário da sua morte, Teresa é declarada "Doutora da Igreja", a terceira mulher que alcança o máximo de consideração teolgóica em dois mil anos de Cristianismo, depois de Santa Caterina de Siena e Santa Teresa d’Avila.

    O santo é visto como um protótipo que polariza as energias e indica como realizar o Evangelho em uma determinada época. S. Teresa de Lisieux é profundamente moderna porque ajuda o espirito e o coração a fundir as coisas da terra àquelas do céu e entender as coisas de Deus, do seu Amor, aos comportamentos mais concretos.

    Na linguagem de hoje se fala frequentemente de tensão, para exprimir a dificuldade que tem um homem em viver coscientemente a nível espiritual. S. Teresa nos oferece um equilíbrio harmonioso. Por este motivo pode ser facilmente utilizada como modelo de vida espiritual.

    A jovem carmelitana põe a santidade evangélica facilmente a todos inserindo-a no normal modo de viver e do seu ímpeto missionário, se irradia a mais genuina contemplação que invade toda a sua incredível fecundidade apostólica.

    A "pequena estrada" proposta por Teresa consiste em soltar o dinamismo da esperança através da dinamica de uma confiança total, para poder alcançar o fim do caminho, por assim dizer, com as mãos vazias: apesar da criatura seja empenhada a executar e cultivar todas as obras de Amor, as mãos devem ser repletas somente das obras e dos méritos do próprio Deus.

    Para Teresa todos nós somos chamados a alcançar o cume da montanha do Amor e os Santos são aqueles que conseguiram subir sobre a montanha cujo cume se perde no céu. Teresa não se é nunca interrogada sobre o caminho que a teria conduzida à "Montanha do Amor" mas se deixou conduzir por Jesus em total abandono.

    E próprio o Amor Infinito que, abaixando-se sobre a criatura, preenche todas a distâncias e todas as obras, salvo a única obra que somente a critatura pode realizar: o abandono total.
    Não pode ser o homem a gestir a Misericórdia de Deus nem através da sua fraqueza ou dos seus pecados, ma é Deus misericordioso na sua mesma natureza que se abaixa sobre o nosso nada.

    A descoberta de Teresa consiste próprio na necessidade de abandonar-se à Graça porque é certa, que seja o Amor a fazer subir e gerar as obras. A Montanha da santidade é então uma "Montanha de Amor", que é fácil subir quanto é fácil para os braços dos pais levantarem os seus bebes. Para Teresa a "estrada breve" consiste no ser pegada nos braços por Jesus e levada por Ele até o cume da Montanha do Amor.

    A "pequena estrada" intuida por Teresa é nova pelo fato de ser incredivelmente breve; tão imediata que não existe, em quanto cada percurso serve para uma distância. Na pequena estrada traçada por Teresa não se prevê nenhum espaço a percorrer, nenhum tempo a esperar, se não o deixar-se pegar aqui, agora. Todavia também se a estrada é toda de Deus, a criatura deve procurar continuamente o lugar apropriado à Misericórdia e colocar-se lá onde a Misericórdia possa exprimir toda a sua grandeza.
    Em outras palavras na relação do Amor assim como entendido por Teresa também se um dos dois pegasse toda a iniciativa, ao outro restaria o dever de mergulhar-se na intimidade que lhe é oferecida.

    Em síntese a doutrina de Teresa consiste nos seguintes princípios:

    1. Deus é Amor Misericordioso, a Sua natureza o leva a abaixar-se a tudo aquilo que é pequeno e necessitado de amor.

    2. A criatura é mais ela mesma quanto mais comprende o próprio "nada" ou seja, a própria pobreza, a própria miséria e sente no coração os infinitos desejos de Deus.

    3. A fraqueza, a pobreza e até o pecado não são um obstáculo ao amor, ao contrário, as vezes o atraem.

    4. A Igreja é sobre a terra o "ninho de Amor" em que se celebra o encontro entre o Criador e a criatura.

    5. Quando a criatura se deixa atrair e queimar pelo Amor Infinito, leva com si na sua subida todos aqueles que Deus as deu em confiança.

    Teresa compreendeu através do movimento caridoso do seu coração e através do olhar da fé o fundamento trinitário da Misericórdia. O vulto do Pai e aquele do Filho quase se sobrepõem no seu coração e na sua mente: entendeu que a Misericórdia é radicada no próprio mistério da natureza de Deus.

    Teresa compreendeu através do movimento caridoso do seu coração e através do olhar da fé o fundamento trinitário da Misericórdia. O vulto do Pai e aquele do Filho quase se sobrepõem no seu coração e na sua mente: entendeu que a Misericórdia é radicada no próprio mistério da natureza de Deus.
    Teresa quer nos transmitir o Amor Misericordioso de Deus que todo circunda, como um oceano em que a gota se perde, como um abisso onde é doce precipitar. Compreendeu que nas criaturas existem um grande limite "no dar amor", mas que todavia podem ser todos "infinitos no receber amor e em deixar-se amar".

    João Paulo II em Lisieux (Pregação do dia 2 de Junho de 1980)
    "Ser crianças, transformar-se como crianças quer dizer entrar no meio da maior missão que atravessa o coração do homem. Teresa, ela o sabia perfeitamente. Esta missão vem da origem do amor eterno do Pai. O Filho de Deus, como homem, em maneira visível, "histórica" e o Espírito Santo, em maneira invisível e "carismática", a levam a conclusão na história da humanidade".

    A infância feliz

    Teresa, já nos primeiros meses de vida, sofreu graves doenças que a conduziram quase à morte. Todavia Teresa escreve; "Como era feliz nesta idade! Já começava a saborear a vida... Como passaram rápido os anos ensolarados da minha infância, mas que doce nostalgia esses anos deixaram na minha alma". (Ms A,11r.v) e ainda "Com uma natureza como a minha, se tivesse sido educada por pais sem virtudes... teria sido muito ruim e talvez me teria perdido". (Ms A, 8v).
    A primeira infância é o início de uma historia na qual nenhum exito é impedido seja a santidade como a perdição. Sem uma mãe que ajude a rezar, as palavras se esfriam na boca e no coração. Terese percebe quanto seja irreparável a perda da mãe "Ah, não é como a mãe... Ela sempre nos fazia orar!" (Ms A,12v).
    Era uma familia em que Dio era amado e procurado como uma pessoa viva, como uma pessoa querida e presente..
    "Mais adiante quando me apareceu a perfeição, entendi que para ser Santa era necessário sofrer muito, procurar sempre a perfeição e esquecer de si mesmos..." (Ms A, 10r.v.).

    A infância sofrida

    Com a morte da mãe, Teresa conhece o sofrimento e o seu caráter perde a radiosidade que a distinguia "...o meu caráter feliz mudou completamente, eu tão vivaz, tão expansiva, me transformei em tímida e doce, sensibile ao excesso…". Teresa escolhe uma segunda mãe na irmã Paolina que faz todo o possível, mas a menina sabe que o mundo materno é fechado para ela para sempre. E’ no nível do amor que a personalidade foi abalada. Quando Teresa deverá frequentar, como todas as irmãs, o pensionato da Abacia das Benedetinas, aqueles cinco anos serão para ela um tormento. "Com a minha natureza tímida e delicada, não sabia me defender e me satisfazia em chorar sem dizer nada...". (Ms A, 22v).
    Existe em nós uma insistente tendência a igualar a bondade com o ceder, a compreensão com a complicidade, a paciência com a fraqueza. A’ Teresa menina lhe vem negada repetidamente a mãe, sofre até morrer e continua a invocá-la desesperadamente, até que esta mesma invocação desesperada pareça suprimir qualquer outro impulso vital. "A Virgem me fez sentir que era verdadeiramente Ela que mi tinha sorriso e me tinha curado".

    As Graças

    Teresa desde a adolescência já conhece por experiência a possibilidade de tocar o coração dos homens também os mais endurecidos. Desde os primeiros anos, é evidente a existência de um dom específico do Espirito Santo, que invade progressivamente todos os espaços da sua alma, do seu coração e até da sua atividade seja interior que exterior ou seja, o dom da Piedade. Ser feliz de Deus e faze-Lo feliz será então o segredo da sua vida.
    "Aquilo que vinha a fazer ao Carmelo declarei aos pés de Jesus Eucarestia, no exame que antecipou a minha profissão: vim para salvar as almas e sobretudo a orar para os sacerdotes".

    Da infância ao Vulto Santo

    Teresa decidiu de percorrer a estrada da mortificação, não tanto como empenho ascético, mas como cortesia amorosa pelo Esposo presente, ao qual tudo queria doar. Um sofrimento duríssimo colpiu Teresa desde os primeiros meses da sua vida monástica, um sofrimento que absorve em si e reformula qualquer outra dor, qualquer outra aridez, qualquer outro destaque afetivo: a grave doença do pai. Teresa queria poder esconder no vulto adorável de Jesus para estar certa de não mais pecar, porque o seu constante tormento interior é de estar certa de não ter ofendido Deus em modo da afastar o Seu rejeito; sò o pensamento que uma tal coisa pudesse acontecer, sem que Ela fosse consciente, lhe angustiava.

    A missão terrena de Teresa: Amar

    Para Teresa a sua missão terrena é: "Amor e fazer amar a Santa Trindade" e "Amar Jesus e fazê-lo amar". Teresa escolheu verdadeiramente para si o Amor de cada instante e de cada ação; desejava preparar com flores e perfumes o jardim da sua alma para acolher o Rei dos céus e se sentia tão coenvolvida do amor que não conseguia entender nem ela mesma como poderia tirar alguma coisa ao Amor.

    Para o místico a perfeição consiste em "fazer a vontade de Deus", invés segundo Teresa é "Ser aquilo que Ele quer que sejamos" e afirma: "quero empenhar-me a fazer com o maior abandono a vontade de Deus".

    Teresa teve uma vocação contemplativa. Ela não se fez tanto problema, intuiu com uma radicalidade absoluta que a contemplação era em si mesma ação apostólica.

    Teresa fez uma descoberta extraordinária: "para que o Amor seja satisfeito é necessário que se abaixe até o nada e que transforme este nada em fogo". Por isso quer abaixar-se até o nada ou seja reduzir-se a nada para dar espaço a Misericórdia, para faze-la concluir todo o caminho.

    Assim Teresa esperimenta e ensina a agir sem nunca afastar-se, nem por um minuto, da persuasão que Deus esta fazendo através de nós. Ensina a agir exclusivamente segundo a Sua ação, a agir na persuasão que somente Ele pode verdadeiramente trabalhar nos corações e nas almas e a agir unindo-se sempre mais à essência de Jesus.

    A missão "espiritual", de Teresa consistiu nisso: de um lado devia queimar no Amor e no outro devia ficar envolvida nas trevas.Ela mesma escreve: "Me é impossível entregar interamente as minhas angústias, teria medo de ofender o bom Deus exprimindo em palavras tais pensamentos. E eu que o amo tanto! Mas tudo isto é incoerente".

    A tentação a qual Teresa era coenvolvida se fazia insustentável somente quando o demonio descobria interamente as suas cartas e a agredia diretamente ao coração:" Ontem a noite sentia uma grande angústia e as minhas trevas aumentaram. Não sei qual voz maldita me dizia: És certa que Deus te ama?".

    Teresa reage sempre à tentação com alegria, paz e fé, também quando as parecem de não compreender nada ou de compreender outras coisas que o demonio as diz ao ouvido. As vezes a tentação a empurra até quase ao cedimento, até lá onde ela pode resistir somente se se abandona completamente nos braços de Deus. Deste modo consegue vencer a tentação da dúvida e a sua força consiste veramente neste total abandono nos braços de Deus.

    No periodo da sua prova, Teresa não esqueçe o próximo, ao contrário, através deste amor lhe parece quase de compreender o verdadeiro significado da "caridade". A este propósito chega até a dar as indicações gerais: suportar os defeitos dos outros, não admirar-se das fraquezas deles, mas sobretudo não esconder a caridade no fundo do coração, a deixa-la emergir em modo que clareie verdadeiramente o próximo. Não é verdadeiro amor se não aquele que nasce do próprio coração de Deus e da Ele emana, tanto que cada amor humano pode somente transferir e trazer em terra aquilo que obteve do alto.
    O sofrimento de Teresa era atroz, porque além da doença ao peito se juntou a tubercolose aos intestinos, que trouxe com si a gangrena, enquanto se formavam chagas, causadas pela sua extrema magreza; males que não podiam em algum modo aleviar e se anunciaram dias ainda mais tristes. Foi ela mesma a acompanhar as irmãs dentro ao mistério da sua paixão que se preanunciava particularmente insuportável. "Não serdes tristes, minhas irmãzinhas, se sofro muito e se no momento da morte não vedreis em mim, como vos já disse, nenhum sinal de felicidade. Nosso Senhor morreu como vítima de Amor, e vedes qua foi a sua agonia!". (QC 4.6.1).

    Quando a agonia de Teresa chegou foi terrível e longuíssima. Contou a irmã Celina (Irmã Genoveffa): "lá pela metada da tarde, ela sentiu dores estranhas em todos os membros. Pousando então o braço no ombros de Madre Agnese de Jesus, ela estendeu o outro em direção a mim para fazer-se apoiar e ficou assim por alguns instantes. Naquele momento tocou três horas... e nós sentimos uma certa emoção. Que coisa pensava ela naquele momento? A nós vinha a imagem surpreendente de Jesus na Cruz e aquela coincidência me pareceu cheia de mistério". (PO 310).

    As cinco se deram conta que o fim era eminente: "Por mais de duas horas a falta de ar se fez sentir. O vulto era congestionado, as suas mãos roxas, tinha os pés gelados e tremia com todos os membros. Um suor intenso lhe descia pelo rosto com gotas enormes e banhava as suas bochechas. Era debaixo de uma opressão crescente, as vezes dava pequenos gritos involuntários. Às seis, quando tocou o Angelus, olhou longamente a estátua da S. Virgem...". (QG 30.9).

    As últimas palavras que Teresa pronunciou sobre a terra, fixando o seu Crucifixo poucos instantes antes de expirar, colpiram os corações de muitos cristãos "Oh, eu o amo! Meu Deus... eu vos amo...". Palavras de amor em uma morte de amor, também se muitas vezes nos esqueçemos de qual terrível cruz essas palavras foram elevadas em direção ao Pai celeste.

    Os últimos instantes antes de expirar foram uma dulcíssma extase que durou quanto o espaço de um Credo, a qual assistiram toda a comunidade ajoelhada perto da cama. Parecia que alguém as falasse e ela fazia pequenos movimentos como se quisesse responder: tinha nos seus olhos uma felicidade inexprimível. Uma infinita surpresa, come se as suas esperanças fossem estadas todas infinitamente superadas. Mas a surpresa maior era dada pelo que transparecia do seu vulto nasqueles instantes supremos: parecia que o acolhimento reservado a ela por Deus fosse um carinho e de uma misericórdia tais que nem ela, Teresa, conseguia imaginar.

    Tinha dito um dia, para explicar a doçura com que se preparava a ir ao encontro com Deus: "Se Ele me chamará a atenção, mesmo só um pouquinho, eu não chorarei. Mas se Ele não me chamará a atenção, se me acolher com um sorriso, então chorarei!". (QC 21.7.2).

    Por algumas horas o seu vulto aquistou uma comovente beleza, as mãos de Teresa apertavam forte o Crucifixo que não conseguiam tirá-lo da sua mão e o delicado corpo parecia aquele de uma moçinha de 12-13 anos. Assim como Jesus sobre a cruz, Teresa tinha revelado ao mundo toda a sua eterna filialidade, abandonando-se nas mãos de seu Pai.

    Aquilo que comove na descrição da paixão da jovem carmelitana é a sua chamada a voltar a ser menina, até á própria substância do seu ser ou seja, no espírito, na alma e até no corpo.

    Eu sou "uma pobre pequena nada" dizia Teresa, contemplando com frémito de paixão e de doçura o Amor que irresistivelmente se abaixava até a ela. E no leito de dor aquela pobre nada, torturada pelo sofrimento, sabia que toda a sua esperança consistia no deixar-se amar.

    Aquilo que Teresa teria querido comunicar a todos, mesma reduzida naquele estado deplorável, era o seu sentimento assim resumido em um escrito: "O Deus, como és doce para a pequena vítima do Teu Amor".
    A Regra que o patriarca Alberto de Jerusalém deu a um grupo de eremitas latinos reunidos na montanha do Carmelo nos inícios do séc. XIII recita: "Os irmãos eremitas ficam em celas separadas, dia e noite meditando a Lei do Senhor em oração". "Meditar dia e noite a lei do Senhor" é então a fórmula clássica com que a tradição monástica repreendeu o comando que já o Apostolo Paulo deu aos cristãos de "orar sem interrupção". O preceito bíblico da "oração incessante" caracterizou a Igreja inteira desde as suas origens e é próprio de tal exigência que nasceu a experiência monástica.

    Desta depois descende a experiência carmelitana que, no panorama do monaquismo, se apresentará sempre como "originária e paradigmática".

    Se aos cristãos é pedido o empenho de fazer com que "toda a vida seja uma contínua oração", obedecendo em cada circunstância à vontade de Deus, com o escutar da Palavra. Aos monges invés vem pedido de fazer com que "a oração se transformasse em toda a vida". Procurando a "calma" interior (hesychia) e aquela exterior (deserto) eles teriam alcançado o ideal de uma oração capaz de abraçar todos os momentos da vida, dia e noite.

    Estes eram os objetivos dos primeiros séculos: "Fazer de toda a vida uma oração" e Fazer da oração toda a vida".

    Os monges, com o tempo transformados em cenobitas, se assumem o dever de fazer sim que toda a vida, seja um escutar e o cumprir constante da "Lei de Deus". Tal ideal eremita se transforma em uma obrigação para os leigos e monges, pronto sempre a ressurgir em qualquer época da história eclesial, como impulso a uma "oração totalizante".

    O Carmelitanismo já no início do séc. XIII, representa um destes renascimentos "eremitas" que se desenvolvem segundo os tradicionais critérios do antigo "esicasmo" patrístico. ((sistema espiritual de orientação essencialmente contemplativo que procura a perfeição).
    Já na primeira "fórmula de vida" que Alberto, Patriarca de Jerusalém, escreveu para aqueles eremitas que se eram espontaneamente reunidos na montanha sagrada do Carmelo, representava uma legeira correção do antigo hermetismo em sentido cenobitico.

    O cenobitismo, consolidado à séculos, tinha entendido já a tempo que o hermetismo puro é cristamente perigoso porque risca de tirar o discípulo de Cristo àquele abraço comunitário e eclesial necessário para viver em modo concreto a Encarnação do Filho de Deus. O eremita radical, no tentativo incessante de ascenção à Deus, podia riscar de esquecer a necessidade do abraço eclesial dos irmãos na fé.

    Para os primeiros Carmelitanos a "fórmula de vida", representa então o equilibrio, como resultado do encontro entre um fervoroso e spontaneo renascer da vocação eremítica e a sabedoria já secular da Igreja que ofereçe pequenos e oportunos corretivos comunitários. Porém o projeto heremítico fica substancialmente intacto e as indicações da Regra são fundamentais àquelas elaboradas no antigo esicasmo.

    A experiência carmelitana acrescenta porém algo de específico: aqueles primeiros eremitas interiorizaram um profundo sentido de responsabilidade e, pelo fato que eles eram reunidos na sagrada montanha do Carmelo, se sentiam herdeiros diretos do grande profeta Elia, universalmente reconhecido como Fundador de todo o monaquésimo.

    Com o tempo esta certeza, fazia ver que os Carmelitanos vinham do periodo pré-cristão e os coligava com as origens dos acontecimentos de Cristo, em particular com a Virgem Santa, fez sim que eles sentissem com particular força e responsabilidade eclesial o problema da fidelidade às próprias origens heremíticas.

    A experiência heremítica no Carmelo pode durar somente alguns anos e se conclui, com a queda do Reino Latino (1261), com uma forçada migraçãa de todos os heremitas no Ocidente, onde porém tinha iniciado a transferir-se desde 1235.
    No Ocidente os Carmelitanos tentaram antes de perserverar na forma hermética, mas foram logo constrangidos a assimilar as formas de vida religiosa da época e se transformaram em "fraternidade mendicantes". A tal escopo a original "Fórmula de vida" vem oportunamente mitigata e aprovada como Regra de Inoncencio IV em 1247.

    A história da Ordem em Ocidente se desenvolve primeiro em um certo clima de responsabilidade em relação à antiga identidade e depois em vários tentativos de reforma.

    O estile de vida dos Carmelitanos se transformou em cenobítico e as fundações dos conventos nas cidades se reduziram a solidão hermética a um estado ideal, com uma partecipação sempre mais ativa à "cura da alma", à maneira das outras Ordens.
    Esta passagem para os Carmelitanos foi acompanhada por fortes perplexidades: eles sentiram ainda mais o "problema" daquelas antigas nobres origens que os coligava ao profeta Elia e aos santos Padres do antico e do novo Testamento; e isto fazia mais traumático para eles a passagem para a forma cenobítica, mendicante, apostólica de viver.
    "Nós deixamos o mundo para poder melhor servir o Criador no castelo da Contemplação": assim exprimem os documentos uficiais ainda no ano 1287.

    O heremitismo restou no entanto patrimonio espiritual próprio da Ordem, também se vinha agora compreendido sobretudo como "heremitismo do coração", dar na própria vida um lugar privilegiado à contemplação. Foram considerados como Fundadores da Ordem Elia e Maria. Em particular, um ícone da Anunciação foi para os Carmelitanos aquela que maiormente exprimia o sentido e o escopo da vocação deles.

    O radicamento popular da Ordem acontece através da difusão da devoção mariana, em particular através da devoção do Escapular, método simples para o dar-se dos fiéis à Mãe da Misericórdia que cobre os seus filhos com o seu hábito santo.


    ATO DE OFERTA

    ao Amor Misericordioso do bom Deus escrito da santa Teresa do Menino Jesus.

    Santa Teresinha do Menino Jesus levava noite e dia no seu coração este ato de oferta, no libro dos santos Evangelhos. J.M.J.T.

    Oferta de mim mesma como Vítima do holocausto ao Amor Misericordioso de Deus.

    Meu Deus, Trindade beata, desejo amar-te e far-te amar, trabalhar pela glorificação da santa Igreja, salvando as almas que estão na terra e livrando aquelas que sofrem no purgaótrio. Desejo fazer perfeitamente a tua vontade e chegar ao grau de glória que tu no teu reino preparou para mim, em uma palavra, quero ser santa. Sinto porém a minha impotência e te peço, oh Deus, de ser tu a minha Santidade.
    Como tu mi amaste até me dar o teu único Filho como Salvador e Esposo, os tesouros infinitos dos seus méritos são para mim; os ofereço a ti com alegria, suplicando-te de não olhar-me se não através do Vulto de Jesus e no seu Coração ardente de Amor.
    Te ofereço todos os méritos dos santos (que estão no céu e na terra), os atos de Amor deles e aqueles dos anjos santos; enfim te ofereço, o beata Trindade, o Amor e os méritos da Madona, Mãe minha querida; é a ela que entrego a minha oferta, suplicando-a de apresentá-la a ti.
    O seu divino Filho, meu Esposo, Preferido, quando era sobre a terra nos disse: "Tudo aquilo que pedireis ao meu Pai no meu nome, Ele vos concederá!". Estou então certa que me exaudirá.
    Sei, oh meu Deus, mais queres dar, mais fazes desejar.
    Sinto no meu coração imensos desejos e é com confiança que te peço de vir a impossessar-se da minha alma. Ah, não posso receber a santa comunhão todas as vezes que o desejo, mas, Senhor, Tu não és o Onipotente? Fica comigo, como no tabernáculo, não afastar-te nunca da tua pequena ostia...
    Gostaria de consolar-te pela ingratidão dos ruins e te suplico de tirar-me a liberdade de desagradar-te; se as vezes, por fraqueza, deveria cair, o Teu Olhar Divino purifique logo a minha alma queimando cada imperfeição, como o fogo que transforma em si todas as coisas...
    Meu Deus, te agradeço de todas as graças que mi deste, em particular de ter-me feito passar através do sofrimento. E com alegria que te contemplarei, no último dia, levando a cruz;
    porque te dignaste de fazer-me parte desta cruz tão preciosa, espero de assemelhar-ti no céu e de ver brilhar sobre o meu corpo glorificado as sagradas estigmates da tua Paixão...
    Depois do exílio terreno, espero de apreciar-te no teu reino; mas não quero acumular méritos para o céu; quero trabalhar somente pelo teu Amor, no único desejo de fazer-te feliz, de consolar o teu sagrado Coração e de salvar almas que te amarão para sempre.
    Ao entardecer desta vida, me apresentarei a Ti, oh Senhor, com as mãos vazias, porque não quero pedir-te de cantar as minhas obras… Toda a nossa justiça se apresenta manchada aos teus olhos. Quero revestir-me então da tua Justiça e receber do teu Amor o possesso eterno de Ti. Não quero outro Trono ou outra Coroa se não Ti, oh meu Preferido!...
    Aos teus olhos o tempo é nada, um dia somente são como mil anos, Tu podes, então, em um instante, preparar-me para que eu apareça diante a Ti.
    Para viver em um Ato de Amor Perfeito, ME OFEREcedil;O COMO VÍTIMA DE HOLOCAUSTO AO TEU AMOR MISERICORDIOSO, suplicando-te de consumir-me sem parar, deixando transbordar na minha alma um fluxo de infinita doçura que estão dentro di ti e que eu seja, assim, Mártire do teu Amor, oh meu Deus!...
    Que este martírio, depois de me ter preparado a aparecer diante de Ti, me faça, depois, morrer e que, logo, a minha alma voe no eterno abraço do teu Amor Misericordioso. Oh meu Preferido, a cada pulsar do meu coração quero renovar esta oferta, infinitas vezes, até que, desaparecida as sombras, eu possa confermar o meu Amor em um Eterno Face a Face...

    Maria Francesca Teresinha
    do Menino Jesus e do Santo Vulto
    carm.sc.ind.

    Festa da S.S. Trindade, 9 junho do ano de graça 1895


    CONSAGRAÇÃO VULTO SANTO

    (composta para o noviciado)

    Oh Vulto adorável de Jesus! Como tu se dignou de escolher em modo particular a nossas almas para doar-te a elas, nos viemos a consagrá-las a Ti.
    Oh Jesus, nos parece de te escutar dizer: "Abre, minhas irmãs, minhas esposas preferidas, porque o meu Vulto é coberto de orvalho e os meus cabelos estão humidos devido a neblina da noite".
    As nossas almas entendem a tua linguagem de amor; queremos procurar o teu doce Vulto e te consolar na escuridão dos pecadores. Aos olhos deles, Tu estás ainda como escondido... Te consideram como um objeto de desprezo!
    Oh Vulto mais bonito dos lírios e das rosas primaveris! Tu non estás escondidos aos nossos olhos! As lágrimas que banham o teu Olhar Divino nos parecem preciosos diamantes que queremos recolher, para comprar, com o infinito querer deles, as almas dos nossos irmãos.
    Escutamos o amoroso lamento da tua Boca Adorada. Compreendendo que a sede que te queima é sede de Amor, gostaríamos de possuir um Amor infinito para te poder satisfazer.
    Esposo preferido das nossas almas! Se pudéssimos ter o amor de todos os corações, todo este amor seria para Ti... Então! Da-nos este amor, vem beber através das tuas pequenas esposas...
    Senhor, nos servem almas de apóstolos e mártires, a fim de que, com eles, possamos inflamar do teu amor a multidão de pobres pecadores.
    Oh Vulto adorável, gostaríamos de obter da Ti esta graça! Esqueçendo o nosso exílio nas margens do rio da Babilonia, nós cantaremos para os teus ouvidos as mais doces melodias. Como Tu és a verdade, a única Pátria das nossas almas, os nossos cantos não serão cantados em terra estrangeira.
    Oh querido Vulto de Jesus! Esperando o dia eterno em que contemplaremos a tua Glória infinita, o nosso único desejo é de fazer alegrar os teus Olhos Divinos, escondendo também o nosso viso, a fim de que aqui embaixo ninguém possa nos reconhecer... O teu Vulto velado é o nosso Céu, oh Jesus!...

    ORAÇÃO
    Para alcançar graças por sua intercessão

    Santa Teresinha do Menino Jesus que na vossa curta existência, de amor forte, e de tão generosa entrega nas mãos de Deus, agora que gozais do prêmio de vossas virtudes, volvei um olhar de compaixão sobre mim, que plenamente confio em vós.
    Fazei vossas as minhas intenções, dizei por mim uma palavra àquela Virgem Imaculada de que fostes a florzinha privilegiada, à Rainha do Céu que vos sorriu na manhã da vida. Rogai-lhe a Ela que é tão poderosa sobre o Coração de Jesus, que me obtenha a graça por que nesta hora tanto anseio, e que a acompanhe de uma bênção que me fortifique durante a vida, me defenda na hora da morte e me leve à eternidade feliz. Amém.

    - Pai, Ave, Gloria
    - Salve, o Rainha


    TRIDUO A SANTA TERESINHA DO MENINO JESUS

    OREMOS
    - Oh Deus, vem nos salvar.
    - Senhor, vem logo em minha ajuda.
    - Glória ao Pai...

    1. Eterno Pai que com infinita misericórdia recompenses quem fielmente escuta a tua palavra, pelo amor puríssimo que tua filha Santa Teresinha teve pelo Menino Jesus, em modo a obrigar-te a exaudir no céu os seus desejos, porque ela na terra tinha aderido com alegria à tua vontade, seja propricio às suplicas que para mim ela mesma Te implora, e satisfaz as minhas orações dando-me a graça que Te peço.
      - Pai Nosso, Ave, Glória
    2. Eterno Filho divino que prometeu de recompensar também o menor serviço feito ao próximo pelo teu amor, volve um olhar à tua esposa Santa Teresinha do Menino Jesus que teve tanto no coração a salvação das almas e por quanto fez e sofreu, escuta a sua promessa de "transcorrer o céu fazendo o bem na terra" e me concedes a graça que com tanto ardor Te peço.
      - Pai Nosso, Ave, Glória
    3. Eterno Espírito Santo que enriqueceu com tantas graças a alma eleita de Santa Teresinha do Menino Jesus, eu Te suplico pela fidelidade com que correspondeu aos teus santos dons: escuta a oração que para mim ela mesma Te replica e acolhendo a sua promessa de "deixar cair uma chuva de rosas", concede-me a graça de que tenho tanta necessidade.
      - Pai Nosso, Ave, Glória
    A vida cristã é um caminho que segue a estrada que vai em direção ao Pai com a ajuda da graça do Filho de Deus, em quanto necessitados desta ajuda para nos manter no caminho. O pecado, seja aquele que nós cometemos seja aquele que os outros cometem, nos estimula ao mal, se solidifica em estruturas que nos condicionam e nos tentam de nos pervertir. São agressões constantes, as vezes violentas e diabólicas que atentam à nossa condição de filhos de Deus.

    Neste drama nós atraversamos o tempo da nossa vida, por isso é necessário orar e trabalhar a fim de que o Senhor nos conceda o milagre da santidade, ou seja, a descoberta quotidiana de não poder ficar sem Jesus, de não ter outro amor que não seja Ele.

    Teresinha, na sua terrível paixão dos seus últimos meses de vida, fez as suas mais tenras dedicações de amor e de confiança a Deus, porque aprendeu a conhece-lo como Pai e a confiar completamente e obstinadamente nas Suas mãos, apesar das trevas do sofrimento.

    Deus as vezes dos filhos mais amados exige o máximo, o que tem de mais difícil, o que é mais querido ao seu coração de Pai, ou seja, oferecer si mesmo pela salvação dos irmãos.

    Teresinha disse sim, um sim integral, a nome de todos nós. Com o seu sim Teresinha si colocou completamente nos braços de Deus, o único que a podia totalmente e eternamente amar.

    A experiência de Teresinha tem alguma coisa de perplexidade. Não foi entendida pelas suas irmãs que pegaram com leveza a mensagem. Não foi entendida pelos leitores que encantados da "Historia de uma alma" pensavam a uma santidade um pouco fácil. Ao processo de beatificação se duvidou do heroismo das suas virtudes, tão ordinária parecia a sua estrada. Teresinha transmite a sua mensagem com uma linguagem disarmante, não usa termos abstratos e sem dúvida não é somente uma grande santa mas é também uma grande mestre de espiritualidade e de doutrina. Hans von Balthasar falou de "existência teológica", em quanto toda a sua vida demonstrou em modo essencial, verdades extraordinárias.

    Teresinha sente de poder alcançar com o seu amor quem hà necessidade. Percebe de ter um lugar na igreja, aquele mesmo lugar que ocupa o Senhor, o lugar do Amor que se expande em todos os tempos e em todos os lugares. Amor que faz Teresinha missionária por excelência: ela é certa que "uma alma inflamada de amor não pode ficar inativa".

    O mundo se salva de joelhos, o salvam quantos decidem de serem como crianças. Quantos aceitam como graça de descobrir os pr óprios limites e de transformá-los em grandeza, em uma invocação ao Deus clemente e misericordioso. Quantos fazem experiência que o Senhor nos ama por causa dos nossos limites? Quantos usam a expressão de S. Paulo: "Ponho a minha força nas minhas fraquezas"?

    A espiritualidade de Teresinha revive naqueles que a sentem irmã e padroa e são capazes do abandono, de acolher a vida como a terra faz com a semente e atender com paciência as cores da primavera com os perfumes do tempo pascoal e o calor de verão. Com a esperança de saber atender o sereno e de ter a força de sorrir pelo temporal que muda os planos e cria os problemas. Com a contínua vontade de acolher, atender e aceitar o Mistério na total confiança ao Senhor.
    Fonte: http://digilander.libero.it/raxdi/porto/epiteresa.htm
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    São Bento de Núrsia

    São Bento de Núrsia
    Hoje eu gostaria de falar de São Bento, Fundador do monasticismo ocidental, e também padroeiro de meu pontificado. Começo com uma palavra de São Gregório Magno, que escreve de São Bento: «O homem de Deus que brilhou sobre esta terra com tantos milagres não brilhou menos pela eloqüência com a qual soube expor sua doutrina» (Dial. II, 36).
    Estas palavras foram escritas pelo grande Papa no ano 592; o santo monge estava morto há apenas 50 anos e estava ainda vivo na memória das pessoas e sobretudo na florescente Ordem religiosa por ele fundada. São Bento de Núrcia, com sua vida e sua obra, exerceu uma influência fundamental sobre o desenvolvimento da civilização e da cultura européia. A fonte mais importante sobre a vida dele é o segundo livro dos Diálogos de São Gregório Magno. Não é uma biografia no sentido clássico. Segundo as idéias de seu tempo, ele quer ilustrar, mediante o exemplo de um homem concreto – precisamente de São Bento –, a subida aos montes da contemplação, como pode ser realizada por quem se abandona a Deus. Então nos dá um modelo da vida humana como subida ao vértice da perfeição. São Gregório Magno relata também, neste livro dos Diálogos, muitos milagres realizados pelo santo, e também aqui não quer simplesmente relatar alguma coisa extraordinária, mas demonstrar como Deus, admoestando, ajudando e também punindo, intervém nas situações concretas da vida do homem. Quer mostrar que Deus não é uma hipótese distante posicionada na origem do mundo, mas está presente na vida do homem, de todo homem.
    Esta perspectiva do «biógrafo» se explica também à luz do contexto geral de seu tempo: entre os séculos V e VI, o mundo era devastado rapidamente por uma tremenda crise de valores e de instituições, causada pela queda do Império Romano, pelas invasões dos novos povos e pela decadência dos costumes. Com a apresentação de São Bento como «astro luminoso», Gregório queria indicar nesta situação, justamente aqui nesta cidade de Roma, a via de escape da «noite escura da história» (cf. João Paulo II, Insegnamenti, II/1, 1979, p. 1158). De fato, a obra do santo e, de modo particular, sua Regra, revelaram-se portadoras de um autêntico fermento espiritual, que penetrou no curso dos séculos, muito além dos confins de sua pátria e de seu tempo, o rosto da Europa, suscitando depois da queda da unidade política criada pelo império romano uma nova unidade espiritual e cultural, a da fé cristã partilhada pelos povos do continente. Nasceu justamente assim a realidade que nós chamamos de «Europa».
    O nascimento de São Bento ocorreu por volta do ano 480. Provinha, assim disse São Gregório, «ex provincia Nursiae» – da região da Núrsia. Seus progenitores logo o mandaram para realizar os estudos em Roma. Ele, porém, não se firmou muito tempo na Cidade Eterna. Como explicação plenamente acreditável, Gregório indica o fato de que o jovem Bento estava incomodado pelo estilo de vida de muitos de seus colegas de estudos, que viviam de modo dissoluto, e não queria cair nos mesmos erros. Queria agradar a Deus somente; «soli Deo placere desiderans» (II Dial., Prol 1). Assim, ainda antes da conclusão de seus estudos, Bento deixou Roma e se retirou na solidão dos montes ao leste de Roma. Depois de uma primeira estadia no vilarejo de Effide (hoje: Affile), onde por certo período se associou a uma «comunidade religiosa» de monges, fez-se eremita na distante Subiaco. Lá viveu por três anos completamente só em uma gruta que, a partir da Alta Idade Média, constitui o «coração» de um mosteiro beneditino chamado «Sacro Speco». O período em Subiaco, um período de solidão com Deus, foi para Bento um tempo de amadurecimento. Lá devia suportar e superar as três tentações fundamentais de todo ser humano: a tentação da auto-afirmação e do desejo de pôr a si mesmo no centro, a tentação da sensualidade e, por fim, a tentação da ira e da vingança. Era, de fato, convicção de Bento que, só depois de ter vencido estas tentações, ele poderia dizer aos outros uma palavra útil para sua situação de necessidade. E assim, pacificada sua alma, estava em condições de controlar plenamente os impulsos do eu, para ser assim um criador de paz em torno de si. Só então decide fundar os primeiros mosteiros no vale do Anio, vizinho a Subiaco.
    No ano de 529 Bento deixou Subiaco para estabelecer-se em Montecassino. Alguns explicaram esta transferência como uma fuga diante das intrigas de um invejoso eclesiástico local. Mas esta tentativa de explicação se revelou pouco convincente, já que a morte inesperada dele não induz Bento a retornar (II Diál. 8). Na verdade, ele se impôs esta decisão porque havia entrado em uma nova fase de seu amadurecimento interior e de sua experiência monástica. Segundo Gregório Magno, o êxodo do remoto vale do Anio para Montecassino – uma altura que, dominando a vasta planície circunstante, é visível de longe – reveste um caráter simbólico: a vida monástica no ocultamento tem sua razão de ser, mas um mosteiro tem também uma finalidade pública na vida da Igreja e da sociedade: deve dar visibilidade à fé como força de vida. De fato, quando, em 21 de março de 547, Bento conclui sua vida terrena, deixou com sua Regra e com a família beneditina por ele fundada um patrimônio que produziu nos séculos transcorridos, e produz ainda agora, fruto no mundo inteiro.
    Em todo o segundo livro dos Diálogos, Gregório nos ilustra como a vida de São Bento estava imersa em uma atmosfera de oração, principal fundamento de sua existência. Sem a oração não há experiência de Deus. Mas a espiritualidade de Bento não era uma interioridade fora da realidade. Na inquietude e na confusão de seu tempo, ele vivia sob o olhar de Deus e justamente assim não perde mais de vista os deveres da vida cotidiana e o homem com suas necessidades concretas. Vendo Deus, entende a realidade do homem e sua missão. Na sua Regra, ele qualifica a vida monástica como «uma escola do serviço do Senhor» (Prol. 45) e pede a seus monges que «à Obra de Deus [isto é, ao Ofício Divino ou à Liturgia das Horas] não se anteponha nada» (43, 3). Sublinha, porém, que a oração é em primeiro lugar um ato de escuta (Pról. 9-11), que deve pois traduzir-se em ação concreta. «O Senhor espera que nós respondamos todo dia, com fatos, a seus santos ensinamentos», ele afirma (Pról. 35). Assim, a vida do monge se torna uma simbiose fecunda entre ação e contemplação, «a fim de que em tudo Deus seja glorificado» (57, 9). Em contraste com uma auto-realização fácil e egocêntrica, hoje mesmo exaltada, o primeiro e irrenunciável empenho do discípulo de São Bento é a sincera busca de Deus (58, 7), sobre o caminho traçado por Cristo humilde e obediente (5, 13), ao amor do qual ele não deve antepor qualquer coisa (4, 21; 72, 11); e justamente assim, no serviço ao outro, torna-se homem do serviço e da paz. No exercício da obediência transformada em ato com uma fé animada pelo amor (5,2), o monge conquista a humildade (5,1), à qual a Regra dedica um capítulo inteiro (7). Deste modo, o homem se torna sempre mais conforme a Cristo e alcança a verdadeira auto-realização como criatura à imagem e semelhança de Deus.
    À obediência do discípulo deve corresponder a sabedoria do Abade, que no mosteiro assume «o lugar de Cristo» (2,2; 63,13). Sua figura, delineada sobretudo no segundo capítulo da Regra, com um perfil de espiritual beleza e de exigente empenho, pode ser considerada como um auto-retrato de Bento, pois – como escreve Gregório Magno – «o Santo não pode de modo algum ensinar diversamente de como viveu» (Diál. II, 36). O Abade deve ser ao mesmo tempo um tenro pai e também um severo mestre (2, 24), um verdadeiro educador. Inflexível contra os vícios, é, porém, chamado sobretudo a imitar a ternura do Bom Pastor (27,8), a «ajudar muito mais que dominar» (64,8), a «acentuar mais com os fatos que com as palavras tudo o que é bom e santo» e a «ilustrar os divinos mandamentos com seu exemplo» (2,12). Para estar em grau de decidir responsavelmente, o Abade também deve ser alguém que escuta «o conselho dos irmãos» (3,2), porque «mesmo Deus revela ao mais jovem a solução melhor» (3,3). Esta disposição torna surpreendentemente moderna uma Regra escrita há quase quinze séculos! Um homem de responsabilidade pública, e também em pequenos âmbitos, deve sempre ser também um homem que sabe escutar e sabe aprender do que escuta.
    Bento qualifica a Regra como «mínima, escrita só para o início» (73,8); na verdade, porém, essa oferece indicações úteis não só aos monges, mas também a todos aqueles que buscam um guia em seu caminho para Deus. Pela sua medida, sua humanidade e seu sóbrio discernimento entre o essencial e o secundário na vida espiritual, ela pode manter sua força iluminadora até hoje. Paulo VI, proclamando em 24 de outubro de 1964 São Bento como padroeiro da Europa, queria reconhecer a obra maravilhosa desenvolvida pelo Santo mediante a Regra para a formação da civilização e da cultura européia. Hoje a Europa – saída há pouco de um século profundamente ferido por duas guerras mundiais e depois da queda das grandes ideologias reveladas como trágicas utopias – está em busca de sua identidade. Para criar uma unidade nova e duradoura, são certamente importantes os instrumentos políticos, econômicos e jurídicos, mas ocorre também suscitar uma renovação ética e espiritual que chegue às raízes cristãs do continente, ou então não se pode reconstruir a Europa. Sem esta seiva vital, o homem fica exposto ao perigo de sucumbir à antiga tentação de querer ser redimido por si mesmo – utopia que, de uma forma diversa, na Europa do século passado causou, como revelou o Papa João Paulo II, «uma volta sem precedentes na atormentada história da humanidade» (Insegnamenti, XIII/1, 1990, p. 58). Buscando o verdadeiro progresso, escutemos também hoje a Regra de São Bento como uma luz para nosso caminho. O grande monge permanece sendo um verdadeiro mestre de cuja escola podemos aprender a arte de viver o verdadeiro humanismo.
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