quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Descer para Subir

«Jesus veio para reunir, para curar, para criar laços, para reconciliar. Ele partilhou a nossa angústia para que, através dela, fôssemos capazes de reencontrar o caminho para Deus. Jesus desceu para subir"Esvaziou-se de si mesmo... rebaixou-se a si mesmo, tornando-se obediente até à morte e morte de cruz. Por isso mesmo é que Deus o elevou acima de tudo e lhe concedeu o nome que está acima de todo o nome..." (Fl 2, 7-9).


Tudo em mim quer subir. A mobilidade descendente com Jesus choca radicalmente contra as minhas inclinações, contra os conselhos do mundo que me rodeia e contra a cultura da qual faço parte.
Para onde quer que me vire sou confrontado com a minha forte resistência a seguir Jesus no seu caminho para o calvário, e com os meus incontáveis modos de evitar a pobreza, quer material, quer intelectual, quer emocional. Só Jesus, no qual reside a plenitude de Deus, poderia escolher livremente ser inteiramente pobre.» -(Henri Nouwen, em "A Caminho de Daybreak")

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Na companhia de Jesus

«Jesus conduz-nos sempre para a humildade, que é onde a pobreza e a compaixão se encontram. É onde encontramos Deus...

O caminho de Jesus só pode ser percorrido na sua companhia. Se eu pretender fazê-lo sozinho, torna-se uma forma de heroísmo invertido, tão instável como o próprio heroísmo. Apenas Jesus, o Filho de Deus, Se pode dirigir a esse ponto de entrega e compaixão totais. Ele também nos avisa quanto a lutarmos apenas com as nossas forças:«Tal como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, mas só permanecendo na videira, assim também acontecerá convosco se não permanecerdes em mim.» Mas Ele também promete: «Quem permanece em mim e Eu nele, esse dá muito fruto» (João 15, 4b, 5a).

Jesus convoca-nos a continuarmos a sua missão de revelar o perfeito amor de Deus neste mundo. Ele chama-nos a uma doação total. Não quer que guardemos nada para nós mesmos. Pelo contrário, Ele deseja que o nosso amor seja tão rico, tão radical e tão completo como seu...
Apercebo-me agora com clareza porque é que a acção sem oração é tão infrutífera. Só através da oração ficamos intimamente ligados a Jesus e descobrimos a força de nos unirmos a Ele no seu caminho.» - Henri Nouwen, em "A Caminho de Daybreak"

sábado, 31 de maio de 2008

Caminho estreito

«Custa a crer que Deus nos revelaria a sua divina presença na vida de autodespojamento e humildade do Homem de Nazaré. Uma grande parte de mim procura influência, poder , sucesso e popularidade. Mas o caminho de Jesus é o do recato, da falta de poder e da pequenez. Não parece um caminho muito atraente. E, no entanto, quando penetrar na verdadeira, profunda comunhão com Jesus, descobrirei que é este caminho estreito que conduz à paz e à alegria verdadeiras.(...)


Continuo tão dividido. Desejo sinceramente seguir-te, mas quero igualmente seguir os meus próprios desejos e ainda dou ouvidos às vozes que falam de prestígio, de sucesso, de reconhecimento humano, de prazer, de poder e de influência. Ajuda-me a ficar surdo a essas vozes mais atento à tua voz, que me chama a escolher o caminho estreito...
Em todos os momentos da minha vida tenho que escolher o teu caminho. Tenho de escolher pensamentos que sejam os teus pensamentos, palavras que sejam as tuas palavras e acções que sejam as tuas acções. Não existem nem tempos nem lugares sem escolhas. E eu sei quanto resisto a escolher-te. » - Henri Nouwen, em "A caminho de Daybreak"

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Dar da sua pobreza


«Jesus, levantando os olhos, viu os ricos deitarem as suas ofertas no cofre; viu também uma pobre viúva lançar ali dois leptos; e disse: Em verdade vos digo que esta pobre viúva deu mais do que todos; porque todos aqueles deram daquilo que lhes sobrava; mas esta, da sua pobreza, deu tudo o que tinha para o seu sustento.» (Lucas 21:1-4)
«Dar, não da minha riqueza mas da minha pobreza, como a viúva de Jerusalém que deu a sua última moeda, esse é o grande desafio do Evangelho. Quando avalio criticamente a minha vida descubro que a minha generosidade surge sempre num contexto de abastança. Dou algum do meu dinheiro, algum do meu tempo, parte da minha energia e alguns dos meus pensamentos sobre Deus aos outros, mas guardo sempre para mim dinheiro, tempo, energia e pensamentos suficientes para a minha própria segurança. Assim nunca dou verdadeiramente a Deus a possibilidade de me demonstrar o Seu Amor sem limites.» (Henri Nouwen, em "A Caminho de Daybreak")

terça-feira, 27 de maio de 2008

SER POBRE

«Jesus não afirmou: "Felizes os que servem os pobres", mas sim: "Felizes os pobres." Ser pobre é o convite de Jesus, e isso é muito, muito mais difícil do que servir os pobres. A vida velada, simples e sem glória, em solidariedade com pessoas que não nos podem dar nada que nos faça sentir importantes, está longe de ser atraente. É o caminho da pobreza. Não é um caminho fácil, mas é o caminho de Deus, o caminho da Cruz.» - (Henri Nouwen, em "A Caminho de Daybreak")

sábado, 24 de maio de 2008

Comunidade L´Arche




A Caminho de Daybreak é um diário do autor (Henry Nouwen), onde ele relata a experiência pungente de um ano passado em L' Arche (cliquem! vale a pena ler este texto na íntegra. É inspirador!), uma comunidade para deficientes.
Existem muitas Comunidades da Arca espalhadas pelo mundo. O seu fundador é Jean Vanier ,ao qual pertencem os pensamentos(não há tradução em português, mas penso que são facilmente compreensíveis) do video postado.
Eis alguns trechos do diário de Henri Nouwen:

«A palavra chave aqui não são «direitos iguais» mas, pelo contrário, «partilhar os dons». Os deficientes são diferentes dos seus assistentes, mas nas suas diferenças residem dons que precisam ser descobertos, compreendidos e partilhados. Os deficientes e os assistentes necessitam uns dos outros, embora por vezes de formas diferentes. Juntos procuram formar uma verdadeira fraternidade de fracos, em permanente agradecimento a Deus pelo dom frágil da Vida.»

"... Aqui não existe necessidade de sucesso; aqui o tempo é preenchido a vestir, alimentar, transportar ou simplesmente fazer companhia aos que precisam. É um caminho extremamente exigente e cansativo, mas não existe rivalidade, nenhum grau a conquistar, nenhuma honra a possuir - apenas serviço dedicado.»

"Estar em L´Arche significa muita coisa, mas uma delas é o chamamento a um coração mais puro. De facto, Jesus fala através dos corações despedaçados dos deficientes, considerados marginais e inúteis. Mas Deus escolheu-os para serem os pobres, através dos quais Ele se dá a conhecer, o que é difícil de aceitar numa sociedade orientada para o sucesso e para a produtividade.» 
- (Henri Nouwen, em "A Caminho de Daybreak" )

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Transforma meu pranto em dança

Ultimamente os posts que tenho publicado têm abordado o tema da dor, do sofrimento(motivado essencialmente pela ausência de Deus, ou melhor, pela alienação humana de Deus), da fragilidade e fraqueza humanas. Quem leu os posts mais recentes sabe do que falo...

Ontem, ao visitar o blog dum amigo deparei-me com um texto sublime de um dos meus autores mais amados e queridos: Henri Nouwen. Não conhecia o texto porque, infelizmente, o livro do qual foi retirado não está editado em Portugal.

Quero agradecer ao Vitor a partilha. Para mim, o texto é uma dádiva preciosa!




«Mas é precisamente aqui, durante a dor, a pobreza ou a fraqueza que o Dançarino convida-nos a levantar e a dar os primeiros passos. É dentro do nosso sofrimento, e nunca fora dele, que Jesus entra em nossa tristeza, toma-nos pela mão, puxa-nos gentilmente fazendo-nos ficar de pé e convida-nos a dançar. E descobrimos o caminho da oração, como o salmista;converteste o meu pranto em dança (Salmos 30:11), porque, no âmago da nossa tristeza encontramos a graça de Deus.E, enquanto dançamos, percebemos que não precisamos ficar confinados ao diminuto espaço da nossa tristeza, mas podemos sair dali. Paramos de centralizar nossa vida em nós mesmos. Chamamos outros para dançarem connosco a dança maior.Aprendemos a dar espaço aos outros, e principalmente ao “Outro gracioso” que está em nosso meio. E quando nos fazemos presentes para Deus e Seu povo, nossa vida enriquece-se ainda mais. E constatamos que o mundo é nossa pista de dança. Nosso passo torna-se mais leve e ligeiro, porque Deus está chamando outros a dançarem também.» - Henri Nouwen, em "Transforma meu pranto em dança" - Blog: Amando ao Próximo


terça-feira, 1 de abril de 2008

Desce ao lugar do teu sofrimento

Para compreender a essência deste texto, é necessário ler o post anterior. Pode-se dizer que os dois textos estão intimamente relacionados.
«Tens que viver gradualmente o teu sofrimento retirando-lhe assim o poder que detém sobre ti. Sim, é preciso penetrares no teu sofrimento, mas só quando já te tiveres fortalecido um pouco. Quando entras simplesmente no teu sofrimento, apenas para sentir a sua aridez, ele pode afastar-te do caminho que pretendes trilhar.

O que é o teu sofrimento? É a experiência de não receberes o que mais precisas. É um local de vacuidade, onde a ausência do amor que tanto desejas se torna mais pungente. É difícil regressar a esse lugar, por que aí te confrontas com as tuas feridas, bem como com a incapacidade de te curares a ti mesmo. Tens tanto medo desse lugar que o encaras como um sítio mortal. O teu instinto de sobrevivência faz-te fugir dali e procurar qualquer outro sítio onde te sintas acolhido, embora lá no fundo saibas perfeitamente que esse lugar não existe.

Tens que começar a acreditar que a tua experiência de vacuidade não é a experiência final, que para além dela se encontra um ponto onde o amor te acolhe. Enquanto não confiares nesse ponto para além da tua vacuidade, não conseguirás regressar facilmente ao local do sofrimento.

Assim, é preciso que, quando vais ao teu local de sofrimento, o faças convicto de que já encontraste aquele novo lugar. Já provaste alguns dos seus frutos. Quanto mais raízes lançares na nova terra, tanto mais fácil te será fazer o luto pelo lugar antigo e libertares-te do sofrimento que lá permanece. Não podes fazer o luto por alguma coisa que ainda não morreu. No entanto, os velhos sofrimentos, vínculos e desejos que outrora tanto significaram para ti devem ser enterrados.

Deves chorar os teus sofrimentos perdidos para que eles te possam abandonar gradualmente e fiques liberto para viver inteiramente no novo local sem melancolia ou saudade.»



Henri Nouwen, em "A voz Íntima do Amor"

domingo, 30 de março de 2008

Entra na Nova Terra


«Fazes uma ideia do aspecto da nova terra. Contudo, ainda te sentes muito em casa, embora não inteiramente sereno, na tua velha terra. Conheces os seus caminhos, as suas alegrias e sofrimentos, os seus momentos alegres e tristes. Passaste lá a maior parte dos teus dias. Embora saibas que lá não encontraste o que o teu coração mais deseja, manténs-te bastante agarrado a ela, porque se tornou parte integrante de ti.

Agora apercebes-te de que deves deixá-la partir e entrar na nova terra, onde mora o teu Amado. Percebes que o que te auxiliou e guiou na velha terra deixou de funcionar, mas então por onde te deves regular? É-te pedido que confies em que encontrarás na nova terra o que necessitas. Isso exige a morte do que se te tornou tão precioso: influência, sucesso, sim, até mesmo o carinho e o elogio.

É dificílimo confiar, já que não tens onde te apoiar. Ainda assim, confia no que é essencial. A nova terra é o lugar onde és chamado a dirigir-te, e a única maneira de lá entrar é despido e vulnerável.

Parece que estás continuamente a atravessar a fronteira de um lado para o outro. Durante algum tempo sentes-te verdadeiramente feliz na nova terra. Mas depois sentes receio e começas a ter saudades do que deixaste para trás, por isso regressas à antiga terra. Então, descobres consternado que ela perdeu o seu encanto. Arrisca dar mais uns passos na nova terra, confiante de que cada vez que entras irás sentir-te mais confortável e conseguirás permanecer mais tempo.»

Henri Nouwen, em "A Voz Intima do Amor"

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Evita todas as formas de autocensura

Deves evitar não só culpar os outros mas também a ti mesmo. Tens tendência a recriminar-te pelas dificuldades que sentes nos relacionamentos que entabulas. Mas a auto-recriminação não é uma forma de humildade. É uma forma de autocensura, na qual ignoras ou negas a tua própria virtude e beleza. 

Quando uma amizade não floresce, quando uma palavra não é acolhida, quando um gesto de amor não é apreciado, não te censures a ti mesmo, porque isso é falso e doloroso.Sempre que te rejeitas idealizas os outros. Queres estar com os que consideras melhores, mais fortes, mais inteligentes e mais dotados do que tu. Assim, tornas-te emocionalmente dependente, levando os outros a sentirem-se incapazes de satisfazerem as tuas expectativas e a afastarem-se de ti. O que faz com que te censures ainda mais e entres numa espiral perigosa de auto-rejeição e carência.

Evita todas as formas de autocensura. Reconhece as tuas limitações, mas assume as tuas virtudes únicas e começa a viver como um igual entre iguais. Assim libertar-te-ás das tuas necessidades obsessivas e possessivas e darás a ti próprio a oportunidade de dar e receber afecto e amizade verdadeiros.


Henri Nouwen, em "A voz íntima do amor"

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008


Vida Eterna


Se a minha meta é a vida eterna, então essa vida deve ser atingível já agora, onde eu estou, porque a vida eterna é a vidaem e com Deus, e Deus está onde eu estou, aqui e agora.O grande mistério da vida espiritual – a vida em Deus – é que não temos de esperar por ela como algo que acontecerá depois. Jesus diz: «Estai em Mim como Eu estou em vós.» É a presença activa de Deus no centro do meu viver – o movimento do Espírito de Deus dentro de nós – que nos dá a vida eterna.
Seja como for, o que será a vida depois da morte? Quando vivemos em comunhão com Deus, pertencemos à própria casa de Deus, onde não há mais nenhum «antes» ou «depois». A morte deixa de ser a linha divisória. A morte perde o seu poder sobre aqueles que pertencem a Deus, porque Deus é o Deus dos vivos e não dos mortos. Logo que tenhamos provado a alegria e a paz que vem do facto de sermos abraçados pelo amor de Deus, sabemos que tudo está bem e estará bem. «Não tenhais medo», disse Jesus, «Eu venci as forças da morte… vinde morar comigo e ficai a saber que, onde Eu estou, aí está Deus».
Se a vida eterna é a nossa meta, então não é uma meta longínqua. É uma meta que se pode alcançar no momento presente. Quando o nosso coração compreende esta verdade divina, estamos a viver a vida eterna. (os grifos são meus)
Henri Nouwen, em “Aqui e Agora”

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008


Disciplina na Vida Espiritual



A vida espiritual é um dom. É o dom do Espírito Santo, que nos introduz no reino do amor de Deus.
Mas dizer que ser introduzido no reino de Deus é um dom divino não quer dizer que esperamos
passivamente até que o dom se nos ofereça. Jesus nos fala para buscar o reino. Buscar alguma coisa envolve não somente aspiracão séria mas também determinacão forte. A vida espíritual requer esforço humano.(...)

A vida espiritual sem disciplina é impossível. Disciplina é o outro lado do discipulado. A prática de uma disciplina espiritual nos torna mais sensíveis à voz tranquila e suave de Deus. O profeta Elias não encontrou Deus no vento forte nem no terremoto e nem no fogo, mas no cicio tranquilo (1 Rs 19:11-13).

Através da prática de uma disciplina espiritual tornamo-nos sensíveís a essa voz tranquila e prontos a responder quando a ouvimos.(...)

(...) Muitas vezes tornamo-nos surdos, incapazes de saber quando Deus nos chama, incapazes de entender em que direcção nos chama. Desta forma nossas vidas se tornam um absurdo. Na palavra absurdo encontramos a palavra latina surdus, que significa "surdo". A vida espiritual requer disciplina porque precisamos aprender a ouvir a Deus que constantemente fala, mas a quem raramente ouvimos. Porém, quando aprendemos a ouvir, nossas vidas se tornam vidas obedientes. A palavra obediente vem da palavra latinaobaudire, que significa "ouvir". É necessário ter uma disciplina espiritual se quisermos mudar lentamente de uma vida absurda para uma vida obediente, de uma vida cheia de preocupações agitadas para uma vida em que há espaço livre no nosso interior para ouvir o nosso Deus e seguir a sua orientação. A vida de Jesus foi uma vida de obediência. Estava sempre escutando o Pai, sempre atento à sua voz, sempre alerta ás suas direcções.
Jesus era "todo ouvidos". Isto é a verdadeira oração: ser todo ouvido para Deus. O cerne de toda oração é realmente ouvir, permanecer obedientemente na presença de Deus.
Uma disciplina espiritual, portanto, é um esforço concentrado para criar um pouco de espaço interior e exterior nas nossas vidas, onde esta obediência pode ser praticada. Através de uma disciplina espiritual impedimos que o mundo preencha as nossas vidas de tal forma que não haja mais lugar para ouvir. Uma disciplina espiritual nos liberta para orar, ou melhor dizendo, liberta o Espírito de Deus para orar em nós.

Henri Nouwen

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Um Objectivo Claro


Teremos nós um objectivo claro na vida? Para os atletas cujo objectivo é a obtenção da medalha olímpica tudo o resto é secundário. A maneira de comer, dormir, estudar e treinar, tudo é determinado por esse objectivo claro.

Isto é tão verdade na vida espiritual, como o é na vida dos desportistas de competição. Sem um objectivo definido, estaremos sempre distraídos e gastaremos as nossas energias em coisas secundárias. «Tem os olhos postos no prémio», dizia Martin Luther King ao seu povo. O que é o nosso prémio? É a vida divina, a vida eterna, a vida com e em Deus. Jesus propôs-nos essa meta, esse prémio celeste. Disse a Nicodemos: «... Deus amou de tal modo o mundo que lhe entregou o seu Filho para que quem acreditar Nele não pereça mas tenha a vida eterna» (Jo 3, 16).

Não é fácil manter os olhos fixos na vida eterna, especialmente num mundo que continua a dizer-nos que há coisas mais imediatas e urgentes em que concentrar a atenção. Raramente há um dia que não distraia a nossa atenção da meta e no-la faça parecer vaga e nebulosa. Mas, mesmo assim, sabemos por experiência que, sem um objectivo claro, a nossa vida se fragmenta em muitas tarefas e obrigações que nos esvaziam e nos deixam com uma sensação de exaustão e inutilidade.

Como manter então o objectivo claro, como fixar o nosso olhar no prémio? Através da disciplina da oração; a disciplina que nos ajuda a trazer Deus de volta, para o centro da nossa vida, quantas vezes for preciso. Mesmo assim, continuaremos a cair em distracções, continuaremos constantemente ocupados com muitos assuntos urgentes, mas, quando programamos um pouco de tempo e espaço para voltar para Deus que nos oferece a vida eterna, gradualmente chegamos à conclusão de que as muitas coisas que temos que fazer, dizer ou reflectir já não nos distraem, mas, em vez disso, nos conduzem para mais perto da nossa meta. É importante, no entanto, que a nossa meta seja clara. A oração mantém a meta clara e se, porventura, o objectivo se tornar vago, a oração volta a dar-lhe definição.



Henri Nouwen, em "Aqui e Agora"

domingo, 20 de janeiro de 2008

Confia na voz interior


Desejas realmente converter-te? Estás disposto a modificar-te? Ou continuas agarrado ao teu velho modo de vida com uma mão enquanto com a outra pedes aos outros que te ajudem a mudar?

A conversão não é com certeza algo que possas encontrar por ti mesmo. Não se trata de um exercício da própria vontade. Tens que confiar na voz interior que mostra o caminho. Tu conheces essa voz. Ouve-la com frequência. Mas depois de ouvir com clareza o que ela te pede começas a fazer perguntas, a fabricar objecções e a pedir a opinião de todos. Assim deixas-te enredar por inúmeros pensamentos, sentimentos e ideias muitas vezes contraditórias e perdes contacto com o Deus que habita dentro de ti. E acabas por te tornar dependente de todas as pessoas que reuniste em torno de ti.

Só dando constantemente ouvidos a essa voz interior conseguirás converter-te a uma nova vida de liberdade e alegria.


Henri Nouwen, em "A Voz Íntima do Amor"



«Meu primeiro contato com a obra de Henri Nouwen foi através de seu livro "A Volta do Filho Pródigo". Diante da proposta do livro -- tecer uma teia entre o famoso texto do Evangelho de Lucas e a pintura magistral de Rembrandt inspirada no tema --, não foi difícil concluir que se tratava de alguém especial, não tanto por suas conquistas acadêmicas (holandês de origem, experiência nos Estados Unidos como professor em Yale e Harvard), mas por sua profundidade espiritual e visão sensível e honesta da trajetória humana.Com Nouwen, entre muitas lições, tenho aprendido a conviver com minhas fraquezas e fragilidades, com meus medos e incapacidades, com minha imensa sede de Deus, semelhante àquela descrita por Agostinho na oração que abre a sua autobiografia (aliás, a primeira autobiografia de que se tem notícia na história da literatura mundial), Confissões: "O nosso coração não encontra descanso até que descanse em ti". O descanso divino para Nouwen não veio por meio de suas conquistas profissionais. Ele terminou seus dias trabalhando em um lar para pessoas com deficiências físicas e mentais extremas. Vivendo nessa comunidade pequena e frágil, aprendeu a encontrar sentido e propósito para a sua existência. Seus muitos livros atestam que ele encontrou o caminho rumo ao que procurava. Revelam sensibilidade, honestidade, profundidade, espiritualidade, valores que nos são tão caros e ao mesmo tempo se mostram cada dia mais raros. Mas parece ser esse mesmo o caminho: para baixo. "Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte, e morte de cruz!" (Fp 2.5-8). Na sociedade da conquista e da escalada social, na rota para cima, o discurso de Nouwen parece se perder no vazio. A força de sua autenticidade, no entanto, faz com que sua mensagem se torne cada dia mais necessária e relevante. Impossível não lembrar o termo cunhado por Eugene Peterson que define o caminho da sanidade nos círculos religiosos cristãos, ultimamente tão adoentados -- "espiritualidade subversiva". Só algo que seja concebido nas catacumbas romanas de nossa sociedade extremamente consumista e desesperada, e que de maneira sutil brota com indescritível força interior, paradoxalmente demonstrada por meio da fraqueza, será capaz de, como clama Caetano Veloso em sua canção "Podres Poderes", "nos salvar destas trevas e nada mais".» Jorge Camargo, mestre em ciências da religião, é intérprete, compositor, músico, poeta e tradutor. (os grifos são meus)

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Regressa sempre ao caminho para a liberdade



Quando pareces perder repentinamente tudo o que pensavas ter conquistado não desesperes. A tua cura não é linear. Deves contar com reveses e retrocessos. Não digas a ti mesmo: "está tudo perdido. Tenho que recomeçar do princípio". Não é verdade. Não se perde o que já se conquistou.


Há por vezes pequenas coisas que avolumam e te fazem sentir perdido por momentos. A fadiga, um comentário aparentemente frio, a incapacidade de alguém para te escutar, um esquecimento inocente, que se assemelha a desprezo - quando tudo acontece ao mesmo tempo podes sentir que voltaste ao princípio. Mas tenta pensar nesses acontecimentos como num desvio temporário da tua caminhada. Quando regressares ao caminho regressarás ao ponto onde o abandonaste, não ao princípio.


É importante não te demorares nos pequenos momentos em que não progrides. Tenta regressar a casa imediatamente, a esse ponto sólido dentro de ti. Caso contrário esses momentos começam a ligar-se a momentos semelhantes e juntos tornam-se suficientemente poderosos para te afastarem para muito longe do teu caminho. Tenta manter-te atento a distracções aparentemente inócuas. É mais fácil regressar ao caminho quando se está à beira da estrada do que quando se é arrastado para um pântano vizinho.


Em tudo continua a confiar em que Deus está contigo, em que Deus te deu companheiros de caminhada. Regressa uma e outra vez ao caminho para a liberdade.


Henri Nouwen, em "A Voz Íntima do Amor"

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Reconhece-te verdadeiramente amado



Algumas pessoas viveram vidas tão oprimidas que os seus verdadeiros eus se lhes tornaram inacessíveis. Precisam de ajuda para quebrarem essa opressão. O poder para se libertarem tem que ser pelo menos tão forte como poder que as oprime. Por vezes precisam de autorização para explodirem: para deixar vir à tona as suas emoções mais profundas e para se libertarem de forças estranhas. Gemer, gritar, chorar e até mesmo a luta física podem ser expressões de libertação.

Tu não pareces, no entanto, precisar de tais explosões. Para ti o problema não está em retirar qualquer coisa do teu sistema mas sim em incluir algo que aprofunde e fortaleça a tua sensação de virtude e permita que a tua angústia seja abraçada pelo amor.

Descobrirás que quanto mais amor integrares e a ele te agarrares, tanto menos receoso serás. Falarás com mais simplicidade, mais directamente, sem receio das reacções alheias. Usarás também menos palavras, confiante de que comunicas o teu verdadeiro eu mesmo quando não falas muito.

Os discípulos de Jesus tinham uma sensação real da sua presença amorosa qaundo saíam a pregar. Tinham-no visto, comido com Ele e conversado com Ele após a sua ressurreição. Já viviam em profunda relação com Ele e dela retiravam a força para proclamar com simplicidade e sem rodeios, sem receio de serem mal entendidos ou desprezados.

Quando melhor te conheceres - espírito, mente e corpo - como verdadeiramente amado, mais livre te sentirás para proclamar a Boa Nova. Esta é a liberdade dos filhos de Deus.



Henri Nouwen, em " A Voz Íntima do Amor"

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Aceita a tua identidade de filho de Deus



Em especial para o João Eduardo


Ser filho de Deus é a tua verdadeira identidade, que deves aceitar.Quando a tiveres assumido e integrado em ti, poderás viver num mundo que te oferece muito mais alegria, bem como mais sofrimento. Podes receber o elogio e a censura que vêm ao teu encontro como uma oportunidade para fortalecer a tua identidade básica, porque a identidade que te torna livre enraíza para além de todo o elogio ou censura humanas. Pertences a Deus e é como filho de Deus que és enviado ao mundo.

Precisas de direcção espiritual; precisas de pessoas que te mantenham ancorado à tua verdadeira identidade. A tentação de te desligares desse ponto profundo onde Deus habita e te deixares abafar pelo louvor ou pela censura do mundo está sempre presente.

Uma vez que desconheceste durante muito tempo esse local da tua identidade de filho de Deus, os que são capazes de te tocar nesse ponto tiveram um poder repentino e esmagador sobre ti. Tornaram-se parte da tua identidade. Já não eras capaz de viver sem eles. Mas eles não podiam desempenhar esse papel divino, por isso deixaram-te e sentiste-te abandonado. Mas foi precisamente essa experiência de abandono que te fez realizar de novo a tua verdadeira identidade de filho de Deus.

Só Deus pode habitar esse lugar profundo e dar-te uma sensação de segurança. Mas o perigo permanece, se deixares outros roubarem-te o teu cento sagrado, o que te mergulhará na angústia.

Talvez seja preciso muito tempo e disciplina para reconheceres inteiramente o teu ser profundo e escondido e o teu ser público, que é reconhecido, amado e aceite, mas igualmente criticado pelo mundo. Contudo, começarás a sentir-te gradualmente mais ligado e capacitar-te-ás mais cabalmente de quem verdadeiramente és - um filho de Deus. Aí reside a tua verdadeira liberdade.

Henri Nouwen, em "A voz Íntima do Amor"

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Deixa-te ser inteiramente recebido


Em especial para o Pe. Sandro Rogério

Dar-te aos outros sem esperar nada em troca só é possível quando fores inteiramente recebido. Sempre que descobres esperar alguma coisa em troca do que deste ou ficas desiludido quando nada obténs em troca, é um alerta a que compreendas que tu próprio ainda não te sentes inteiramente recebido. Só quando te reconheces incondicionalmente amado - ou seja, inteiramente recebido - por Deus serás capaz de dar de graça. Dar sem pedir nada em troca é confiar em que as tuas necessidades serão satisfeitas por aquele que te ama incondicionalmente.
É confortável saber que não precisas de proteger a tua própria segurança, mas que te podes entregar completamente ao serviço do próximo.

A fé consiste precisamente em confiar que aquele que dá de graça receberá de graça, mas não necessariamente da pessoa a quem deu. O perigo está em te esgotares no serviço ao próximo, na esperança de que eles te recebam inteiramente. Em breve sentirás que os outros levam consigo partes de ti mesmo. Não te podes dar aos outros se não pertences a ti mesmo, e só podes possuir-te verdadeiramente quando fores inteiramente recebido num amor incondicional.

Muito do acto de dar e receber possui uma qualidade violenta, porque os que dão e recebem agem mais por necessidade do que por confiança. O que aparenta ser generosidade é realmente manipulação e o que parece amor é realmente um pedido aflitivo de afecto e amparo. Quando te reconheces como inteiramente amado, serás capaz de dar de acordo com a capacidade alheia de receber, e serás capaz de receber de acordo com a capacidade alheia de dar. Sentir-te-ás grato pelo que te foi dado sem te apegares a isso, e alegre com o que podes dar sem te gabares por isso. Serás uma pessoa livre, livre para amar. (os grifos são meus)


Henri Nouwen, em " Voz Íntima do Amor"

domingo, 6 de janeiro de 2008

Deixa que Jesus te transforme

Andas à procura de Jesus. Tentas encontrá-lo não apenas na tua mente mas também no teu corpo. Buscas o seu afecto e sabes que esse afecto envolve tanto o seu corpo como o teu.Ele encarnou para ti, para que o pudesses encontrar na carne e receber o seu amor na carne. Mas permanece em ti algo que impede este encontro. Continua a haver uma grande quantidade de vergonha e de culpa enraizada no teu corpo bloqueando a presença de Jesus. Não te sentes completamente à vontade no teu corpo; olhas para ele como se não fosse um lugar suficientemente bom, bonito ou puro para encontrar Jesus.

Quando olhas para a tua vida com mais atenção verás como ela tem estado recheada de medos, principalmente de medo daqueles que detêm autoridade: os teus pais, professores, bispos, guias espirituais e até mesmo amigos. Nunca te sentiste igual a eles e humilhaste-te sempre diante deles. Durante a maior parte da tua vida sentiste que precisavas da autorização deles para seres tu próprio. 
Pensa em Jesus. Ele que foi inteiramente livre perante as autoridades do seu tempo. Ele que disse às pessoas para não se submeterem ao comportamento dos Escribas e Fariseus. Jesus viveu entre nós como igual, como um irmão. Ele quebrou as relações piramidais entre Deus e as pessoas humanas, bem como entre as próprias pessoas, e apresentou um novo modelo: o círculo, onde Deus vive em perfeita solidariedade com as pessoas e as pessoas umas com as outras. Não serás capaz de encontrar Jesus no teu corpo enquanto o teu corpo se mantiver cheio de dúvidas e receios. Jesus veio para te libertar desses nós e para criar dentro de ti um espaço onde te possas encontrar com Ele. Ele deseja que tu vivas a liberdade dos filhos de Deus.

Não desesperes, pensando que não és capaz de te modificar após estes anos todos. Penetra simplesmente na presença de Jesus como és e pede-lhe que te dê um coração intrépido, onde Ele possa estar contigo. Jesus veio para te dar um coração novo, um espírito novo, uma mente nova e um corpo novo. Deixa-o transformar-te através do seu amor, permitindo-te, por conseguinte, receber o seu afecto com todo o teu ser.(os grifos são meus)

Henri Nouwen, em A Voz Íntima do Amor

domingo, 4 de novembro de 2007

Assume a vitória


Ainda tens medo de morrer. O medo está relacionado com o receio de não seres amado. As tuas perguntas: «Amas-me?» e «Tenho que morrer?» estão profundamente ligadas. Interrogavas-te quando eras criança e ainda te interrogas.

À medida que te capacitas de seres completa e incondicionalmente amado, também te apercebes que não tens que temer a morte. O amor é mais forte que a morteo amor de Deus já te envolvia antes de teres nascido e permanecerá após a tua morte.Jesus chamou-te desde o momento da tua concepção no ventre da tua mãe. É a tua vocação para receber e dar amor.

Mas sentes desde o princípio a força da morte. Ela atacou-te durante todo o teu amadurecimento. Tens sido fiel à tua vocação, ainda que muitas vezes te tenhas sentido esmagado pelas trevas. Sabes agora que essas forças soturnas não terão nenhum poder final sobre ti. É a vitória de Jesus que te chamou. Ele venceu por ti as forças da morte para que tu pudesses viver em liberdade.

Tens que assumir essa vitória e não viver como se a morte ainda te controlasse. A tua alma conhece essa vitória, mas a tua mente e as tuas emoções ainda não a aceitaram completamente. Continuam a lutar. Neste aspecto continuas a ser uma pessoa de pouca fé. Confia na vitória e deixa que as tuas emoções e a tua mente se convertam gradualmente à verdade. Experimentarás nova alegria e nova paz à medida que deixares essa verdade chegar a cada canto do teu ser.Não te esqueçasa vitória foi conquistada, as forças da morte já não governam, o amor é mais forte do que amorte.

Henri Nouwen, em " A voz íntima do amor"

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