quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Ser santo é deixar a Luz passar!


Descobrir a vida de alguém que se santificou é deixar-se encantar por quem muito concretamente fez do Evangelho sua própria vida.

Lembro-me de meu mestre de noviciado, Pe. Afonso Paschotte, redentorista da Província de São Paulo, falecido alguns anos atrás, que usou uma conceituação de santidade que, pela sua simplicidade e clareza, mais me tocou até hoje: Ser santo é deixar a luz passar!

Como um multicolorido vitral

Ele dava, então, como exemplo, o que acontece com o vitral de uma igreja. Durante o dia, a luz incide sobre ele e a tons multicoloridos banham o interior do templo. À noite, quando as luzes se acendem no seu interior, quem passa por fora é que é brindado com as cores do vitral. Quanto mais limpo for o vitral, mais sua luz poderá passar por ele sem obstáculos.

A santidade é como a luz que vem do sol: é uma dádiva! O vitral não produz a luz, ele a deixa passar. Sem a luz o vitral não se destaca. A luz é a Graça de Deus vindo ao encontro do homem e da mulher. Como acontece com o vitral, que quanto mais límpido facilita a luz por ele, o que podemos fazer, é manter-nos abertos e predispostos para que a Graça divina inunde nosso interior.

À noite, o fenômeno se inverte: havendo agora luz dentro do templo, ela se irradia através dos vitrais, enchendo de beleza e serenidade o ambiente ao redor. Quando a Graça de Deus está presente na pessoa, de seu interior mana luz para iluminar a escuridão de nosso mundo, tão sofrido e conflituoso. Aqueles que estão próximos desta pessoa ficam também iluminados.

Um chamado a todo discípulo de Jesus

Os santos, muito especialmente, deixaram essa luz se irradiar através deles, cumprindo aquilo que diz Jesus no Evangelho: “Assim, brilhe a vossa luz diante dos homens” (Mt. 4, 16ª). Mas este é um chamado a todo cristão, pois, pelo Batismo, todos somos chamados à santidade.

Não pense em coisas excêntricas ou extraordinárias. A santidade é feita da irradiação da luz divina no meio onde você está. Naqueles que chamamos “santos”, essa luz é tão intensa que irradia-se de forma até mesmo miraculosa. Os milagres são apenas uma conseqüência da luz que neles está. O importante não são os milagres que vivenciam, mas a ação da Graça em suas almas. Isso pode e deve acontecer com cada um de nós, discípulos de Jesus. E essa luz não está restrita a uma época determinada. Até hoje sentimos a irradiação da santidade de homens e mulheres de todos os tempos na história da Igreja.

Assim é com São Geraldo. Ele era o santo que “brincava com Deus”, tanta era sua familiaridade com Ele. Muitos milagres o seguiram em sua curta vida entre nós (morreu aos vinte e nove anos). Mas não é isso o que mais se destaca em sua história. Um dos traços mais marcantes na vida desse humilde e grande irmão redentorista foi sua dedicação aos pobres.

Aprendendo com Geraldo a olhar o pobre


Ser devoto de São Geraldo é aprender, entre outras coisas, a olhar o pobre da mesma forma como ele olhou. E ele os olhava como os preferidos de Deus, seus irmãos. Para eles, em especial, dedicou sua vida missionária.

Em um dos retiros que tivemos como Província Redentorista, o pregador, Pe. Bernardo Holmes, redentorista de Fortaleza, contou-nos uma história:

“Nós estávamos chegando à região de Parque São Miguel, periferia de Fortaleza, quando um senhor veio à nossa casa, trazendo um pouco de farinha e alguns tomates, até mesmo meio passados. Perguntei o seu nome e ele disse se chamar Sebastião Esmoler. Sim, “esmoler”, porque vivia de esmolas. Com isso, ele sustentava sua família. Ele nos disse: - Como os senhores estão vindo aqui viver entre a gente, eu vim trazer um pouquinho do que recebo para partilhar com vocês.

“Aos poucos fui travando amizade com ele e sempre fazia um café para ele tomar. Um dia ele disse: - Sabe, seu padre, pedindo esmolas a gente aprende muito sobre as pessoas! Há gente que não vê a gente. Há gente que vê, mas faz que não vê a gente. Há gente que vê a gente e desvia da gente: bate a porta, passa para o outro lado da calçada... Há gente que vê a gente e julga a gente: vai trabalhar vagabundo!... Há gente que vê a gente e usa a gente: para aliviar a sua consciência ou para se mostrar. E há gente que vê a gente como gente: nem tanto porque dá alguma coisa, mas porque olha nos olhos da gente como gente!”

Essa foi a lição dada pelo Francisco e ensinada por Pe. Bernardo. E você, como vê e age com os mais pobres? Como você deixa a luz passar através de você?

Autor: Pe. Sérgio Luiz e Silva

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