quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Uma espiritualidade do coração


"Rezar é descer com a mente ao coração e ali ficar diante da face do Senhor, onipresente, onividente dentro de nós" (Teófono, místico russo).

Coração: dia após dia, a cada hora, a cada segundo, ele pulsa em nosso peito. Mesmo quando dormimos o coração está fazendo o seu trabalho. Quando ameaça parar, as coisas complicam e a vida corre risco. Nele, há um princípio vital que nos anima, que faz cada órgão do corpo funcionar.

O ritmo e o pulsar - Não há como falar de uma espiritualidade do coração sem referir-se a esse órgão essencial para a vida. Ele tem ritmo e é responsável por bombear o sangue para todo o organismo. O ritmo da espiritualidade do coração é marcado pelo debruçar-se terno e contemplativo sobre a vida em todas as suas manifestações. Seu lugar privilegiado é o universo. É dali que tira o alimento para sua meditação.

Quem vive uma espiritualidade centrada no coração, sente-o por vezes acelerado: ou porque se extasia diante de alguma experiência de gratuidade ou porque se condói diante da dor presente no mundo. "Jesus, vendo a multidão, ficou tomado de compaixão, porque estava enfraquecida e abatida como ovelhas sem pastor" (Mt. 9, 36).

Viver a partir do coração é bombear vida para todos os membros do Corpo de Cristo e para toda a humanidade. O coração de quem vive assim está sintonizado com aquele Divino Coração, no qual pulsa todo o universo, e por isso pode espalhar amor, ternura e compaixão por onde passa ou, melhor até dizer, onde está, pois não há limites para o alcance desse "divino sangue". Onde houver alguém necessitado de vida, haverá um pouco dessa transfusão. Quanto mais forem as pessoas identificadas com essa espiritualidade, mais vasos intercomunicantes e mais vida se espalhará pelo planeta.

As possíveis cardiopatias - A espiritualidade do coração identifica também as possíveis cardiopatias que ameaçam a qualidade de vida de quem a ela é chamado e a quer viver. Uma delas é a infidelidade, outra a falta de perdão. A infidelidade fere o coração e pode causar uma hemorragia que, se não for medicada, pode levar à morte. O tratamento para essa cardiopatia chama-se conversão. Quanto à falta de perdão e às mágoas, constituem uma obstrução das artérias que levam e trazem a energia amorosa dos outros e de Deus. Para essa cardiopatia o remédio eficaz chama-se perdão: pedir perdão, doar perdão, receber perdão.

O Coração de Jesus - De onde brota essa espiritualidade do coração? Da fonte mesma que é o Coração de Jesus, aberto por nós e para nós. É preciso, portanto,não somente uma devoção ao Coração de Jesus; é preciso tirar dele a prática que ilumina a vida.

O Papa Pio XII, em sua Encíclica sobre o Coração de Jesus (Haurietis aquas in gáudio), mostra-nos como o Coração do Mestre é fonte contínua para vivermos uma espiritualidade centrada no coração: "O adorável coração de Jesus Cristo pulsa de amor ao mesmo tempo humano e divino desde que a virgem Maria pronunciou aquela palavra magnânima: "Fiat". Esse mesmo amor movia o seu coração nas suas contínuas excursões apostólicas, quando realizava aqueles inúmeros milagres, quando ressuscitava os mortos ou restituía a saúde a toda sorte de enfermos, quando sofria aqueles trabalhos, suportava o suor, a fome e a sede; nas vigílias noturnas passadas em oração a seu Pai amado; e, finalmente, nos discursos que pronunciava e nas parábolas que propunha, especialmente naquelas que tratam da misericórdia, como a da dracma perdida, a da ovelha desgarrada e a do filho pródigo. Nessas palavras e nessas obras, como diz Gregório Magno, manifesta-se o próprio coração de Deus. 'Conhece o coração de Deus nas palavras de Deus, para que com mais ardor suspires pelas coisas eternas'".

Autor: Pe. Sérgio Luiz e Silva

Ser santo é deixar a Luz passar!


Descobrir a vida de alguém que se santificou é deixar-se encantar por quem muito concretamente fez do Evangelho sua própria vida.

Lembro-me de meu mestre de noviciado, Pe. Afonso Paschotte, redentorista da Província de São Paulo, falecido alguns anos atrás, que usou uma conceituação de santidade que, pela sua simplicidade e clareza, mais me tocou até hoje: Ser santo é deixar a luz passar!

Como um multicolorido vitral

Ele dava, então, como exemplo, o que acontece com o vitral de uma igreja. Durante o dia, a luz incide sobre ele e a tons multicoloridos banham o interior do templo. À noite, quando as luzes se acendem no seu interior, quem passa por fora é que é brindado com as cores do vitral. Quanto mais limpo for o vitral, mais sua luz poderá passar por ele sem obstáculos.

A santidade é como a luz que vem do sol: é uma dádiva! O vitral não produz a luz, ele a deixa passar. Sem a luz o vitral não se destaca. A luz é a Graça de Deus vindo ao encontro do homem e da mulher. Como acontece com o vitral, que quanto mais límpido facilita a luz por ele, o que podemos fazer, é manter-nos abertos e predispostos para que a Graça divina inunde nosso interior.

À noite, o fenômeno se inverte: havendo agora luz dentro do templo, ela se irradia através dos vitrais, enchendo de beleza e serenidade o ambiente ao redor. Quando a Graça de Deus está presente na pessoa, de seu interior mana luz para iluminar a escuridão de nosso mundo, tão sofrido e conflituoso. Aqueles que estão próximos desta pessoa ficam também iluminados.

Um chamado a todo discípulo de Jesus

Os santos, muito especialmente, deixaram essa luz se irradiar através deles, cumprindo aquilo que diz Jesus no Evangelho: “Assim, brilhe a vossa luz diante dos homens” (Mt. 4, 16ª). Mas este é um chamado a todo cristão, pois, pelo Batismo, todos somos chamados à santidade.

Não pense em coisas excêntricas ou extraordinárias. A santidade é feita da irradiação da luz divina no meio onde você está. Naqueles que chamamos “santos”, essa luz é tão intensa que irradia-se de forma até mesmo miraculosa. Os milagres são apenas uma conseqüência da luz que neles está. O importante não são os milagres que vivenciam, mas a ação da Graça em suas almas. Isso pode e deve acontecer com cada um de nós, discípulos de Jesus. E essa luz não está restrita a uma época determinada. Até hoje sentimos a irradiação da santidade de homens e mulheres de todos os tempos na história da Igreja.

Assim é com São Geraldo. Ele era o santo que “brincava com Deus”, tanta era sua familiaridade com Ele. Muitos milagres o seguiram em sua curta vida entre nós (morreu aos vinte e nove anos). Mas não é isso o que mais se destaca em sua história. Um dos traços mais marcantes na vida desse humilde e grande irmão redentorista foi sua dedicação aos pobres.

Aprendendo com Geraldo a olhar o pobre


Ser devoto de São Geraldo é aprender, entre outras coisas, a olhar o pobre da mesma forma como ele olhou. E ele os olhava como os preferidos de Deus, seus irmãos. Para eles, em especial, dedicou sua vida missionária.

Em um dos retiros que tivemos como Província Redentorista, o pregador, Pe. Bernardo Holmes, redentorista de Fortaleza, contou-nos uma história:

“Nós estávamos chegando à região de Parque São Miguel, periferia de Fortaleza, quando um senhor veio à nossa casa, trazendo um pouco de farinha e alguns tomates, até mesmo meio passados. Perguntei o seu nome e ele disse se chamar Sebastião Esmoler. Sim, “esmoler”, porque vivia de esmolas. Com isso, ele sustentava sua família. Ele nos disse: - Como os senhores estão vindo aqui viver entre a gente, eu vim trazer um pouquinho do que recebo para partilhar com vocês.

“Aos poucos fui travando amizade com ele e sempre fazia um café para ele tomar. Um dia ele disse: - Sabe, seu padre, pedindo esmolas a gente aprende muito sobre as pessoas! Há gente que não vê a gente. Há gente que vê, mas faz que não vê a gente. Há gente que vê a gente e desvia da gente: bate a porta, passa para o outro lado da calçada... Há gente que vê a gente e julga a gente: vai trabalhar vagabundo!... Há gente que vê a gente e usa a gente: para aliviar a sua consciência ou para se mostrar. E há gente que vê a gente como gente: nem tanto porque dá alguma coisa, mas porque olha nos olhos da gente como gente!”

Essa foi a lição dada pelo Francisco e ensinada por Pe. Bernardo. E você, como vê e age com os mais pobres? Como você deixa a luz passar através de você?

Autor: Pe. Sérgio Luiz e Silva

Vivência:

Vivência:

Inspiração: “...prescindindo do passado e atirando-me ao que resta para a frente, persigo o alvo, rumo ao prêmio celeste, ao qual Deus nos chama, em Jesus Cristo.” (Flp 3, 13-14)

Atitude: Prepare bem o seu futuro! Cuide da saúde. Estude. Faça amigos. Sorria. Ore bastante. Não antecipe preocupações desnecessárias.

Diga para si mesmo: Porque meu Senhor vive, posso crer no amanhã. Porque Ele vive, temor não há. Minha vida está nas mãos do meu Jesus, que vivo está!
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Inspiração: “É Jesus a nossa paz, ele que de dois povos fez um só, destruindo o muro de inimizade que os separava... Ele queria fazer em si mesmo dos dois povos uma única humanidade nova pelo restabelecimento da paz, e reconciliá-los ambos com Deus, reunidos num só corpo pela virtude da cruz, aniquilando nela a inimizade.” (Ef 2, 14.15b-17)

Reflexão: Passados dois mil anos da vinda de Jesus e sua mensagem de paz e transformação da pessoa humana e suas relações, o mundo continua em conflito, sem vivenciar a mensagem de amor e perdão que Jesus anunciou. Ele já realizou a sua paz para a humanidade. Ele fez, de fato, “de dois povos um só”.

O real muro que separa as pessoas já foi destruído, quando Ele deu por nós a sua vida na cruz. Mas a ambição e o orgulho enraizado nas culturas continuam separando os povos entre pobres e ricos, além das ideologias que geram tanta morte.

Viver numa perspectiva reconciliadora é também engajar-se em oração para que os povos vivam em paz, numa postura de diálogo e superação dos pontos de conflito, buscando aquilo que une e não o que divide. Não haverá reconciliação entre os povos, enquanto houver o imenso abismo que separa as nações mais ricas do mundo daquelas miseráveis. Reconciliação mundial só é possível com justiça.

Atitude: Ofereça sua oração neste mês, em especial, pelos países que estão em guerra civil ou em conflito com outros povos. Mesmo que você não saiba quais são estes países, sinta-se participante desta mesma obra de reconciliação. Afinal, estamos todos embarcados nesta mesma “nave” que viaja pelo universo: nosso planeta terra.

Diga para si mesmo: Eu coopero conscientemente para que os povos se reconciliem, promovendo a paz ao meu redor!

Mysterium fidei!

Mysterium fidei! Se a Eucaristia é um mistério de fé que excede tanto a nossa inteligência que nos obriga ao mais puro abandono à palavra de Deus, ninguém melhor do que Maria pode servir-nos de apoio e guia nesta atitude de abandono. Todas as vezes que repetimos o gesto de Cristo na Última Ceia dando cumprimento ao seu mandato: «Fazei isto em memória de Mim», ao mesmo tempo acolhemos o convite que Maria nos faz para obedecermos a seu Filho sem hesitação: «Fazei o que Ele vos disser» (Jo 2, 5). Com a solicitude materna manifestada nas bodas de Caná, Ela parece dizer-nos: «Não hesiteis, confiai na palavra do meu Filho. Se Ele pôde mudar a água em vinho, também é capaz de fazer do pão e do vinho o seu corpo e sangue, entregando aos crentes, neste mistério, o memorial vivo da sua Páscoa e tornando-se assim “pão de vida”».

S.S. João Paulo II, Ecclesia de Eucharistia, n.54.