Imagine estar diante de uma 'varanda' onde janelas e portas estão abertas esperando por voce para a partilha de reflexões sobre tudo aquilo que vivo em Deus e sei que valerá a pena dividir com você. Vamos nos unir ainda mais no amor de Cristo como irmãos, seremos sustento uns para os outros, vamos rir, vamos chorar, vamos rezar, e com certeza testemunharemos as experiências de fé que o próprio Deus providenciará para nós. Com carinho, Darley.
quarta-feira, 17 de março de 2010
Documentos da Igreja
Os Documentos da Igreja são:
CARTA ENCÍCLICA ou ENCÍCLICA: (Epistolae Encyclicae - Litterae Encyclicae) Documento pontifício dirigido aos Bispos de todo o mundo e, por meio deles, a todos os fiéis.
A encíclica é usada pelo Romano Pontífice para exercer o seu magistério ordinário. Trata de matéria doutrinária em variados campos: fé, costumes, culto, doutrina social, etc. A matéria nela contida não é formalmente objecto de fé. Mas, a ela se deve o religioso obséquio do assentimento exterior e interior. O termo "epistola encyclica" parece que foi introduzido por Bento XIV (1740-1758).
Exemplos de encíclicas: "Rerum Novarum" (Leão XIII) sobre a questão operária; "Casti Connubii"( Pio XI) sobre a moral conjugal; "Mediator Dei" (Pio XII) sobre Liturgia"; Humani Generis" (Pio XII) sobre alguns erros que ameaçam a fé; "Laborem Exercens" (João Paulo II) sobre o trabalho humano; "Fides et Ratio" (João Paulo II) sobre as relações entre fé e razão, etc.
CARTA APOSTÓLICA: Sob essa denominação, podemos compreender duas espécies de documentos do Papa: "Epistola Apostolica" e "Litterae Apostolicae". A primeira espécie trata de matéria doutrinária, de carácter menos solene que a encíclica. O documento é dirigido aos bispos e, por meio deles, a todos os fiéis.
Exemplo: "Mulieris Dignitatem" (João Paulo II, 15.08.88) sobre a dignidade e vocação da mulher. Esse tipo de documento pode conter algo de doutrinariamente definitivo, como a "Ordinatio Sacerdotalis" (João Paulo II, 22.05.94) sobre a ordenação sacerdotal reservada somente a varões.
A segunda espécie ("Litterae Apostolicae") é usada para vários outros assuntos: constituição de Santos Padroeiros, promoção de novos Beatos, normas disciplinares, etc.
EXORTAÇÃO APOSTÓLICA: (Adhortatio Apostolica) Forma de documento menos solene que as encíclicas. Antigamente era dirigida a um determinado grupo de pessoas.
Por exemplo, "Menti Nostrae" (Pio XII) para o clero. O termo é usado, actualmente, em sentido mais amplo: não somente como documento para determinado grupo de pessoas, mas recomendações feitas pelo Romano Pontífice aos bispos, presbíteros e todos os fiéis, sobre temas mais directamente relacionados a um grupo de pessoas, por exemplo, as exortações pós-sinodais: "Familiaris Consortio"; "Christifideles laici"; "Pastores dabo vobis".
BULA PONTIFÍCIA: O termo se refere não ao conteúdo e à solenidade de um documento pontifício, como tal, mas à apresentação, à forma externa do documento, a saber, lacrado com pequena bola (em latim, "bulla") de cera ou metal, em geral, chumbo (sub plumbo). Assim, existem Litterae Apostolicae (v. Carta Apostólica) em forma ou não de bula e também Constituição Apostólica em forma de bula.
Por exemplo, a citada "Munificentissimus Deus", bem como as constituições apostólicas de criação de dioceses. A bula mais antiga que se conhece é do Papa Agapito I (535), conservada apenas em desenho. O mais antigo original conservado é do Papa Adeodato I (615-618).
CONSTITUIÇÃO APOSTÓLICA: Documento pontifício que trata de assuntos da mais alta importância. Distingue-se em Constituição Dogmática, que contém definições de dogmas.
Por exemplo de Pio XII, a Constituição Apostólica "Munificentissimus Deus", com a qual foi definido o dogma da Assunção de Nossa Senhora e a Constituição Disciplinar, que diz respeito a determinações canónicas. Por exemplo de João Paulo II, as Constituições Apostólicas "Sacrae Disciplinae Leges" (25.01.1983) de promulgação do CIC de 1983; Pastor Bonus (28.06.1988) sobre a nova constituição da Cúria Romana.
MOTU PROPRIO: Carta Apostólica, sob a designação de Litterae Apostolicae, escrita em geral por própria iniciativa do Romano Pontífice, isto é, sem ter sido solicitado por algum interessado.
Por exemplo: a Carta Apostólica de João Paulo II "Apostolos Suos", de 21 de Março de 1998, sobre a natureza teológica e jurídica das conferências.
Fonte: http://www.paroquias.org
Os Documentos da Igreja são:
CARTA ENCÍCLICA ou ENCÍCLICA: (Epistolae Encyclicae - Litterae Encyclicae) Documento pontifício dirigido aos Bispos de todo o mundo e, por meio deles, a todos os fiéis.
A encíclica é usada pelo Romano Pontífice para exercer o seu magistério ordinário. Trata de matéria doutrinária em variados campos: fé, costumes, culto, doutrina social, etc. A matéria nela contida não é formalmente objecto de fé. Mas, a ela se deve o religioso obséquio do assentimento exterior e interior. O termo "epistola encyclica" parece que foi introduzido por Bento XIV (1740-1758).
Exemplos de encíclicas: "Rerum Novarum" (Leão XIII) sobre a questão operária; "Casti Connubii"( Pio XI) sobre a moral conjugal; "Mediator Dei" (Pio XII) sobre Liturgia"; Humani Generis" (Pio XII) sobre alguns erros que ameaçam a fé; "Laborem Exercens" (João Paulo II) sobre o trabalho humano; "Fides et Ratio" (João Paulo II) sobre as relações entre fé e razão, etc.
CARTA APOSTÓLICA: Sob essa denominação, podemos compreender duas espécies de documentos do Papa: "Epistola Apostolica" e "Litterae Apostolicae". A primeira espécie trata de matéria doutrinária, de carácter menos solene que a encíclica. O documento é dirigido aos bispos e, por meio deles, a todos os fiéis.
Exemplo: "Mulieris Dignitatem" (João Paulo II, 15.08.88) sobre a dignidade e vocação da mulher. Esse tipo de documento pode conter algo de doutrinariamente definitivo, como a "Ordinatio Sacerdotalis" (João Paulo II, 22.05.94) sobre a ordenação sacerdotal reservada somente a varões.
A segunda espécie ("Litterae Apostolicae") é usada para vários outros assuntos: constituição de Santos Padroeiros, promoção de novos Beatos, normas disciplinares, etc.
EXORTAÇÃO APOSTÓLICA: (Adhortatio Apostolica) Forma de documento menos solene que as encíclicas. Antigamente era dirigida a um determinado grupo de pessoas.
Por exemplo, "Menti Nostrae" (Pio XII) para o clero. O termo é usado, actualmente, em sentido mais amplo: não somente como documento para determinado grupo de pessoas, mas recomendações feitas pelo Romano Pontífice aos bispos, presbíteros e todos os fiéis, sobre temas mais directamente relacionados a um grupo de pessoas, por exemplo, as exortações pós-sinodais: "Familiaris Consortio"; "Christifideles laici"; "Pastores dabo vobis".
BULA PONTIFÍCIA: O termo se refere não ao conteúdo e à solenidade de um documento pontifício, como tal, mas à apresentação, à forma externa do documento, a saber, lacrado com pequena bola (em latim, "bulla") de cera ou metal, em geral, chumbo (sub plumbo). Assim, existem Litterae Apostolicae (v. Carta Apostólica) em forma ou não de bula e também Constituição Apostólica em forma de bula.
Por exemplo, a citada "Munificentissimus Deus", bem como as constituições apostólicas de criação de dioceses. A bula mais antiga que se conhece é do Papa Agapito I (535), conservada apenas em desenho. O mais antigo original conservado é do Papa Adeodato I (615-618).
CONSTITUIÇÃO APOSTÓLICA: Documento pontifício que trata de assuntos da mais alta importância. Distingue-se em Constituição Dogmática, que contém definições de dogmas.
Por exemplo de Pio XII, a Constituição Apostólica "Munificentissimus Deus", com a qual foi definido o dogma da Assunção de Nossa Senhora e a Constituição Disciplinar, que diz respeito a determinações canónicas. Por exemplo de João Paulo II, as Constituições Apostólicas "Sacrae Disciplinae Leges" (25.01.1983) de promulgação do CIC de 1983; Pastor Bonus (28.06.1988) sobre a nova constituição da Cúria Romana.
MOTU PROPRIO: Carta Apostólica, sob a designação de Litterae Apostolicae, escrita em geral por própria iniciativa do Romano Pontífice, isto é, sem ter sido solicitado por algum interessado.
Por exemplo: a Carta Apostólica de João Paulo II "Apostolos Suos", de 21 de Março de 1998, sobre a natureza teológica e jurídica das conferências.
Fonte: http://www.paroquias.org
A BONDADE INFINITA DE DEUS
Por Leandro Martins de Jesus
Certo dia, – relata-nos o Evangelho – um jovem rico aproximou-se de Jesus e lhe perguntou o que deveria fazer de bom para obter a vida Eterna. Jesus replicou-lhe: “só Deus é bom [1]”, e o exortou a seguir os mandamentos, para alcançar a vida Eterna. Entretanto, como o jovem afirmara que já seguia os mandamentos, Jesus então, lhe dá a “receita” da perfeição: “Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me![2]”.
Diante dessas palavras consignadas no Evangelho do Divino Mestre, compreendemos que é necessário o total desapego aos bens materiais, para verdadeiramente seguir a Jesus, e cumprir os mandamentos. Não é à toa que em outra ocasião já nos alertara o Senhor: “Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e as traças corroem, onde os ladrões furtam e roubam. Ajuntai para vós tesouros no céu, onde não os consomem nem as traças nem a ferrugem, e os ladrões não furtam nem roubam. Porque onde está o teu tesouro, lá também está teu coração[3].”
Por fim, diante da incredulidade dos discípulos (e muitas vezes da nossa incredulidade...), que confiavam apenas em suas capacidades humanas para alcançar a Salvação, ensina com propriedade Jesus, demonstrando a onipotência divina: “aos homens isto é impossível, mas a Deus tudo é possível[4].”
É justamente na graça de Deus que se manifesta a Sua infinita bondade, por isso nos diz São João em sua primeira carta: “Considerai com que amor nos amou o Pai, para que sejamos chamados filhos de Deus[5]”. E da mesma forma, ensina São Paulo, escrevendo aos cristãos de Éfeso: “Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que do alto do céu nos abençoou com toda a bênção espiritual em Cristo, e nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, diante de seus olhos. No seu amor nos predestinou para sermos adotados como filhos seus por Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua livre vontade, para fazer resplandecer a sua maravilhosa graça, que nos foi concedida por ele no Bem – amado[6]”.
Santo Agostinho em um de seus sermões nos mostra a bondade infinita de Deus, ao refletir sobre o Mistério da Encarnação, afirmando que Cristo assumiu a nossa natureza mortal, para morrendo nos dar a imortalidade: “Se não tivesse tomado da nossa natureza a carne mortal, Cristo não teria possibilidade de morrer por nós. Mas deste modo o imortal pôde morrer e dar a vida aos mortais. Fez-se participante de nossa morte para nos tornar participantes da sua vida[7]”
Ora, diante de tal constatação é possível vislumbrar limites na bondade divina? Creio que não! Por isso, também dizia Santo Agostinho: “Como é grande a riqueza de sua bondade, reservada para os que o temem e concedida aos que nele esperam! (...) Para sermos capazes de alcançá-lo é que o Cristo, igual ao Pai na condição divina, fez-se igual a nós na condição de servos e nos recriou à semelhança divina[8]”
Por tudo isso, São Paulo se gloriava da Cruz de Cristo[9], “escândalo para os judeus e loucura para os pagãos[10]”
Esperemos sempre no Senhor, que nos ama incondicionalmente e deseja a nossa Eterna felicidade Nele!
[1] Cf. Mt 19,17; Mc 10,18.
[2] Cf. Mt 19,21.
[3] Cf. Mt 6,19-21.
[4] Cf. Mt 19,26.
[5] Cf. I Jo 3,1.
[6] Cf. Ef 1,3-6.
[7] Cf. Santo Agostinho. Sermão: Gloriemo-nos também nós na Cruz do Senhor! apud AQUINO, Felipe. Alimento Sólido. Cachoeira Paulista: Canção Nova, 2005, p.97.
[8] Cf. Santo Agostinho. Sermão: Seremos saciados com a visão do Verbo apud AQUINO, Felipe. Op. Cit., p 98-99
[9] Cf. Gl 6,14.
[10] Cf. I Cor 1,23.
Todos os artigos disponíveis neste sítio são de livre cópia e difusão deste que sempre sejam citados a fonte e o(s) autor(es).
Para citar este artigo:
JESUS, Leandro Martins de. Apostolado Veritatis Splendor: A BONDADE INFINITA DE DEUS. Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/5986. Desde 01/12/2009.
Por Leandro Martins de Jesus
Certo dia, – relata-nos o Evangelho – um jovem rico aproximou-se de Jesus e lhe perguntou o que deveria fazer de bom para obter a vida Eterna. Jesus replicou-lhe: “só Deus é bom [1]”, e o exortou a seguir os mandamentos, para alcançar a vida Eterna. Entretanto, como o jovem afirmara que já seguia os mandamentos, Jesus então, lhe dá a “receita” da perfeição: “Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me![2]”.
Diante dessas palavras consignadas no Evangelho do Divino Mestre, compreendemos que é necessário o total desapego aos bens materiais, para verdadeiramente seguir a Jesus, e cumprir os mandamentos. Não é à toa que em outra ocasião já nos alertara o Senhor: “Não ajunteis para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e as traças corroem, onde os ladrões furtam e roubam. Ajuntai para vós tesouros no céu, onde não os consomem nem as traças nem a ferrugem, e os ladrões não furtam nem roubam. Porque onde está o teu tesouro, lá também está teu coração[3].”
Por fim, diante da incredulidade dos discípulos (e muitas vezes da nossa incredulidade...), que confiavam apenas em suas capacidades humanas para alcançar a Salvação, ensina com propriedade Jesus, demonstrando a onipotência divina: “aos homens isto é impossível, mas a Deus tudo é possível[4].”
É justamente na graça de Deus que se manifesta a Sua infinita bondade, por isso nos diz São João em sua primeira carta: “Considerai com que amor nos amou o Pai, para que sejamos chamados filhos de Deus[5]”. E da mesma forma, ensina São Paulo, escrevendo aos cristãos de Éfeso: “Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que do alto do céu nos abençoou com toda a bênção espiritual em Cristo, e nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, diante de seus olhos. No seu amor nos predestinou para sermos adotados como filhos seus por Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua livre vontade, para fazer resplandecer a sua maravilhosa graça, que nos foi concedida por ele no Bem – amado[6]”.
Santo Agostinho em um de seus sermões nos mostra a bondade infinita de Deus, ao refletir sobre o Mistério da Encarnação, afirmando que Cristo assumiu a nossa natureza mortal, para morrendo nos dar a imortalidade: “Se não tivesse tomado da nossa natureza a carne mortal, Cristo não teria possibilidade de morrer por nós. Mas deste modo o imortal pôde morrer e dar a vida aos mortais. Fez-se participante de nossa morte para nos tornar participantes da sua vida[7]”
Ora, diante de tal constatação é possível vislumbrar limites na bondade divina? Creio que não! Por isso, também dizia Santo Agostinho: “Como é grande a riqueza de sua bondade, reservada para os que o temem e concedida aos que nele esperam! (...) Para sermos capazes de alcançá-lo é que o Cristo, igual ao Pai na condição divina, fez-se igual a nós na condição de servos e nos recriou à semelhança divina[8]”
Por tudo isso, São Paulo se gloriava da Cruz de Cristo[9], “escândalo para os judeus e loucura para os pagãos[10]”
Esperemos sempre no Senhor, que nos ama incondicionalmente e deseja a nossa Eterna felicidade Nele!
[1] Cf. Mt 19,17; Mc 10,18.
[2] Cf. Mt 19,21.
[3] Cf. Mt 6,19-21.
[4] Cf. Mt 19,26.
[5] Cf. I Jo 3,1.
[6] Cf. Ef 1,3-6.
[7] Cf. Santo Agostinho. Sermão: Gloriemo-nos também nós na Cruz do Senhor! apud AQUINO, Felipe. Alimento Sólido. Cachoeira Paulista: Canção Nova, 2005, p.97.
[8] Cf. Santo Agostinho. Sermão: Seremos saciados com a visão do Verbo apud AQUINO, Felipe. Op. Cit., p 98-99
[9] Cf. Gl 6,14.
[10] Cf. I Cor 1,23.
Todos os artigos disponíveis neste sítio são de livre cópia e difusão deste que sempre sejam citados a fonte e o(s) autor(es).
Para citar este artigo:
JESUS, Leandro Martins de. Apostolado Veritatis Splendor: A BONDADE INFINITA DE DEUS. Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/5986. Desde 01/12/2009.
SANTIFICAR-SE NA QUARESMA
Por Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Caracteriza o tempo quaresmal a preparação para a Páscoa. É um período privilegiado que leva o cristão a penetrar fundo no sentido e no valor de sua dignidade de filho de Deus, destinado a uma eternidade repleta de felicidade na Casa do Pai, porque remido pelo sangue de Cristo. Cumpre então à imersão na grande misericórdia divina e isto torna o discípulo de Jesus ainda mais misericordioso com o próximo.
Três meios se fazem, porém, necessários para que se atinjam tão grandiosos objetivos: a prece, o jejum e a esmola. Não se trata de multiplicar as orações, mas de rezar ainda melhor as preces de cada dia, havendo, sobretudo, uma participação mais fervorosa nas Missas dominicais, numa atenção completa às leituras, cânticos, preces, homilia, coroando esta atitude com a comunhão no Corpo do Senhor. Sempre que possível, se unir, outrossim, aos irmãos nas preces da Via Sacra. É preciso aguçar, o dia todo, a consciência da presença de Deus, “no qual nós existimos, movemos e somos” (Atos 17,28).
A tudo isto se acrescente a valorização da oração em família: o terço ou um mistério do terço, leitura em comum da Bíblia, ainda que por poucos instantes. Uma tranqüila caminhada contemplando as maravilhas que Deus espalhou por toda parte, percebendo a beleza das árvores, o perfume das flores, o cântico dos pássaros ocasiona um notável bem-estar psicossomático. Estar atento às inspirações do Espírito Santo que vem a cada um com gemidos inenarráveis (Rm 8,26) Adite-se o jejum, prescrito, apenas para a quarta-feira de cinzas e a sexta-feira da paixão, mas sinalizando o espírito de penitência próprio da quaresma e se desdobrando em outros aspectos, como a fome e sede de Deus, do Deus vivo.
É preciso o jejum da televisão, ou seja, abstenção total de todos os programas que atentam contra os mandamentos divinos. Muitos, depois, não regressam mais às diabólicas novelas, aos filmes pornográficos. Jejum do medo, da insegurança do pânico, causados pela falta de confiança no Ser Supremo. Jejum da violência em palavras e obras, num cultivo aprimorado da paciência, da bondade, da mansidão, da brandura.
A isto se alia a mortificação e inúmeros são aqueles que se aproveitam desta temporada de graças especiais para acertar o peso e entrar no ritmo de uma dieta sadia, salutar para o corpo e a alma. Horário rígido para as refeições preconizadas pelos bons nutricionistas e nada de guloseimas que só servem para satisfazer a gula, prejudicando a saúde. Aqueles que abusam das bebidas alcoólicas iniciam uma nova etapa em suas vidas e se libertam definitivamente do vício. O mesmo se diga do cigarro que antecipa a morte de inúmeros escravos do tabagismo. Uma resolução firme atinente a esta caminhada quaresmal já significou para um sem números de pessoas o raiar de uma liberdade de efeitos imponderáveis nas suas existências.
As obrigações diárias executadas com mais dedicação, eficiência e perfeição se tornam outra modalidade de mortificação suscitada pela quaresma. A cruz de cada dia carregada com mais paciência. Colocar em ordem a casa, os lugares de trabalho.
Época também de maior fraternidade numa ajuda oportuna aos pobres. Uma abertura para a vida dos semelhantes que passam por graves privações e uma luta sem tréguas contra o aborto e a eutanásia. O perdão cordial a todos que se mostraram menos polidos ou que chegaram mesmo a ofensas que magoaram. Ser um samaritano secreto, fazendo o bem a todos sem trombetear por saber que Deus viu o bem realizado e isto basta.
Conduzir a muitos para uma boa confissão, convertendo os pecadores. Fazer um pacto com a própria língua para não deslustrar a honra alheia e só proclamar o que o outro apresenta de bom e virtuoso, desculpando sempre os que erram, evitando as críticas demolidoras. Ser caridoso consigo mesmo, combatendo a baixa estima e valorizando os dons que cada um possui. Partilhar a própria a fé com os que se acham nas ondas da dúvida, das incertezas que martirizam e confundem. Rezar com ardor pela paz neste mundo conturbado, agitado por tantas turbulências.
Para que tudo isto aconteça é de bom alvitre no final de cada dia examinar a consciência. Coragem, energia são os elementos basilares que evitarão o desânimo, o desleixo, o retrocesso.
Então, sim, marco luminoso será esta quaresma na vida de cada um, penhor de santificação e salvação.
Todos os artigos disponíveis neste sítio são de livre cópia e difusão deste que sempre sejam citados a fonte e o(s) autor(es).
Para citar este artigo:
CÔN. JOSÉ GERALDO VIDIGAL DE CARVALHO. Apostolado Veritatis Splendor: SANTIFICAR-SE NA QUARESMA. Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/4770. Desde 08/02/2008.
Por Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
Caracteriza o tempo quaresmal a preparação para a Páscoa. É um período privilegiado que leva o cristão a penetrar fundo no sentido e no valor de sua dignidade de filho de Deus, destinado a uma eternidade repleta de felicidade na Casa do Pai, porque remido pelo sangue de Cristo. Cumpre então à imersão na grande misericórdia divina e isto torna o discípulo de Jesus ainda mais misericordioso com o próximo.
Três meios se fazem, porém, necessários para que se atinjam tão grandiosos objetivos: a prece, o jejum e a esmola. Não se trata de multiplicar as orações, mas de rezar ainda melhor as preces de cada dia, havendo, sobretudo, uma participação mais fervorosa nas Missas dominicais, numa atenção completa às leituras, cânticos, preces, homilia, coroando esta atitude com a comunhão no Corpo do Senhor. Sempre que possível, se unir, outrossim, aos irmãos nas preces da Via Sacra. É preciso aguçar, o dia todo, a consciência da presença de Deus, “no qual nós existimos, movemos e somos” (Atos 17,28).
A tudo isto se acrescente a valorização da oração em família: o terço ou um mistério do terço, leitura em comum da Bíblia, ainda que por poucos instantes. Uma tranqüila caminhada contemplando as maravilhas que Deus espalhou por toda parte, percebendo a beleza das árvores, o perfume das flores, o cântico dos pássaros ocasiona um notável bem-estar psicossomático. Estar atento às inspirações do Espírito Santo que vem a cada um com gemidos inenarráveis (Rm 8,26) Adite-se o jejum, prescrito, apenas para a quarta-feira de cinzas e a sexta-feira da paixão, mas sinalizando o espírito de penitência próprio da quaresma e se desdobrando em outros aspectos, como a fome e sede de Deus, do Deus vivo.
É preciso o jejum da televisão, ou seja, abstenção total de todos os programas que atentam contra os mandamentos divinos. Muitos, depois, não regressam mais às diabólicas novelas, aos filmes pornográficos. Jejum do medo, da insegurança do pânico, causados pela falta de confiança no Ser Supremo. Jejum da violência em palavras e obras, num cultivo aprimorado da paciência, da bondade, da mansidão, da brandura.
A isto se alia a mortificação e inúmeros são aqueles que se aproveitam desta temporada de graças especiais para acertar o peso e entrar no ritmo de uma dieta sadia, salutar para o corpo e a alma. Horário rígido para as refeições preconizadas pelos bons nutricionistas e nada de guloseimas que só servem para satisfazer a gula, prejudicando a saúde. Aqueles que abusam das bebidas alcoólicas iniciam uma nova etapa em suas vidas e se libertam definitivamente do vício. O mesmo se diga do cigarro que antecipa a morte de inúmeros escravos do tabagismo. Uma resolução firme atinente a esta caminhada quaresmal já significou para um sem números de pessoas o raiar de uma liberdade de efeitos imponderáveis nas suas existências.
As obrigações diárias executadas com mais dedicação, eficiência e perfeição se tornam outra modalidade de mortificação suscitada pela quaresma. A cruz de cada dia carregada com mais paciência. Colocar em ordem a casa, os lugares de trabalho.
Época também de maior fraternidade numa ajuda oportuna aos pobres. Uma abertura para a vida dos semelhantes que passam por graves privações e uma luta sem tréguas contra o aborto e a eutanásia. O perdão cordial a todos que se mostraram menos polidos ou que chegaram mesmo a ofensas que magoaram. Ser um samaritano secreto, fazendo o bem a todos sem trombetear por saber que Deus viu o bem realizado e isto basta.
Conduzir a muitos para uma boa confissão, convertendo os pecadores. Fazer um pacto com a própria língua para não deslustrar a honra alheia e só proclamar o que o outro apresenta de bom e virtuoso, desculpando sempre os que erram, evitando as críticas demolidoras. Ser caridoso consigo mesmo, combatendo a baixa estima e valorizando os dons que cada um possui. Partilhar a própria a fé com os que se acham nas ondas da dúvida, das incertezas que martirizam e confundem. Rezar com ardor pela paz neste mundo conturbado, agitado por tantas turbulências.
Para que tudo isto aconteça é de bom alvitre no final de cada dia examinar a consciência. Coragem, energia são os elementos basilares que evitarão o desânimo, o desleixo, o retrocesso.
Então, sim, marco luminoso será esta quaresma na vida de cada um, penhor de santificação e salvação.
Todos os artigos disponíveis neste sítio são de livre cópia e difusão deste que sempre sejam citados a fonte e o(s) autor(es).
Para citar este artigo:
CÔN. JOSÉ GERALDO VIDIGAL DE CARVALHO. Apostolado Veritatis Splendor: SANTIFICAR-SE NA QUARESMA. Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/4770. Desde 08/02/2008.
SANTO FRANCISCO DE PAULA - EREMITA E RELIGIOSO
Por Ana Maria Bueno Cunha
Próprio dos Santos: 2 de abril
Sugestão de leitura: Mateus 5, 13-19 - Sois a Luz do Mundo: Brilhe a vossa luz; vim completar a lei
A extraordinária vida desse Santo comprova que a prática heróica da virtude pode, em certos casos, suprir uma ciência humana defectiva. Isso explica o aparente paradoxo da biografia de São Francisco de Paula: um analfabeto dotado de alta sabedoria, que o tornou conselheiro de Papas e monarcas. Fez grandes milagres e ressuscitou mortos.
Nascido em Paula, na Calábria, em 1416, ainda menino vestiu o hábito franciscano em razão de um voto dos pais, que eram modestos agricultores, muito tementes, cumpridores de sua funções e que se santificavam na oração, jejum, penitências e boas obras. Mas não tinham filhos. E para obtê-los, faziam violência ao Céu, sobretudo ao seráfico São Francisco, de quem eram devotos. Prometeram o nome de Francisco ao primeiro filho. O Porverello de Assis deixou-se comover, e nasceu o filho tão esperado, sendo este, então, consagrado a São Francisco de Assis.
Apareceu-lhes um frade franciscano, lembrando que chegara a hora de seus pais cumprirem a promessa feita. Os pais aquiesceram e levaram o menino, com seu pequeno hábito, para o convento franciscano de São Marcos, no qual todo o rigor da regra era observado. Francisco, embora não fosse obrigado a isso, começou a observar a regra com tanta exatidão, que se tornou modelo até para os frades mais experimentados nas práticas religiosas.
Alguns milagres marcaram a vida do frade-menino no convento. Certo dia o sacristão mandou-o precipitadamente buscar brasas para o turíbulo, mas sem indicar-lhe como. Ele, com toda simplicidade, trouxe-as em seu hábito, sem que este se queimasse. De outra feita, encarregado da cozinha, colocou os alimentos na panela e esta sobre o carvão, esquecendo-se contudo de acendê-lo. Foi depois para a igreja rezar e entrou em êxtase, olvidando-se da hora. Quando alguém, que passara pela cozinha e vira o fogo apagado, chamou-o perguntando se a refeição estava pronta, Francisco, sem titubear, respondeu que sim. E chegando à cozinha, encontrou o fogo aceso e os alimentos devidamente cozidos.
Os frades de São Marcos queriam conservar consigo aquele adolescente que dava tantas provas de santidade, o que não aconteceu. Ao sair, acompanhou os pais em peregrinações a Roma e logo aos 15 anos se tornou um eremita, perto de sua própria casa, mas Francisco queria mais solidão, por isso, um dia desapareceu e subiu uma montanha rochosa, onde encontrou uma pequena gruta que transformou, durante seis anos, em sua morada, vivendo exclusivamente para Deus, na contemplação e duras penitências, oração sem cessar e alimentando-se de raízes, frutas e ervas silvestres.
Este seu rigor ascético, não foi uma barreira para que alguns discípulos se juntassem a ele para formarem em 1452, A Ordem dos Eremitas de São Francisco de Paula, chamados também Mínimos, cujo lema era: "Caridade" e grande ardor para o apostolado. Dela participavam os habitantes da cidade, ricos e pobres, nobres e plebeus. E foram testemunhas de inúmeros milagres. Enormes pedras saíam do lugar à sua simples voz, pesadas árvores e pedras tornavam-se leves para serem removidas ou transportadas, alimentos que mal davam para um trabalhador alimentavam muitos... Com isso, mesmo pessoas doentes iam participar das construções e se viam curadas.
Não havia espécie de doenças que ele não tenha curado, de sentidos e membros do corpo humano sobre os quais não tenha exercido a graça e o poder que Deus lhe havia dado. Ele restituiu a vista a cegos, a audição a surdos, a palavra aos mudos, o uso dos pés e mãos a estropiados, a vida a agonizantes e mortos; e, o que é mais considerável, a razão a insensatos e frenéticos. Não houve jamais mal, por maior e mais incurável que parecesse, que pudesse resistir à sua voz ou ao seu toque. Acorria-se a ele de todas as partes, não só um a um, mas em grandes grupos e às centenas, como se ele fosse o Anjo Rafael e um médico descido do Céu; e, segundo o testemunho daqueles que o acompanhavam ordinariamente, ninguém jamais retornou descontente, mas cada um bendizia a Deus de ter recebido o cumprimento do que desejava.
Dentre os muitos mortos que ele ressuscitou, destaca-se seu sobrinho Nicolas. Desejava ele ardentemente fazer-se monge na Ordem que seu tio acabava de fundar. Mas sua mãe, por apego humano, a isso se opôs tenazmente. O rapaz adoeceu e morreu. O corpo foi levado à igreja do convento, e Francisco pediu que o conduzissem à sua cela. Passou a noite em lágrimas e orações, obtendo assim a ressurreição do rapaz. No dia seguinte, de manhã, quando sua irmã foi assistir ao sepultamento do filho, Francisco perguntou-lhe se ela ainda se opunha a que ele se fizesse religioso. “Ah!” – disse ela em lágrimas – “se eu não me tivesse oposto, talvez ele ainda vivesse”. – “Quer dizer que você está arrependida?” – insistiu o Santo. – “Ah, sim!”. Francisco trouxe-lhe então o filho são e salvo, que a mãe abraçou em prantos, concedendo a licença que antes recusara.
O coroamento de todas as suas virtudes consistia numa admirável simplicidade. Ele era bom, franco, cândido, serviçal, sempre disposto a fazer o bem a qualquer um. Foi esse espírito que ele comunicou a seus filhos espirituais. Ele era dotado do dom da profecia. Segundo um de seus biógrafos, dele se pode dizer, como do Profeta Samuel, que nenhuma de suas predições deixou de se cumprir. Assim, profetizou que os turcos invadiriam a Itália, como já havia predito que tomariam Constantinopla. Os demônios não podiam resistir-lhe, e foram inúmeros os casos de possessos que ele livrou do jugo diabólico. Embora analfabeto, pregava com tanta sabedoria que pasmava a quem o ouvia. E como tinha em grau heróico a virtude da sabedoria e as virtudes cardeais – prudência, justiça, temperança e fortaleza –, brilhavam elas em seu modo de ser e agir, como também em suas palavras. Por isso, sem o menor constrangimento podia conversar e dar conselhos a Papas, reis e grandes deste mundo.
Por ordem do Papa Sisto IV, que mandara averiguar a verdade dos milagres e dos dons extraordinários que Deus lhe concedia, Francisco deixou a Itália e foi para a França, a fim de assistir o rei Luis XI e prepara-lo para a morte (1483). Depois da morte do rei assumiu a direção espiritual de seu filho, Carlos VIII, continuando seus serviços também com Luis XII. Aí ficou 25 anos fundando numerosos conventos. Francisco foi o confessor da Princesa Joana, que depois de repudiada por seu marido, o futuro Luís XII, fez-se religiosa e mereceu a honra dos altares. Foi por conselho de Francisco que o Rei Carlos VIII casou-se com Ana de Bretanha, herdeira única daquele ducado, que veio assim unir-se ao Reino da França.
São Francisco, entre outros grandes carismas, era dotado de uma graça especial para obter de Deus o favor da maternidade para mulheres estéreis. Muitos milagres desse gênero, alguns em casas reais ou principescas, foram relatados no processo de canonização do Santo em Tours. Suas devoções particulares consistiam em cultuar o mistério da Santíssima Trindade, da Anunciação da Virgem, da Paixão de Nosso Senhor, bem como os santíssimos nomes de Jesus e Maria.
A “segunda morte” de São Francisco de Paula
O Santo faleceu na Sexta-feira Santa do ano de 1507, aos 91 anos de idade, em Plessis-lés-Tours. Foi canonizado em 1519. No calendário atual sua memória é facultativa. Seu corpo permaneceu incorrupto até 1562. Nesse ano, durante as Guerras de Religião, os protestantes calvinistas – como o Santo havia predito – invadiram o convento de Plessis, onde estava enterrado, tiraram seu corpo do sepulcro e, sem se comover de vê-lo em tão bom estado, queimaram-no com a madeira de um grande crucifixo da igreja. Assim, foi o Santo praticamente martirizado depois de sua morte. Entretanto, apesar do ódio dos inimigos da fé, sua glória permanece para sempre.
Mensagem e Atualidade:
A vida deste taumaturgo e austero eremita, que introduziu o "voto da vida quaresmal", isto é, do jejum quaresmal durante ao ano todo, é um fato extraordinário no contexto da sociedade pré-renacentista de seu tempo, tão refratária a austeridade. Mas é sempre atual para nós, à luz do mote paulino (2Cor.5,4) que é segredo de sua espiritualidade, ainda mais agora no tempo pascal: "A caridade de Cristo nos compele" (Caritas Christi urget nos). A austeridade (cf. o jejum permanente defendido por ele) deve ser sustentado pela contemplação da paixão do Senhor, como se vê de sua carta dirigida de Tours aos procuradores do eremitário de Spezzano (Cosenza) e lida no ofício de leitura.
A raiz dessa austeridade só pode ser a humildade radical, que entreteceu toda a sua vida. É uma virtude difícil também hoje, mas a nossa grandeza diante de Deus e dos dos homens consiste em reconhecermos nossa pequenez, sentindo-nos mínimos como esse santo, tão exaltado pelo Senhor durante a vida e depois da morte, também com milagres. Podemos fazer nossa sua oração pronunciada na hora da morte: "Amável Jesus, conservai os justos, justificai os pecadores, tende compaixão de todos os fiéis vivos e defuntos e sede-me propício, se bem que eu seja um indigníssimo pecador"
Frases de São Francisco:
- Todas as virtudes estão unidas em uma só: a caridade.
- Todas a perfeição cristã está baseada sobre a caridade.
- Um ato de caridade perfeita é um ato de amor à Igreja, porque a caridade tende ao amor de Deus e do próximo.
- O homem, amando a Deus e a seu próximo, faz-se um só corpo com a Igreja.
- Deus é o príncipe da paz e não habita senão em corações unidos pelo amor.
- Maria é a imagem da Igreja, gravada pelo dedo de próprio Deus.
- Orar devidamente é obrigar a onipotência de Deus a escutar o que queremos.
São Francisco de Paula, rogai por nós!
Por Ana Maria Bueno Cunha
Próprio dos Santos: 2 de abril
Sugestão de leitura: Mateus 5, 13-19 - Sois a Luz do Mundo: Brilhe a vossa luz; vim completar a lei
A extraordinária vida desse Santo comprova que a prática heróica da virtude pode, em certos casos, suprir uma ciência humana defectiva. Isso explica o aparente paradoxo da biografia de São Francisco de Paula: um analfabeto dotado de alta sabedoria, que o tornou conselheiro de Papas e monarcas. Fez grandes milagres e ressuscitou mortos.
Nascido em Paula, na Calábria, em 1416, ainda menino vestiu o hábito franciscano em razão de um voto dos pais, que eram modestos agricultores, muito tementes, cumpridores de sua funções e que se santificavam na oração, jejum, penitências e boas obras. Mas não tinham filhos. E para obtê-los, faziam violência ao Céu, sobretudo ao seráfico São Francisco, de quem eram devotos. Prometeram o nome de Francisco ao primeiro filho. O Porverello de Assis deixou-se comover, e nasceu o filho tão esperado, sendo este, então, consagrado a São Francisco de Assis.
Apareceu-lhes um frade franciscano, lembrando que chegara a hora de seus pais cumprirem a promessa feita. Os pais aquiesceram e levaram o menino, com seu pequeno hábito, para o convento franciscano de São Marcos, no qual todo o rigor da regra era observado. Francisco, embora não fosse obrigado a isso, começou a observar a regra com tanta exatidão, que se tornou modelo até para os frades mais experimentados nas práticas religiosas.
Alguns milagres marcaram a vida do frade-menino no convento. Certo dia o sacristão mandou-o precipitadamente buscar brasas para o turíbulo, mas sem indicar-lhe como. Ele, com toda simplicidade, trouxe-as em seu hábito, sem que este se queimasse. De outra feita, encarregado da cozinha, colocou os alimentos na panela e esta sobre o carvão, esquecendo-se contudo de acendê-lo. Foi depois para a igreja rezar e entrou em êxtase, olvidando-se da hora. Quando alguém, que passara pela cozinha e vira o fogo apagado, chamou-o perguntando se a refeição estava pronta, Francisco, sem titubear, respondeu que sim. E chegando à cozinha, encontrou o fogo aceso e os alimentos devidamente cozidos.
Os frades de São Marcos queriam conservar consigo aquele adolescente que dava tantas provas de santidade, o que não aconteceu. Ao sair, acompanhou os pais em peregrinações a Roma e logo aos 15 anos se tornou um eremita, perto de sua própria casa, mas Francisco queria mais solidão, por isso, um dia desapareceu e subiu uma montanha rochosa, onde encontrou uma pequena gruta que transformou, durante seis anos, em sua morada, vivendo exclusivamente para Deus, na contemplação e duras penitências, oração sem cessar e alimentando-se de raízes, frutas e ervas silvestres.
Este seu rigor ascético, não foi uma barreira para que alguns discípulos se juntassem a ele para formarem em 1452, A Ordem dos Eremitas de São Francisco de Paula, chamados também Mínimos, cujo lema era: "Caridade" e grande ardor para o apostolado. Dela participavam os habitantes da cidade, ricos e pobres, nobres e plebeus. E foram testemunhas de inúmeros milagres. Enormes pedras saíam do lugar à sua simples voz, pesadas árvores e pedras tornavam-se leves para serem removidas ou transportadas, alimentos que mal davam para um trabalhador alimentavam muitos... Com isso, mesmo pessoas doentes iam participar das construções e se viam curadas.
Não havia espécie de doenças que ele não tenha curado, de sentidos e membros do corpo humano sobre os quais não tenha exercido a graça e o poder que Deus lhe havia dado. Ele restituiu a vista a cegos, a audição a surdos, a palavra aos mudos, o uso dos pés e mãos a estropiados, a vida a agonizantes e mortos; e, o que é mais considerável, a razão a insensatos e frenéticos. Não houve jamais mal, por maior e mais incurável que parecesse, que pudesse resistir à sua voz ou ao seu toque. Acorria-se a ele de todas as partes, não só um a um, mas em grandes grupos e às centenas, como se ele fosse o Anjo Rafael e um médico descido do Céu; e, segundo o testemunho daqueles que o acompanhavam ordinariamente, ninguém jamais retornou descontente, mas cada um bendizia a Deus de ter recebido o cumprimento do que desejava.
Dentre os muitos mortos que ele ressuscitou, destaca-se seu sobrinho Nicolas. Desejava ele ardentemente fazer-se monge na Ordem que seu tio acabava de fundar. Mas sua mãe, por apego humano, a isso se opôs tenazmente. O rapaz adoeceu e morreu. O corpo foi levado à igreja do convento, e Francisco pediu que o conduzissem à sua cela. Passou a noite em lágrimas e orações, obtendo assim a ressurreição do rapaz. No dia seguinte, de manhã, quando sua irmã foi assistir ao sepultamento do filho, Francisco perguntou-lhe se ela ainda se opunha a que ele se fizesse religioso. “Ah!” – disse ela em lágrimas – “se eu não me tivesse oposto, talvez ele ainda vivesse”. – “Quer dizer que você está arrependida?” – insistiu o Santo. – “Ah, sim!”. Francisco trouxe-lhe então o filho são e salvo, que a mãe abraçou em prantos, concedendo a licença que antes recusara.
O coroamento de todas as suas virtudes consistia numa admirável simplicidade. Ele era bom, franco, cândido, serviçal, sempre disposto a fazer o bem a qualquer um. Foi esse espírito que ele comunicou a seus filhos espirituais. Ele era dotado do dom da profecia. Segundo um de seus biógrafos, dele se pode dizer, como do Profeta Samuel, que nenhuma de suas predições deixou de se cumprir. Assim, profetizou que os turcos invadiriam a Itália, como já havia predito que tomariam Constantinopla. Os demônios não podiam resistir-lhe, e foram inúmeros os casos de possessos que ele livrou do jugo diabólico. Embora analfabeto, pregava com tanta sabedoria que pasmava a quem o ouvia. E como tinha em grau heróico a virtude da sabedoria e as virtudes cardeais – prudência, justiça, temperança e fortaleza –, brilhavam elas em seu modo de ser e agir, como também em suas palavras. Por isso, sem o menor constrangimento podia conversar e dar conselhos a Papas, reis e grandes deste mundo.
Por ordem do Papa Sisto IV, que mandara averiguar a verdade dos milagres e dos dons extraordinários que Deus lhe concedia, Francisco deixou a Itália e foi para a França, a fim de assistir o rei Luis XI e prepara-lo para a morte (1483). Depois da morte do rei assumiu a direção espiritual de seu filho, Carlos VIII, continuando seus serviços também com Luis XII. Aí ficou 25 anos fundando numerosos conventos. Francisco foi o confessor da Princesa Joana, que depois de repudiada por seu marido, o futuro Luís XII, fez-se religiosa e mereceu a honra dos altares. Foi por conselho de Francisco que o Rei Carlos VIII casou-se com Ana de Bretanha, herdeira única daquele ducado, que veio assim unir-se ao Reino da França.
São Francisco, entre outros grandes carismas, era dotado de uma graça especial para obter de Deus o favor da maternidade para mulheres estéreis. Muitos milagres desse gênero, alguns em casas reais ou principescas, foram relatados no processo de canonização do Santo em Tours. Suas devoções particulares consistiam em cultuar o mistério da Santíssima Trindade, da Anunciação da Virgem, da Paixão de Nosso Senhor, bem como os santíssimos nomes de Jesus e Maria.
A “segunda morte” de São Francisco de Paula
O Santo faleceu na Sexta-feira Santa do ano de 1507, aos 91 anos de idade, em Plessis-lés-Tours. Foi canonizado em 1519. No calendário atual sua memória é facultativa. Seu corpo permaneceu incorrupto até 1562. Nesse ano, durante as Guerras de Religião, os protestantes calvinistas – como o Santo havia predito – invadiram o convento de Plessis, onde estava enterrado, tiraram seu corpo do sepulcro e, sem se comover de vê-lo em tão bom estado, queimaram-no com a madeira de um grande crucifixo da igreja. Assim, foi o Santo praticamente martirizado depois de sua morte. Entretanto, apesar do ódio dos inimigos da fé, sua glória permanece para sempre.
Mensagem e Atualidade:
A vida deste taumaturgo e austero eremita, que introduziu o "voto da vida quaresmal", isto é, do jejum quaresmal durante ao ano todo, é um fato extraordinário no contexto da sociedade pré-renacentista de seu tempo, tão refratária a austeridade. Mas é sempre atual para nós, à luz do mote paulino (2Cor.5,4) que é segredo de sua espiritualidade, ainda mais agora no tempo pascal: "A caridade de Cristo nos compele" (Caritas Christi urget nos). A austeridade (cf. o jejum permanente defendido por ele) deve ser sustentado pela contemplação da paixão do Senhor, como se vê de sua carta dirigida de Tours aos procuradores do eremitário de Spezzano (Cosenza) e lida no ofício de leitura.
A raiz dessa austeridade só pode ser a humildade radical, que entreteceu toda a sua vida. É uma virtude difícil também hoje, mas a nossa grandeza diante de Deus e dos dos homens consiste em reconhecermos nossa pequenez, sentindo-nos mínimos como esse santo, tão exaltado pelo Senhor durante a vida e depois da morte, também com milagres. Podemos fazer nossa sua oração pronunciada na hora da morte: "Amável Jesus, conservai os justos, justificai os pecadores, tende compaixão de todos os fiéis vivos e defuntos e sede-me propício, se bem que eu seja um indigníssimo pecador"
Frases de São Francisco:
- Todas as virtudes estão unidas em uma só: a caridade.
- Todas a perfeição cristã está baseada sobre a caridade.
- Um ato de caridade perfeita é um ato de amor à Igreja, porque a caridade tende ao amor de Deus e do próximo.
- O homem, amando a Deus e a seu próximo, faz-se um só corpo com a Igreja.
- Deus é o príncipe da paz e não habita senão em corações unidos pelo amor.
- Maria é a imagem da Igreja, gravada pelo dedo de próprio Deus.
- Orar devidamente é obrigar a onipotência de Deus a escutar o que queremos.
São Francisco de Paula, rogai por nós!
FAZER A VONTADE DE DEUS SEGUNDO SANTO AFONSO DE LIGÓRIO
Por Ana Maria Bueno Cunha
Fonte: Sociedade Católica
Afonso de Ligório, jovem advogado, teve sua fama aumentada quando começou a pregar, realizando uma revolução nos corações dos pobres e humildes de Nápoles, pois acreditava com todo fervor, que quando se “ propõe adequadamente o bem”, qualquer pessoa a ele se entrega e se transforma. Seu apostolado crescia e muitos aderiam à força de sua mensagem, pois sabia que todos somos chamados, em grau maior ou menor a ser santos.
Assim, qualquer “alma redimida pelo Batismo, tornando-se pela graça templo do Espírito Santo, possui em potência o indispensável para atingir a santidade”. Alertava a todos que só as orações vocais e atos externos de piedade dificilmente levam à santificação, e que por isso deveriam recorrer a uma vida de intensa piedade interior, estimulando-os à oração mental, tão necessária ao crescimento das virtudes, pois coloca a alma contantemente na presença de Deus e da insuficência própria, iluminando-a a respeito das perfeições de Deus e das limitaçoes e defeitos próprios. Nesta sua caminhada de santidade e de profundo amor a Deus e as almas, descobre como se deve conduzir para se fazer a vontade de Deus que é sempre soberana e que conduz o homem ao seu fim último que é santidade e perfeição. Esta caminhada que percorreremos, pedindo à Santíssima Virgem que nos ajude a compreender tal vontade, para sermos também, como Santo Afonso, santos e irrepreensíveis aos olhos do Pai, que é Santíssimo.
O Caminho da Santidade
O mais importante é fazer a Vontade de Deus, nos diz Santo Afonso de Ligório, e nos revela que toda perfeição ou santidade consiste no amor a Deus, entretanto, toda a perfeição do amor consiste em conformar nossa vontade a Sua vontade , porque no dizer de São Basílio, “o efeito principal do amor é: unir as vontades dos que se amam de maneira que tenham uma só vontade”. Não há dúvida que agradam a Deus nossos sacrifícios, renúncias e meditações, obras de misericórdia, exercícios de piedade, contanto que tudo esteja de acordo com a sábia vontade do Senhor. Caso contrário, Deus os reprova e são merecedores de castigo. Se nossas obras e atividades não se realizam segundo o agrado divino, como poderiam agradar a Deus?
O profeta Samuel quando disse: “A obediência vale mais que sacrifícios” (I Samuel 15,22), mostrou que obedecendo a Deus o agradamos mais que se fizermos sacrifícios, já que o homem que deseja agir por conta própria, comete uma espécie de idolatria, porque neste caso, adora sua própria vontade, não a vontade de Deus. Pode-se dizer seguramente que a maior glória que damos a Deus é quando fazemos Sua vontade, foi o que fez Jesus quando veio a este mundo, justamente para glorifica-lo, pois disse várias vezes que não veio para fazer a Sua vontade mas a do Pai que o enviou e isso se cumpriu quando entrou no mundo se fazendo vítima de expiação para a remissão dos pecados da humanidade. Deus recusou todos os sacrifícios dos homens para receber a vítima perfeita, esta vítima era Cristo. O mundo haveria de entender este amor imenso pela vontade do Pai, que era remir os homens que estavam nas trevas do pecado e da condenação eterna, por isso, a cruz foi o caminho escolhido. Antes de se entregar disse: “ Para que o mundo saiba que eu amo o Pai, e faço como o Pai me mandou, levantai-vos e saiamos daqui”(Jo 14, 31). Seus seguidores seriam identificados como tal se fizessem como Ele, a vontade do Pai: “Pois todo aquele que fizer a vontade de Meu Pai que está nos céus, este será meu irmão, irmã e mãe”(Mt 12,50).
Se tem algo que os santos descobriram, é que ninguém se torna santo sem a busca da perfeição cristã e que toda sua luta consistiu nisso, em fazer sua vontade se conformar à vontade de Deus. Eles são exemplos para nós, que participamos da Igreja militante rumo ao céu, o seu amor puro e perfeito, e a glória a que se encontram há de nos estimular a buscar também fazer a vontade de Deus, amando-o acima de qualquer coisa, o que então facilitará muito em aceitarmos Sua vontade seja ela qual for. Jesus nos ensinou a pedir a graça de fazer Sua vontade na terra, como o fazem os santos no céu: “Seja feita a Vossa vontade, assim na terra como no céu”(Mt 6,10). Santa Tereza nos diz: ”Toda a aspiração de quem começa a rezar deve ser esta: quero trabalhar, quero me esforçar para em tudo conformar minha vontade com a vontade do Pai. Nisto consiste a maior perfeição que se pode alcançar no caminho espiritual”(Moradas, 2). O bem-aventurado Henrique Suso dizia que: “Deus não exige de nós que tenhamos muitas idéias luminosas, mas que façamos sua vontade” e que “Preferia ser o mais desprezível verme na terra por vontade de Deus do que um anjo no céu por sua própria vontade”.
Nossa vontade seja também a vontade de Deus, esta é a mais alta perfeição que podemos aspirar e para isso é preciso que entreguemos tudo a Ele, porque se assim o fizermos estamos nos dando a Ele por inteiro. “Quem dá esmolas, entrega ao Senhor parte de seus bens, que se sacrifica, lhe dá um pedaço de si próprio. Quem pratica o jejum, oferece seu alimento, mas aquele que lhe oferece sua vontade, se consagra totalmente a Deus. Não reserva nada para si” e por isso pode verdadeiramente dizer a Deus: ‘Meu Deus e meu Senhor, sou pobre, mas eu vos dou tudo o que tenho, tudo o que sou, porque dando-vos minha vontade, nada mais me sobra para vos dar’, e é precisamente isto que o Senhor nos pede quando diz: “Meu filho, dá-me teu coração”(Pr 23, 26), isto é, tua vontade. Santo Agostinho nos lembra que não podemos fazer oferenda mais agradável a Deus do que lhe dizer: “Tomai, Senhor, posse de mim; eu vos dou toda a minha vontade; dai-me entender o que quereis de mim, e dai-me disponibilidade para realizá-lo”.
O Caminho da Paz
O bem-aventurado João de Ávila diz que “mais vale um muito obrigado, Meu Deus, na adversidade, do que mil Graças a Deus na prosperidade”, constatanto que é exatamente nas provações que se avalia se estamos mesmo conformando nossa vontade à vontade d’Ele. A perfeição desta virtude consiste nesta união, tanto na prosperidade como na adversidade, na alegria e na tristeza, no sucesso e no fracasso, na saúde e na doença. Quando se trata de sucesso e prosperidade, até os pecadores sabem aceitar gostosamente as disposições de Deus, mas os santos sabem unir sua vontade aos desejos do Senhor, mesmo que contrariem seu amor próprio. Certo e de fé que nada sucede no mundo senão por permissão de Deus, entendendo isso poderemos receber com resignação cristã o que diretamente vem de Suas mãos, independente do que seja, como também é preciso receber o que vem por meio das criaturas, da maldade dos homens: desprezo, calúnias, injustiças, perseguições de toda a sorte. O Senhor nunca aprova o pecado e a manifestação de injúrias por parte das pessoas, mas se utiliza e até as permite, para delas tirar um bem maior para seus servos e amigos. O Cristão que se exercita no cumprimento desta virtude, não somente se santifica, mas gozará na terra de uma paz impertubável, porque sabe que ”tudo concorre para o bem daqueles que O amam, daqueles que segundo seu desígno, são eleitos”. (Rm 8,28). Diz o livro dos Provérbios: “Nenhum mal atingirá o justo, mas para os ímpios tudo serão males”(Pr 12,21).
As pessoas que se esforçam por querer o que Deus quer, são muitas vezes humilhadas, mas amam as humilhações; padecem pobreza, mas amam a pobreza, enfim, aceitam com amor o que lhes acontece e levam assim uma vida calma, tranquila e feliz. Vem o frio, vem a chuva, vem o calor, vem o vento, o bom cristão aceita tudo por Deus, porque assim Deus o quer. Jó ao receber a notícia de toda a tragédia de sua vida disse categoricamente: “O Senhor mo deu, o Senhor mo tirou; bendito seja o nome do Senhor”(Jó 1,21), se ele perdeu algo, não culpou pessoas, porque sabia que nada acontece se não for da vontade do Senhor. Jó olhou com o olhar de Deus as provações e tribulações que pesou sobre ele, não como fruto do azar ou do destino, mas como sinal da vontade soberana de Deus. Santo Agostinho gostava de dizer: “Tudo o que acontece contra nossa vontade, devemos nos convencer que sucede por vontade de Deus”. Esta é a liberdade tão admirável que gozam os filhos do Altíssimo. Liberdade interior que vale mais que todos os tesouros e poderes no mundo dos homens. É aquela paz que os santos experimentaram, “paz que supera todo o entendimento”(Fl 4,7).
O homem santo permanece na sabedoria como o sol, mas o insensato muda como a lua. O pecador é como ela: hoje cheia, amanhã, minguante; hoje ri, amanhã chora de remorso, de angústia e tristeza; hoje parece tranquilo e sereno, amanhã furioso como o tigre. E por que? Porque seu contentamento depende das coisas boas ou más que lhe acontecem, e, por isso, mudam segundo sopram os ventos favoráveis ou contrários. O justo é como o sol, sempre sereno e tranquilo, porque sua paz está fundada na conformidade de sua vontade com a vontade de Deus. Podemos gozar aqui na terra de um paraíso antecipado, pois esta paz causa alegria plena, e foi exatamente o que aconteceu aos santos, independente do que passavam; é uma alegria que o mundo não compreende mas que pode e deve estar no coração daquele que tudo se conforma a Deus, e nada, nem a dor, nem a fome, nem a tribulação, haverá de tirar esta paz e impedir que se cumpra de fato a vontade de Deus em sua vida.
Seja Feita a Vossa Vontade
“Quem poderá resistir à vontade de Deus?”(Rm 9,19) diz São Paulo constatando que ninguém pode impedir que se cumpram os decretos divinos, e que por isso, sábio é aquele se deixa conduzir por Deus em todos as ocasiões de sua vida, e que todos os homens, grandes ou pequenos, ricos e pobres deverão carregar sua cruz. Os que carregam cheios de revolta, sem amor, terão neste mundo uma vida inquieta, vazia, e na outra terão sofrimentos maiores, é o que se lê no livro de Jó: “Deus é sábio de coração, forte e poderoso, quem lhe poderá resistir impunemente?”(Jó 9,4). “Que buscas, ó homem – dizia Santo Agostinho -, buscando bens e mais bens? Ama e busca, o único bem verdadeiro, no qual estão todos os bens. Busca Deus, entrega-te a Ele, abraça a sua santa vontade e viverás sempre feliz, nesta e na outra vida”.
Poderemos encontrar um amigo que nos ame mais que Deus? Todo seu desejo e empenho é de que ninguém se perca, pois sendo Ele por natureza, a bondade infinita, a própria bondade, e sendo próprio dela se comunicar a outros, Ele só deseja nos fazer participantes de seus bens e de sua eterna e infinita felicidade. Depois que Deus ofereceu ao mundo a salvação em Seu Filho Jesus Cristo pela Igreja, poderá negar-nos alguma coisa? “Se Deus é por nós, quem será contra nós?”(Rm 8,31). Se queres ser agradável ao Senhor e levar neste mundo vida feliz e tranquila, procura estar unido, sempre e em todas as coisas, à vontade do Senhor e permanece fiel à oração nunca se esqueçendo de que todos os pecados, desordens e angústias de tua vida passada tem raiz e fundamento o te haveres separado da vontade de Deus. Apega-te de hoje em diante à vontade divina e em tudo que te acontece reza como Jesus Cristo: “Sim, ó Pai, porque isso foi do teu agrado” (Mt 11,26). Quando as humilhações e depressões pesarem, que teu espírito cheio de humildade e de conformidade diga a Deus: “Calo-me, já não abro a boca, porque sois Vós que operais” (Sl 38,10.) A isto deves orientar todos os teus pensamentos e orações, pedindo sempre ao Senhor, na meditação, na comunhão, na visita ao Santíssimo Sacramento, que tudo te ajude a cumprir a vontade d’Ele, dizendo: “Aqui me tendes, Meu Deus, fazei de mim o que quiserdes!” Santa Teresa assim o fazia, oferecendo-se a Deus muitas vezes por dia.
Assim Na Terra Como No Céu
A enfermidade é a pedra de toque dos espíritos humanos, porque a seu contato se descobre a virtude, o valor que uma alma tem em si. Se suporta a provação sem perturbar-se, sem lamentar-se nem inquietar-se; se obedece ao médico e aos superiores; se permanece tranquila e resignada à vontade de Deus, é sinal que sua virtude é sólida. De nada adiantará a murmuração, o lamento, as queixas, já que sua alma não crescerá em virtude e não fará com isso a santa vontade de Deus, tornando seus tormentos maiores e pouco frutuosos, já que poderia te-los usados para sua própria santificação.
Devemos também resignar-nos à vontade de Deus nas desolações e securas espirituais. Quando uma alma se entrega à vida de justiça e santidade, o Senhor constuma mandar-lhe todo o gênero de sofrimentos e de desolações espirituais. Por que? – Para desprende-la dos prazeres da vida. Para ver se nosso amor é verdadeiro, desinteressado; para testar nossa fé e nossa fidelidade; para ver se procuramos “O Deus das consolações ou as consolações de Deus”. Os santos sofreram muitas desolações e securas espirituais. “Que duro está meu coração, exclamava São Bernardo; não tenho gosto nem para ler, não encontro consolo nem na oração nem na meditação”. Mas eles sabiam que as verdadeiras alegrias, santas e ternas, Deus as reserva para o céu. Esta terra é lugar de merecimento, ao passo que o paraíso é o lugar de prêmio e descanso, de repouso no Senhor.
Finalmente, devemos nos resignar-nos à vontade de Deus, quando a morte nos visitar, seja quanto ao tempo, ao lugar e ao modo. Viver procurando a Sua vontade em todas as circunstâncias de nossa vida é sinal de grande sabedoria cristã. Quer na vida, quer na morte, quer no tempo, quer na eternidade, minha felicidade está na realização da vontade divina. Assim procediam Jesus, Nossa Senhora e todos os santos, querem exemplos melhores? O temor de perder a Deus nos faz sermos vigilantes e sempre dispostos a jamais perder a graça alcançada. Quem ama deseja a presença da pessoa amada. O amor requer presença. E como “quem não morre não vê a Deus”, devemos suspirar e não temer, como os santos pela hora da morte libertadora para entrarem no paraíso. Santo Agostinho rezava pedindo a salvação: “Morra eu, Meu Deus, para ir ver-te!”…E São Paulo desabafou: “Desejo partir para estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor”( Fl 1,23). E o profeta Davi, muitos séculos antes do Apóstolo, suspirava: - “A minha alma tem sede do Senhor, do Deus Vivo. Quando poderei chegar, para contemplar a face de Deus”(Sl 41,3). Assim falavam e rezavam todas as almas enamoradas do Senhor da vida.
Os Bens Espirituais
Esta é a ambição que deves cultivar no coração: amar a Deus o máximo que puderes. Todavia não se deve desejar um grau de amor maior do que aquele que o Deus de amor determinou nos conceder desde toda a eternidade. Disse o bem-aventurado Pe. João de Ávila: - “Não creio que tenha existido um santo que não desejasse ser melhor do que era. Mas isso não lhe tirava a paz e estava sempre contente com os dons recebidos”. Por outro lado, sejamos diligentes e fervorosos em procurar nossa perfeição, usando todos os meios ao nosso alcance. Não devemos permitir jamais que a rotina e a tibieza invadam nossa vida espiritual e religiosa, dizendo: “Se Deus quiser, tudo vai dar certo”…”Deus é Pai e misericordioso”.
Não devemos nos deixar levar pelo desânimo e arrastar fraquesas, sem fazer esforço algum para romper com o egoísmo e os pecados. Sem perder a coragem, o ânimo e a confiança em Deus, com humildade, paciência e firmeza, procura valer-te da oração e dos sacramentos, do Evangelho e da devoção a Nossa Senhora, prosseguindo a caminhada para o alto. Não percas tempo desejando coisas sublimes como êxtases, visões, revelações, arroubos e outros dons sobrenaturais, o que interessa é a graça da oração, o amor de Deus e zelo pela salvação dos irmãos. E se não for do agrado de Deus levar-nos a tão sublime grau de perfeição e glória, tudo bem; o mais importante é o cumprimento de Sua vontade santa e santificadora.
Conclusão
Em suma, devemos olhar como vindas das mãos de Deus todas as coisas que nos sucedem ou nos podem atingir. Todas as nossas ações sejam orientadas ao único fim de agradar a Nosso Senhor e de cumprir sua santa vontade, ela é o caminho mais seguro e firme que nos leva à justiça e à santidade. Para termos êxito neste caminho deixemo-nos guiar por nossos superiores e pela direção caridosa e sensata de nosso conselheiro espiritual. Esforcemo-nos por servir ao Senhor do modo que Ele deseja. Digo isto para que evitemos um engano muito comum, engano e erro em que muitos ainda estão, perdendo lastimosamente seu tempo precioso, alimentando fantasias, pensamentos tolos e dizendo ainda: “Se eu entrasse para o convento, para a vida religiosa, se me retirasse para um lugar solitário, fora de casa e longe dos amigos e dos parentes, eu me faria santo; eu me dedicaria mais à oração e à penitência!”…Contentam-se com dizer: “Eu me faria santo…eu me faria santo!” E, no entanto, não levam a cruz com amor, paciência e conformidade; não aceitam a vontade de Deus.
Meu amigo, cumprindo à risca a vontade do Senhor, certamente seremos santos, em qualquer estado ou situação de vida. Não queiramos mais do que Deus quer e, então, Ele levará o nosso nome gravado em suas mãos e em seu coração. Tenhamos sempre em mente algumas passagens da Escritura, que nos convidam a entrar no esquema da vontade divina: ”Senhor, que queres que eu faça?”( At 22,10); “Sou vosso, salvai-me”(Sl 118,94); Sim, Pai, eu vos bendigo, porque foi do vosso agrado fazer isto”(Mt 11,26). Mas entre todas as orações, é esta que devemos repetir e viver todo dia e todo momento: ”Seja feita a vossa vontade” – Seja para sempre bendita e louvada a vontade do Senhor, como também a Imaculada e bem-Aventurada Virgem Maria”.
Referência:
LIGÓRIO, Santo Afonso Maria de Ligório. Conversando Sobre a Vontade de Deus. Editora Santuário: Aparecida. 1986
Por Ana Maria Bueno Cunha
Fonte: Sociedade Católica
Afonso de Ligório, jovem advogado, teve sua fama aumentada quando começou a pregar, realizando uma revolução nos corações dos pobres e humildes de Nápoles, pois acreditava com todo fervor, que quando se “ propõe adequadamente o bem”, qualquer pessoa a ele se entrega e se transforma. Seu apostolado crescia e muitos aderiam à força de sua mensagem, pois sabia que todos somos chamados, em grau maior ou menor a ser santos.
Assim, qualquer “alma redimida pelo Batismo, tornando-se pela graça templo do Espírito Santo, possui em potência o indispensável para atingir a santidade”. Alertava a todos que só as orações vocais e atos externos de piedade dificilmente levam à santificação, e que por isso deveriam recorrer a uma vida de intensa piedade interior, estimulando-os à oração mental, tão necessária ao crescimento das virtudes, pois coloca a alma contantemente na presença de Deus e da insuficência própria, iluminando-a a respeito das perfeições de Deus e das limitaçoes e defeitos próprios. Nesta sua caminhada de santidade e de profundo amor a Deus e as almas, descobre como se deve conduzir para se fazer a vontade de Deus que é sempre soberana e que conduz o homem ao seu fim último que é santidade e perfeição. Esta caminhada que percorreremos, pedindo à Santíssima Virgem que nos ajude a compreender tal vontade, para sermos também, como Santo Afonso, santos e irrepreensíveis aos olhos do Pai, que é Santíssimo.
O Caminho da Santidade
O mais importante é fazer a Vontade de Deus, nos diz Santo Afonso de Ligório, e nos revela que toda perfeição ou santidade consiste no amor a Deus, entretanto, toda a perfeição do amor consiste em conformar nossa vontade a Sua vontade , porque no dizer de São Basílio, “o efeito principal do amor é: unir as vontades dos que se amam de maneira que tenham uma só vontade”. Não há dúvida que agradam a Deus nossos sacrifícios, renúncias e meditações, obras de misericórdia, exercícios de piedade, contanto que tudo esteja de acordo com a sábia vontade do Senhor. Caso contrário, Deus os reprova e são merecedores de castigo. Se nossas obras e atividades não se realizam segundo o agrado divino, como poderiam agradar a Deus?
O profeta Samuel quando disse: “A obediência vale mais que sacrifícios” (I Samuel 15,22), mostrou que obedecendo a Deus o agradamos mais que se fizermos sacrifícios, já que o homem que deseja agir por conta própria, comete uma espécie de idolatria, porque neste caso, adora sua própria vontade, não a vontade de Deus. Pode-se dizer seguramente que a maior glória que damos a Deus é quando fazemos Sua vontade, foi o que fez Jesus quando veio a este mundo, justamente para glorifica-lo, pois disse várias vezes que não veio para fazer a Sua vontade mas a do Pai que o enviou e isso se cumpriu quando entrou no mundo se fazendo vítima de expiação para a remissão dos pecados da humanidade. Deus recusou todos os sacrifícios dos homens para receber a vítima perfeita, esta vítima era Cristo. O mundo haveria de entender este amor imenso pela vontade do Pai, que era remir os homens que estavam nas trevas do pecado e da condenação eterna, por isso, a cruz foi o caminho escolhido. Antes de se entregar disse: “ Para que o mundo saiba que eu amo o Pai, e faço como o Pai me mandou, levantai-vos e saiamos daqui”(Jo 14, 31). Seus seguidores seriam identificados como tal se fizessem como Ele, a vontade do Pai: “Pois todo aquele que fizer a vontade de Meu Pai que está nos céus, este será meu irmão, irmã e mãe”(Mt 12,50).
Se tem algo que os santos descobriram, é que ninguém se torna santo sem a busca da perfeição cristã e que toda sua luta consistiu nisso, em fazer sua vontade se conformar à vontade de Deus. Eles são exemplos para nós, que participamos da Igreja militante rumo ao céu, o seu amor puro e perfeito, e a glória a que se encontram há de nos estimular a buscar também fazer a vontade de Deus, amando-o acima de qualquer coisa, o que então facilitará muito em aceitarmos Sua vontade seja ela qual for. Jesus nos ensinou a pedir a graça de fazer Sua vontade na terra, como o fazem os santos no céu: “Seja feita a Vossa vontade, assim na terra como no céu”(Mt 6,10). Santa Tereza nos diz: ”Toda a aspiração de quem começa a rezar deve ser esta: quero trabalhar, quero me esforçar para em tudo conformar minha vontade com a vontade do Pai. Nisto consiste a maior perfeição que se pode alcançar no caminho espiritual”(Moradas, 2). O bem-aventurado Henrique Suso dizia que: “Deus não exige de nós que tenhamos muitas idéias luminosas, mas que façamos sua vontade” e que “Preferia ser o mais desprezível verme na terra por vontade de Deus do que um anjo no céu por sua própria vontade”.
Nossa vontade seja também a vontade de Deus, esta é a mais alta perfeição que podemos aspirar e para isso é preciso que entreguemos tudo a Ele, porque se assim o fizermos estamos nos dando a Ele por inteiro. “Quem dá esmolas, entrega ao Senhor parte de seus bens, que se sacrifica, lhe dá um pedaço de si próprio. Quem pratica o jejum, oferece seu alimento, mas aquele que lhe oferece sua vontade, se consagra totalmente a Deus. Não reserva nada para si” e por isso pode verdadeiramente dizer a Deus: ‘Meu Deus e meu Senhor, sou pobre, mas eu vos dou tudo o que tenho, tudo o que sou, porque dando-vos minha vontade, nada mais me sobra para vos dar’, e é precisamente isto que o Senhor nos pede quando diz: “Meu filho, dá-me teu coração”(Pr 23, 26), isto é, tua vontade. Santo Agostinho nos lembra que não podemos fazer oferenda mais agradável a Deus do que lhe dizer: “Tomai, Senhor, posse de mim; eu vos dou toda a minha vontade; dai-me entender o que quereis de mim, e dai-me disponibilidade para realizá-lo”.
O Caminho da Paz
O bem-aventurado João de Ávila diz que “mais vale um muito obrigado, Meu Deus, na adversidade, do que mil Graças a Deus na prosperidade”, constatanto que é exatamente nas provações que se avalia se estamos mesmo conformando nossa vontade à vontade d’Ele. A perfeição desta virtude consiste nesta união, tanto na prosperidade como na adversidade, na alegria e na tristeza, no sucesso e no fracasso, na saúde e na doença. Quando se trata de sucesso e prosperidade, até os pecadores sabem aceitar gostosamente as disposições de Deus, mas os santos sabem unir sua vontade aos desejos do Senhor, mesmo que contrariem seu amor próprio. Certo e de fé que nada sucede no mundo senão por permissão de Deus, entendendo isso poderemos receber com resignação cristã o que diretamente vem de Suas mãos, independente do que seja, como também é preciso receber o que vem por meio das criaturas, da maldade dos homens: desprezo, calúnias, injustiças, perseguições de toda a sorte. O Senhor nunca aprova o pecado e a manifestação de injúrias por parte das pessoas, mas se utiliza e até as permite, para delas tirar um bem maior para seus servos e amigos. O Cristão que se exercita no cumprimento desta virtude, não somente se santifica, mas gozará na terra de uma paz impertubável, porque sabe que ”tudo concorre para o bem daqueles que O amam, daqueles que segundo seu desígno, são eleitos”. (Rm 8,28). Diz o livro dos Provérbios: “Nenhum mal atingirá o justo, mas para os ímpios tudo serão males”(Pr 12,21).
As pessoas que se esforçam por querer o que Deus quer, são muitas vezes humilhadas, mas amam as humilhações; padecem pobreza, mas amam a pobreza, enfim, aceitam com amor o que lhes acontece e levam assim uma vida calma, tranquila e feliz. Vem o frio, vem a chuva, vem o calor, vem o vento, o bom cristão aceita tudo por Deus, porque assim Deus o quer. Jó ao receber a notícia de toda a tragédia de sua vida disse categoricamente: “O Senhor mo deu, o Senhor mo tirou; bendito seja o nome do Senhor”(Jó 1,21), se ele perdeu algo, não culpou pessoas, porque sabia que nada acontece se não for da vontade do Senhor. Jó olhou com o olhar de Deus as provações e tribulações que pesou sobre ele, não como fruto do azar ou do destino, mas como sinal da vontade soberana de Deus. Santo Agostinho gostava de dizer: “Tudo o que acontece contra nossa vontade, devemos nos convencer que sucede por vontade de Deus”. Esta é a liberdade tão admirável que gozam os filhos do Altíssimo. Liberdade interior que vale mais que todos os tesouros e poderes no mundo dos homens. É aquela paz que os santos experimentaram, “paz que supera todo o entendimento”(Fl 4,7).
O homem santo permanece na sabedoria como o sol, mas o insensato muda como a lua. O pecador é como ela: hoje cheia, amanhã, minguante; hoje ri, amanhã chora de remorso, de angústia e tristeza; hoje parece tranquilo e sereno, amanhã furioso como o tigre. E por que? Porque seu contentamento depende das coisas boas ou más que lhe acontecem, e, por isso, mudam segundo sopram os ventos favoráveis ou contrários. O justo é como o sol, sempre sereno e tranquilo, porque sua paz está fundada na conformidade de sua vontade com a vontade de Deus. Podemos gozar aqui na terra de um paraíso antecipado, pois esta paz causa alegria plena, e foi exatamente o que aconteceu aos santos, independente do que passavam; é uma alegria que o mundo não compreende mas que pode e deve estar no coração daquele que tudo se conforma a Deus, e nada, nem a dor, nem a fome, nem a tribulação, haverá de tirar esta paz e impedir que se cumpra de fato a vontade de Deus em sua vida.
Seja Feita a Vossa Vontade
“Quem poderá resistir à vontade de Deus?”(Rm 9,19) diz São Paulo constatando que ninguém pode impedir que se cumpram os decretos divinos, e que por isso, sábio é aquele se deixa conduzir por Deus em todos as ocasiões de sua vida, e que todos os homens, grandes ou pequenos, ricos e pobres deverão carregar sua cruz. Os que carregam cheios de revolta, sem amor, terão neste mundo uma vida inquieta, vazia, e na outra terão sofrimentos maiores, é o que se lê no livro de Jó: “Deus é sábio de coração, forte e poderoso, quem lhe poderá resistir impunemente?”(Jó 9,4). “Que buscas, ó homem – dizia Santo Agostinho -, buscando bens e mais bens? Ama e busca, o único bem verdadeiro, no qual estão todos os bens. Busca Deus, entrega-te a Ele, abraça a sua santa vontade e viverás sempre feliz, nesta e na outra vida”.
Poderemos encontrar um amigo que nos ame mais que Deus? Todo seu desejo e empenho é de que ninguém se perca, pois sendo Ele por natureza, a bondade infinita, a própria bondade, e sendo próprio dela se comunicar a outros, Ele só deseja nos fazer participantes de seus bens e de sua eterna e infinita felicidade. Depois que Deus ofereceu ao mundo a salvação em Seu Filho Jesus Cristo pela Igreja, poderá negar-nos alguma coisa? “Se Deus é por nós, quem será contra nós?”(Rm 8,31). Se queres ser agradável ao Senhor e levar neste mundo vida feliz e tranquila, procura estar unido, sempre e em todas as coisas, à vontade do Senhor e permanece fiel à oração nunca se esqueçendo de que todos os pecados, desordens e angústias de tua vida passada tem raiz e fundamento o te haveres separado da vontade de Deus. Apega-te de hoje em diante à vontade divina e em tudo que te acontece reza como Jesus Cristo: “Sim, ó Pai, porque isso foi do teu agrado” (Mt 11,26). Quando as humilhações e depressões pesarem, que teu espírito cheio de humildade e de conformidade diga a Deus: “Calo-me, já não abro a boca, porque sois Vós que operais” (Sl 38,10.) A isto deves orientar todos os teus pensamentos e orações, pedindo sempre ao Senhor, na meditação, na comunhão, na visita ao Santíssimo Sacramento, que tudo te ajude a cumprir a vontade d’Ele, dizendo: “Aqui me tendes, Meu Deus, fazei de mim o que quiserdes!” Santa Teresa assim o fazia, oferecendo-se a Deus muitas vezes por dia.
Assim Na Terra Como No Céu
A enfermidade é a pedra de toque dos espíritos humanos, porque a seu contato se descobre a virtude, o valor que uma alma tem em si. Se suporta a provação sem perturbar-se, sem lamentar-se nem inquietar-se; se obedece ao médico e aos superiores; se permanece tranquila e resignada à vontade de Deus, é sinal que sua virtude é sólida. De nada adiantará a murmuração, o lamento, as queixas, já que sua alma não crescerá em virtude e não fará com isso a santa vontade de Deus, tornando seus tormentos maiores e pouco frutuosos, já que poderia te-los usados para sua própria santificação.
Devemos também resignar-nos à vontade de Deus nas desolações e securas espirituais. Quando uma alma se entrega à vida de justiça e santidade, o Senhor constuma mandar-lhe todo o gênero de sofrimentos e de desolações espirituais. Por que? – Para desprende-la dos prazeres da vida. Para ver se nosso amor é verdadeiro, desinteressado; para testar nossa fé e nossa fidelidade; para ver se procuramos “O Deus das consolações ou as consolações de Deus”. Os santos sofreram muitas desolações e securas espirituais. “Que duro está meu coração, exclamava São Bernardo; não tenho gosto nem para ler, não encontro consolo nem na oração nem na meditação”. Mas eles sabiam que as verdadeiras alegrias, santas e ternas, Deus as reserva para o céu. Esta terra é lugar de merecimento, ao passo que o paraíso é o lugar de prêmio e descanso, de repouso no Senhor.
Finalmente, devemos nos resignar-nos à vontade de Deus, quando a morte nos visitar, seja quanto ao tempo, ao lugar e ao modo. Viver procurando a Sua vontade em todas as circunstâncias de nossa vida é sinal de grande sabedoria cristã. Quer na vida, quer na morte, quer no tempo, quer na eternidade, minha felicidade está na realização da vontade divina. Assim procediam Jesus, Nossa Senhora e todos os santos, querem exemplos melhores? O temor de perder a Deus nos faz sermos vigilantes e sempre dispostos a jamais perder a graça alcançada. Quem ama deseja a presença da pessoa amada. O amor requer presença. E como “quem não morre não vê a Deus”, devemos suspirar e não temer, como os santos pela hora da morte libertadora para entrarem no paraíso. Santo Agostinho rezava pedindo a salvação: “Morra eu, Meu Deus, para ir ver-te!”…E São Paulo desabafou: “Desejo partir para estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor”( Fl 1,23). E o profeta Davi, muitos séculos antes do Apóstolo, suspirava: - “A minha alma tem sede do Senhor, do Deus Vivo. Quando poderei chegar, para contemplar a face de Deus”(Sl 41,3). Assim falavam e rezavam todas as almas enamoradas do Senhor da vida.
Os Bens Espirituais
Esta é a ambição que deves cultivar no coração: amar a Deus o máximo que puderes. Todavia não se deve desejar um grau de amor maior do que aquele que o Deus de amor determinou nos conceder desde toda a eternidade. Disse o bem-aventurado Pe. João de Ávila: - “Não creio que tenha existido um santo que não desejasse ser melhor do que era. Mas isso não lhe tirava a paz e estava sempre contente com os dons recebidos”. Por outro lado, sejamos diligentes e fervorosos em procurar nossa perfeição, usando todos os meios ao nosso alcance. Não devemos permitir jamais que a rotina e a tibieza invadam nossa vida espiritual e religiosa, dizendo: “Se Deus quiser, tudo vai dar certo”…”Deus é Pai e misericordioso”.
Não devemos nos deixar levar pelo desânimo e arrastar fraquesas, sem fazer esforço algum para romper com o egoísmo e os pecados. Sem perder a coragem, o ânimo e a confiança em Deus, com humildade, paciência e firmeza, procura valer-te da oração e dos sacramentos, do Evangelho e da devoção a Nossa Senhora, prosseguindo a caminhada para o alto. Não percas tempo desejando coisas sublimes como êxtases, visões, revelações, arroubos e outros dons sobrenaturais, o que interessa é a graça da oração, o amor de Deus e zelo pela salvação dos irmãos. E se não for do agrado de Deus levar-nos a tão sublime grau de perfeição e glória, tudo bem; o mais importante é o cumprimento de Sua vontade santa e santificadora.
Conclusão
Em suma, devemos olhar como vindas das mãos de Deus todas as coisas que nos sucedem ou nos podem atingir. Todas as nossas ações sejam orientadas ao único fim de agradar a Nosso Senhor e de cumprir sua santa vontade, ela é o caminho mais seguro e firme que nos leva à justiça e à santidade. Para termos êxito neste caminho deixemo-nos guiar por nossos superiores e pela direção caridosa e sensata de nosso conselheiro espiritual. Esforcemo-nos por servir ao Senhor do modo que Ele deseja. Digo isto para que evitemos um engano muito comum, engano e erro em que muitos ainda estão, perdendo lastimosamente seu tempo precioso, alimentando fantasias, pensamentos tolos e dizendo ainda: “Se eu entrasse para o convento, para a vida religiosa, se me retirasse para um lugar solitário, fora de casa e longe dos amigos e dos parentes, eu me faria santo; eu me dedicaria mais à oração e à penitência!”…Contentam-se com dizer: “Eu me faria santo…eu me faria santo!” E, no entanto, não levam a cruz com amor, paciência e conformidade; não aceitam a vontade de Deus.
Meu amigo, cumprindo à risca a vontade do Senhor, certamente seremos santos, em qualquer estado ou situação de vida. Não queiramos mais do que Deus quer e, então, Ele levará o nosso nome gravado em suas mãos e em seu coração. Tenhamos sempre em mente algumas passagens da Escritura, que nos convidam a entrar no esquema da vontade divina: ”Senhor, que queres que eu faça?”( At 22,10); “Sou vosso, salvai-me”(Sl 118,94); Sim, Pai, eu vos bendigo, porque foi do vosso agrado fazer isto”(Mt 11,26). Mas entre todas as orações, é esta que devemos repetir e viver todo dia e todo momento: ”Seja feita a vossa vontade” – Seja para sempre bendita e louvada a vontade do Senhor, como também a Imaculada e bem-Aventurada Virgem Maria”.
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LIGÓRIO, Santo Afonso Maria de Ligório. Conversando Sobre a Vontade de Deus. Editora Santuário: Aparecida. 1986
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