quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Sede Santos


"Deus nos escolheu Nele, antes da criação do mundo para sermos santos e imaculados em sua presença, no amor"."a Santíssima Trindade nos criou a sua imagem de acordo com o exemplar eterno próprio de cada um que Ela possuía em seu seio antes que o mundo existisse", naquele começo sem começo de que fala Bossuet com base em São João; "In principio erat Verbum" (Jo 1,1), "no princípio era o Verbo" pode-se acrescentar: no começo era o nada, porque Deus em sua eterna solidão, já nos trazia em seu pensamento."O Pai contemplasse a si mesmo no batismo de sua fecundidade, e eis que, pelo mesmo ato de se compreender, Ele gera outra pessoa, o Filho, seu Verbo Eterno.O tipo de todas as criaturas, que ainda não tinham saído do nada, residia eternamente Nele, e Deus as via e as contemplava no seu tipo, isto é, em si mesmo.Esta vida eterna que nossos tipos possuem sem nós em Deus, é a causa de nossa criação.

"Nossa essência criada exige o reencontro com seu princípio.O Verbo, esplendor do Pai, é o tipo eterno no qual são desenhadas as criaturas no dia de sua criação.Eis porque Deus quer que, livres de nós mesmos, elevemos os braços para nosso exemplar e que o possuamos, subindo acima de toda as coisas em direção de nosso modelo.Esta contemplação abre horizontes inesperados a alma e ela já possui de certo modo a coroa a que aspira.As imensas riquezas que Deus possui por natureza, nós podemos possuir pela virtude do amor, por sua residência em nós, por nossa residência Nele.É por esta virtude de amor imenso que nós somos atraídos para o fundo do santuário íntimo, onde Deus imprime em nós uma certa imagem de sua majestade.Portanto, é graças ao amor e pelo amor, como diz o Apóstolo, que podemos ser imaculados e santos em presença de Deus e cantar com Davi: "Serei sem mancha e me defenderei da profunda iniqüidade que está em mim".

Segunda oração.

"Sede santos porque eu sou santo".É o Senhor quem fala assim."Qualquer que seja o nosso modo de vida ou o habito que nos cobre, cada um de nós deve ser o santo de Deus.Quem é, pois, o mais santo?É aquele que mais ama, aquele que mais olha para Deus e que atende mais plenamente as exigência de seu olhar".Como satisfazer as exigências do olhar de Deus, senão mantendo-se simples e amorosamente voltado para Ele, afim de que Ele possa espelhar sua própria imagem, como o Sol se espelha através de um puro cristal."Façamos a nossa imagem e semelhança: Tal foi o grande desejo do coração de Nosso Deus"."Sem a semelhança que vem da graça, a condenação eterna nos espera.Desde que Deus nos vê capazes de receber sua graça, sua livre bondade está pronta a nos dar o dom que nos assemelha a Ele.Nossa aptidão para receber sua graça depende da integridade interior com a qual no movemos para Ele.E Deus, comunicando-nos seus dons, pode então dar-se a nós, imprimir em nós sua semelhança, absolver-nos e libertar-nos".

"A mais alta perfeição nesta vida, diz um piedoso autor, consiste em ficar de tal modo unido a Deus, que a alma com todas as suas faculdades e suas potências fique recolhida em Deus; que suas afeições unidas nas alegrias do amor não encontrem descanso senão na posse do criador.A imagem de Deus imprensa na alma é com efeito constituída pela razão, pela memória e pela vontade.Enquanto estas faculdades não trazem a imagem perfeita de Deus, elas não se assemelham a Ele como no dia da Criação.A forma da alma é Deus, que deve imprimir-se ai como o carimbo na cera, como a marca em seu objeto.Ora, isto só se realiza plenamente se a razão estiver plenamente esclarecida pelo conhecimento de Deus; se a vontade estiver presa ao amor do Bem soberano; se a memória estiver totalmente absolvida na contemplação e no gozo da eterna felicidade.E como a glória dos bem-aventurados não é outra coisa senão a perfeita posse desse estado, fica claro que a posse começa desde bens constitui a perfeição nesta vida.Para realizar este ideal, é preciso manter-se recolhido dentro de si mesmo, manter-se em silêncio na presença de Deus, enquanto a alma se abisma, se dilata, se inflama, se derrete Nele com uma plenitude sem limites".

.Fonte: Elisabete da Trindade - Obras completas

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