"Rezar é descer com a mente ao coração e ali ficar diante da face do Senhor, onipresente, onividente dentro de nós" (Teófono, místico russo).
Coração: dia após dia, a cada hora, a cada segundo, ele pulsa em nosso peito. Mesmo quando dormimos o coração está fazendo o seu trabalho. Quando ameaça parar, as coisas complicam e a vida corre risco. Nele, há um princípio vital que nos anima, que faz cada órgão do corpo funcionar.
O ritmo e o pulsar - Não há como falar de uma espiritualidade do coração sem referir-se a esse órgão essencial para a vida. Ele tem ritmo e é responsável por bombear o sangue para todo o organismo. O ritmo da espiritualidade do coração é marcado pelo debruçar-se terno e contemplativo sobre a vida em todas as suas manifestações. Seu lugar privilegiado é o universo. É dali que tira o alimento para sua meditação.
Quem vive uma espiritualidade centrada no coração, sente-o por vezes acelerado: ou porque se extasia diante de alguma experiência de gratuidade ou porque se condói diante da dor presente no mundo. "Jesus, vendo a multidão, ficou tomado de compaixão, porque estava enfraquecida e abatida como ovelhas sem pastor" (Mt. 9, 36).
Viver a partir do coração é bombear vida para todos os membros do Corpo de Cristo e para toda a humanidade. O coração de quem vive assim está sintonizado com aquele Divino Coração, no qual pulsa todo o universo, e por isso pode espalhar amor, ternura e compaixão por onde passa ou, melhor até dizer, onde está, pois não há limites para o alcance desse "divino sangue". Onde houver alguém necessitado de vida, haverá um pouco dessa transfusão. Quanto mais forem as pessoas identificadas com essa espiritualidade, mais vasos intercomunicantes e mais vida se espalhará pelo planeta.
As possíveis cardiopatias - A espiritualidade do coração identifica também as possíveis cardiopatias que ameaçam a qualidade de vida de quem a ela é chamado e a quer viver. Uma delas é a infidelidade, outra a falta de perdão. A infidelidade fere o coração e pode causar uma hemorragia que, se não for medicada, pode levar à morte. O tratamento para essa cardiopatia chama-se conversão. Quanto à falta de perdão e às mágoas, constituem uma obstrução das artérias que levam e trazem a energia amorosa dos outros e de Deus. Para essa cardiopatia o remédio eficaz chama-se perdão: pedir perdão, doar perdão, receber perdão.
O Coração de Jesus - De onde brota essa espiritualidade do coração? Da fonte mesma que é o Coração de Jesus, aberto por nós e para nós. É preciso, portanto,não somente uma devoção ao Coração de Jesus; é preciso tirar dele a prática que ilumina a vida.
O Papa Pio XII, em sua Encíclica sobre o Coração de Jesus (Haurietis aquas in gáudio), mostra-nos como o Coração do Mestre é fonte contínua para vivermos uma espiritualidade centrada no coração: "O adorável coração de Jesus Cristo pulsa de amor ao mesmo tempo humano e divino desde que a virgem Maria pronunciou aquela palavra magnânima: "Fiat". Esse mesmo amor movia o seu coração nas suas contínuas excursões apostólicas, quando realizava aqueles inúmeros milagres, quando ressuscitava os mortos ou restituía a saúde a toda sorte de enfermos, quando sofria aqueles trabalhos, suportava o suor, a fome e a sede; nas vigílias noturnas passadas em oração a seu Pai amado; e, finalmente, nos discursos que pronunciava e nas parábolas que propunha, especialmente naquelas que tratam da misericórdia, como a da dracma perdida, a da ovelha desgarrada e a do filho pródigo. Nessas palavras e nessas obras, como diz Gregório Magno, manifesta-se o próprio coração de Deus. 'Conhece o coração de Deus nas palavras de Deus, para que com mais ardor suspires pelas coisas eternas'".
Autor: Pe. Sérgio Luiz e Silva